31/03/2023 - economia-e-financas

Canal do Panamá: A disputa entre os Estados Unidos e o Panamá Como funciona e porque é tão relevante para o comércio internacional?

Por agustin cattaneo

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O QUE É O CANAL DE PANAMÁ?

O Canal do Panamá é uma via de navegação marítima artificial construída entre o extremo leste do Oceano Pacífico e o Mar Caribe, que atravessa o acidente geográfico que supõe o Istmo do Panamá. A obra inaugurou-se no dia 15 de agosto do ano 1914, sendo considerada como um dos maiores trabalhos da engenharia do século XX, a partir de que permite cortar os custos operacionais, as distâncias e o tempo que supõe a tarefa de cruzar maricamente do Oceano Atlântico para o Pacífico, e vice-versa. Independentemente de suas sucessivas expansões ao longo dos anos, calcula-se que, aproximadamente, são necessárias apenas entre oito e dez horas para concretizar a encruzilhada que supõe transitar de um ponto para outro. Em relação ao seu funcionamento operacional, o processo é realizado através da utilização de esclusas localizadas aos extremos da rota. O propósito das mesmas consiste em formar um recinto de comportas funcionais, em aras de que os navios consigam transitar a passagem de um ponto para outro onde se divisa uma diferença em termos de profundidade marítima.

PORQUÉ RESULTA RELEVANTE PARA O COMERCIO INTERNACIONAL?

Desde o seu alargamento em 2016, o Canal do Panamá não deixa de surpreender com suas estatísticas, consolidando-se como um dos pontos geoestratégicos de maior preeminência a nível mundial. Em primeiro lugar, estima-se que apenas para o seu alargamento se utilizou uma quantidade de concreto como para construir 2,2 pirâmides de Keops e 22 Torres Eiffel[1]. A obra majestosa requereu o trabalho em conjunto de mais de 10.000 pessoas, acumulando um investimento total até à data – incluindo tanto a sua construção como as suas amplas – de mais de 5450 milhões de dólares.[2].

Os resultados estão à vista. Para o ano de 2019, como reflexo de sua ampliação e consequentes melhorias, a atividade mercantil inerente ao Canal representa per se 6% da massa total do comércio internacional no mundo, vendo-se plasmada em 0,6% do PIB do Panamá[3]. Nesse ano calendário, registaram-se no balanço contabilístico ganhos totais por US$ 3.365 milhões. Esta é a magnitude das operações comerciais realizadas, que só se vê superada sua atividade pelo Canal de Suez em escala global.

O QUE ÉNES LO ADMINISTRAN E COMO O HACEN?

A administração e gestão do Canal do Panamá se viu inmiscuida de antigamente em uma disputa política entre os Estados Unidos e o Panamá, que acarreta em seu percurso mais de cem anos de discussão. Antes mesmo da inauguração oficial do Canal do Panamá, em 1914, para 1903 se impôs a assinatura do Tratado Hay-Bunau Varilla pelos Estados Unidos, o qual estabeleceu as bases legais para que a nação norte-americana reclamasse como própria a totalidade dos direitos concernentes à manutenção, gestão, exploração e defesa do Canal nos anos vindouros. As fricções sociais e políticas que ocorreram ao longo do tempo[4] para 1977, foram assinados em conjunto – após longas rondas de negociação – o Tratado Torrijos Carter, em honra aos chefes de Estado de ambas as nações[5].

O referido tratado significou um momento bisagra na história, sentando assim as bases ambiente a como se administraria o Canal do Panamá de face à contemporaneidade. Como preâmbulo e ponto de maior relevância, o Tratado tem como objetivo reconhecer, finalmente, a soberania da República do Panamá sobre o Canal homônimo, entendendo o mesmo como parte de seu território. Nesse sentido, os EUA comprometeram-se a pôr em vigor uma série de condições a partir de 31 de Dezembro de 1999. No dia da data, o Panamá é reconhecido como o soberano territorial do Canal do Panamá, dotando os Estados Unidos da concessão de ser o encarregado de “manejar, operar e manter o Canal do Panamá, suas obras, instalações e equipamentos auxiliares e de prover o necessário para o trânsito fluido de naves”, conforme indica o artigo III do reiterado tratado. A agência americana instituída para sua gestão deve ser a Comissão do Canal do Panamá.

Em termos de segurança, a protecção e defesa da rota marítima acima referida foi estipulada como uma concorrência em conjunto por ambas as nações. Nesse sentido, caso ocorra uma ameaça armada ou qualquer cofacção que atente com a atividade inerente ao Canal deve ser repelido pelas forças armadas de ambos os Estados de forma coordenada e conjunta. Em matéria de requisição fiscal e receitas estatais aduaneiras, o Panamá é responsável pela cobrança de impostos, devendo receber trinta centésimos de dólar americanos por cada tonelada líquida do Canal do Panamá, complementado por anualidades estabelecidas junto com a Comissão do Canal do Panamá, em virtude dos custos operacionais efectuados.

O QUE CONCLUSÕES OBTENMOS?

O comércio do Canal do Panamá é de alto nível de relevância a nível mundial, significando um ponto de trânsito que une o Oceano Pacífico com o Atlântico. Sua proliferação encarou a criação de milhares de postos de trabalho e investimentos milionários na área regional, representando um dos pontos geoestratégicos mais relevantes no mundo em matéria de comércio externo. A sua principal utilidade e valor acrescentado reside na redução substancial dos custos operacionais decorrentes da troca de bens por via marítima para os navios mercantes que transitem as suas águas.

Em sua administração eace uma disputa política de longo percurso histórico entre os Estados Unidos e a República do Panamá, a qual decantou na celebração do Tratado Torrijos-Carter as bases e condições de quais devem ser as responsabilidades e atribuições que cada uma das duas partes pode interpelar à hora da gestão do mesmo. Embora, a partir do referido tratado, os Estados Unidos cedeu a soberania nas mãos do Panamá – bem como a capacidade de cobrança de imposto –, a nação norte-americana continua presente na qualidade de gestor e supervisor do Canal, sendo também um dos Estados encarregados da defesa e proteção da via marítima de troca comercial.

[1] Dados obtidos das pesquisas do escritor para o jornal El País de Espanha, Ramón Muñoz (2016).

[2] Dados obtidos do relatório do ano 2016 elaborado pela equipe de pesquisa da Revista Forbes (2016).

[3] Relatório de Cecilia Barría, especialista em Comércio Internacional da BBC (2019).

[4] Somado a um contexto de Guerra Fria e a política externa de Jimmy Carter de atenuar a vertente comunista proposta no marco da América Central.

[5] Omar Torrijos foi o então máximo oficial das forças armadas do Panamá e posterior ditador no marco da administração nacional panamenha; enquanto Jimmy Carter foi o trigésimo nono presidente dos Estados Unidos, representante do Partido Democrata dos EUA.

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agustin cattaneo

agustin cattaneo

Sou licenciado em Relações Internacionais da Universidade do Salvador. Por sua vez, terminei meu mestrado em Política e Economia Internacionais na Universidade de San Andrés em 2022, restando apenas a apresentação de minha tese. Eu me desempenho como Assessor Profissional em Comércio Exterior no marco da Secretaria de Indústria e Desenvolvimento Produtividade da Nação Argentina. Assessoro a empresas argentinas em matéria de Comércio Internacional, promovendo políticas de prevenção de práticas desleais tais como o dumping internacional, as subvenções estatais e as elusões. No passado, trabalhei como consultor contabilístico no Ministério da Segurança da Nação e recebi duas bolsas no estrangeiro, sendo uma em Itália e outra na China.

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