A Argentina finaliza 2025 com uma estabilização crucial em suas principais variáveis macroeconômicas: inflação controlada, taxa de câmbio estabilizada e ordenamento das contas públicas. Essa conquista é fundamental, pois estabelece a base para uma maior previsibilidade para o próximo ano.
Embora a estabilização tenha acarretado certas consequências positivas e negativas no âmbito social, deve-se entender que uma macroeconomia ordenada é uma condição necessária, mas não suficiente para que a economia cresça de forma sustentada e que esse crescimento se traduza em uma melhoria perceptível no poder de compra dos cidadãos.
Poderíamos afirmar que a estrutura macroeconômica estabelecida pelo governo de Javier Milei é, em termos gerais, "sólida". No entanto, essa solidez está condicionada ao compromisso de realizar reformas estruturais profundas, substituindo marcos normativos antigos por esquemas modernos. Dado o contexto político favorável do partido governante no Congresso, é imperativo aproveitar ao máximo a oportunidade, buscando alianças para alcançar os consensos necessários que permitam realizar democraticamente as reformas que a economia local precisa para sair do estagnamento dos últimos anos.
O Eixo das Reformas Estruturais
As reformas essenciais para destravar o crescimento econômico local não podem ser isoladas, mas devem ser concebidas como um pacote único e integrado. A implementação de uma reforma sem as outras duas pode diluir seu impacto ou, pior ainda, agudizar os problemas iniciais.
As três reformas interdependentes são: Reforma Trabalhista, Reforma Previdenciária e Reforma Tributária.
1. Reforma Trabalhista: Modernização para a Produtividade
O conceito de reforma trabalhista na Argentina muitas vezes é percebido de forma negativa em certos setores sociais. No entanto, uma análise rigorosa deve focar não na eliminação de direitos adquiridos, mas na flexibilização e modernização dos contratos de trabalho.
As leis trabalhistas em vigor datam de contextos econômicos passados e são inadequadas para a economia mundial atual, marcada por avanços tecnológicos e mudanças na capacidade e na forma de produzir. Operar com um marco legal desatualizado (ilustrado pela analogia de trabalhar com um sistema operacional obsoleto) impede aproveitar as ferramentas modernas, o que inevitavelmente gera menor produtividade e ineficiência.
A reforma deve se orientar para gerar incentivos para o empregador, estimulando a criação de mais empregos formais. Sob a Lei de Oferta e Demanda, o aumento do emprego formal e a maior demanda por trabalho levarão a melhores salários. Um sistema trabalhista flexível permitiria que 50% dos trabalhadores atualmente informais se registrassem, garantindo-lhes o gozo de seus direitos (plano de saúde, 13º salário, férias, entre outros) e, crucialmente, suas contribuições ao sistema previdenciário.
2. Reforma Previdenciária: Sustentabilidade e Justiça
O Sistema Previdenciário (ANSES) encontra-se estruturalmente quebrado, com salários de aposentadoria muito abaixo da média. Atualmente, é financiado não apenas com as contribuições dos trabalhadores formais, mas também com impostos gerais como IVA, Imposto de Renda, imposto sobre débito e crédito, entre outros.
A Reforma Trabalhista tem um impacto positivo indireto no sistema previdenciário ao aumentar a base de contribuintes. No entanto, uma Reforma Previdenciária direta deve complementar esse efeito para garantir a sustentabilidade a longo prazo e a melhoria dos benefícios de aposentadoria.
Uma reforma previdenciária rigorosa deve contemplar:
Diversificação de Fontes de Financiamento: Reduzir a dependência de impostos distorcivos (como o IVA) e otimizar a arrecadação de contribuições diretas.
Ajuste de Parâmetros de Sustentabilidade: Avaliar e, se necessário, ajustar parâmetros como a idade de aposentadoria ou os anos de contribuição, alinhando-os com a expectativa de vida atual e as tendências demográficas
· Sistema previdenciário Misto: No qual uma parte dos salários é de responsabilidade do Estado com o que arrecada e outra parte é capitalizada pelos aportes ao longo da vida da pessoa em diferentes instrumentos financeiros e faz parte de sua aposentadoria. (Esse sistema é utilizado em Países Baixos, Suécia, entre outros).
Redesenho da Fórmula de Mobilidade: Estabelecer uma fórmula de ajuste de benefícios que seja sustentável fiscalmente, proteja o valor real da aposentadoria e evite o atual desfinanciamento ou a necessidade de correções discricionárias.
Com a Reforma Trabalhista aumentando as receitas do sistema, uma Reforma Previdenciária bem projetada permitiria que os aposentados recebessem salários superiores aos atuais.
3. Reforma Tributária: Simplificação e Estímulo Produtivo
Finalmente, a Reforma Tributária deve ser o corolário das duas anteriores. Com um mercado de trabalho formal revitalizado e um sistema previdenciário mais sólido, o governo (em seus três níveis: Nacional, Provincial e Municipal) deve reduzir os impostos que impactam direta ou indiretamente no mercado de trabalho e na produtividade.
Os objetivos desta reforma devem ser:
Redução de Custos Trabalhistas: Diminuir as cargas sociais e impostos sobre o trabalho para reduzir o custo de empregabilidade.
Estímulo ao Investimento: Reduzir impostos sobre a produção e o investimento para gerar uma redução nos custos de produção.
Impacto Deflacionário: A redução dos custos operacionais e de empregabilidade será transferida para uma redução no nível de preços de bens e serviços, melhorando o poder de compra da população.
Conclusão e Papel do Estado
Se essas três reformas inter-relacionadas forem realizadas de maneira integral, a economia argentina poderia crescer significativamente, resultando em um melhor padrão de vida para todos os cidadãos: menos impostos, maior produtividade, mais investimento genuíno e melhores salários.
Do ponto de vista fiscal, o Estado experimentaria uma menor arrecadação direta devido à redução de impostos. No entanto, também teria menores compromissos sociais derivados da pobreza e da informalidade. O papel do Estado deve se transformar, permanecendo unicamente com um papel regulatório eficiente no mercado e um papel intervencionista focado nos setores sociais mais vulneráveis, oferecendo apoio monetário e ferramentas sociais que lhes permitam, em última instância, depender de si mesmos.

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