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Quem inventou os símbolos de status?

Por lorena herrera

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Quem inventou os símbolos de status?

Há milhares de anos, o sucesso era demonstrado caçando ou ganhando guerras. Se você matasse mais animais ou vencesse mais inimigos, todos saberiam. - As comunidades eram pequenas.

Mas as sociedades cresceram.

Já não eram todos que presenciavam suas vitórias, nem você podia contá-las uma a uma. Então nasceram os símbolos: capazes de concentrar o sucesso em um único gesto ou objeto.

Um símbolo não é apenas um objeto ou gesto. É uma forma de comunicar sem falar. Resume uma história, uma posição, um poder. Nele se concentra o que você fez para que os outros entendam com apenas olhar.

Um símbolo permite que o sucesso viaje, mesmo quando você não está presente.

Assim, o sucesso que um dia foi caçar ou ganhar guerras passou a se concentrar nos símbolos. Já não era necessário explicitar o status: sinais visíveis — como roupas limpas — cumpriam essa função.

Como observa Veblen em “A Teoria da Classe Ociosa”, a limpeza sugeria que você não trabalhava, nem tinha tido que fazê-lo. Apenas alguém bem-sucedido poderia viver assim.

As roupas desconfortáveis também comunicavam isso: você não está trabalhando, nem vai fazê-lo.

Quanto mais limitam o movimento, mais eficazmente comunicam que se pertence à classe ociosa.

Aprender um idioma, viajar ou tocar um instrumento se tornaram novas formas de dizer que você tem tempo livre, e que apenas quem tem sucesso pode se permitir isso.

Todos esses símbolos convergem para o mesmo: o tempo livre, a prova silenciosa do sucesso.

Esse fenômeno também se manifestou nos gestos e acabou sendo codificado nos modos.

Comer com talheres, por porções e, precisamente por tempos, sugere algo mais que educação: sugere tempo livre.

Como apontam Health e Potter em “The Rebel Sell”: os modos não consistem apenas em saber comer, mas em transmitir a sensação de não ter fome.

É o corpo dizendo o mesmo que as roupas limpas: “tenho tempo, e não tenho pressas”.

Milhares de anos depois, continuamos a usar os símbolos como uma bússola do sucesso. Já não caçamos animais nem mostramos troféus: publicamos viagens, praticamos pilates, consumimos matcha ou meditamos.

Mesmo quando o conteúdo é tênue, a forma mantém sua eficácia como sinal.

Porque o símbolo - mesmo vazio - continua funcionando.

Assim, não existe uma pessoa que “inventou” os símbolos de status: são uma resposta à pressão de demonstrar sucesso em sociedades cada vez maiores.

Para Norbert Elias, os símbolos civilizam: regulam impulsos e marcam quem pertence ao centro e quem à periferia. Para Veblen, os símbolos exibem: mostram ócio, consumo e poder. Para Bourdieu, os símbolos classificam: são a linguagem com a qual a sociedade traduz a diferença em hierarquia.

No final, os símbolos não apenas comunicam quem parece bem-sucedido; também moldam incentivos. Funcionam como sinais caros: práticas cujo valor reside no fato de que nem todos podem assumi-las. Mas não são uma verdade absoluta. Os sinais podem ser exagerados, simulados ou financiados a crédito. O símbolo mostra intenção, não necessariamente solvência.

Do ócio visível que Veblen descrevia ao capital cultural de Bourdieu, cada gesto opera como um investimento estratégico em reputação. Esse processo gera um pequeno mercado de reconhecimento, onde o preço é pago em tempo, consumo conspícuo ou refinamento. E como em todo mercado, produz suas próprias externalidades: o que um exibe redefine o que os outros devem mostrar.

Por isso os símbolos sobrevivem mesmo quando parecem vazios. Porque mais que adornos, são mecanismos com os quais as sociedades distribuem prestígio, aspiração e hierarquia. Mudam os objetos, mudam as modas, mas não a lógica: na economia do status, os símbolos continuam sendo a moeda mais estável, embora nem sempre a mais verídica.

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lorena herrera

lorena herrera

Olá, chamo-me Lorena, sou licenciada em Economia, obtendo treinamento referente à gestão de capital. Empreendedora, reflexiva e interessada em temas vinculados à Inclusão Financeira.

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