Quando perdemos com a Alemanha, aquela fatídica tarde de 2014 no Brasil, senti que algo havia quebrado para sempre. Já nada era o mesmo depois daquele partido. O futebol era diferente, diferente. A relação com a Seleção Argentina estava abatida. A ilusão tinha sido tão grande, que a derrota fez ao golpe muito mais forte. A desazón era total. Mario Götze, ao minute 113 do partido, nos arrebatou o sonho de um guantazo. A Argentina perdia a Final do Mundo contra a Alemanha, e Messi, junto a todo um país, ficaria com as mãos vazias e os olhos vermelhos e águados pelo choro. Quanto dor...
Dizem que o primeiro amor não se esquece, que dura para sempre. As lembranças mais bonitas e os não tão lindos. As vitórias e as derrotas. As façanhas. Tudo. Aquela seleção, para muitos, foi o primeiro amor. E durará para sempre. Os anos seguintes quisemos tentar novamente, mas não funcionou. Deixamos entrar nos de fora e a relação piorou. Fizemos o duelo. Até que um dia, decidimos voltar a confiar. Creríamos que já não era possível, que não faria sentido. Acreditaríamos que nada poderia curar a ferida de 2014. Mas a vida demonstra que sim, que as dores se curam, que as feridas curam, e que o futebol dá revancha.
Este Domingo 18 de dezembro, no Estádio Lusail, a Argentina jogará sua sexta final do mundo, contra a França. Depois de ter superado a fase de grupos e derrotando em eliminação direta à Austrália, Países Baixos, e Croácia, a Argentina volta à final do torneio mais importante. E chega de menor a maior: da estreia para o esquecimento com a Arábia Saudita a 3-0 e showtime Lionel Messi contra a Croácia. Com aparições destacadas como Julián Álvarez, Alexis Mac Allister e Enzo Fernández, a Selecção propõe muito mais do que um destelo de individualidades: é uma equipe. E tudo é sempre mais do que a soma de suas partes.
Do outro lado estarão os franceses. Últimos campeões do mundo e com um plantel repleto de figuras. Embora tenham sofrido as baixas de Kanté, Pogba e nem mais nem menos que Karim Benzema, entre outros, puderam substituir essas ausências com figuras como Wesley Fofana (Chelsea), Olivier Giroud (AC Milão), ou a grande aparição: Aurélien Tchouaméni (Real Madrid). A Equipa de Didier Deschamps buscará fazer história e subir ao palmarés do Brasil e Itália, até hora, as únicas duas seleções que foram campeãs do mundo de forma consecutiva. Os Tanos foram os primeiros a fazer conquistando os títulos de 1934 e 1938, enquanto a Canarinha Ele fez isso. 1958 e 1962.
A vida dá segundas oportunidades e o futebol lhe dá revanchas. Dessa forma funciona e assim são as voltas da vida. Tudo chega e tudo volta, sempre. O Mundial passado Argentina retirou-se em Octavos de Final após ter perdido 4-3 frente à França, que depois se consagraria no título frente à Croácia, rival que a Argentina sofreu naquela fase de grupos perdendo 3-0 e que há alguns dias a venceu em semifinais por esse mesmo resultado. Tudo muito louco. Tudo muito futebol.
Este Mundial pareceria girar em torno de Messi, por ser, possivelmente, sua última participação, sua última oportunidade de levantar o troféu dourado com a Argentina, sua última dança. Mas, assim e tudo, os números justificam as razões: leva 5 gols e 9 participações nos 12 tantos da Seleção Argentina. É, até agora, o que mais chances criou (18), que mais lhe fizeram faltas (20) e o que mais assistiu (3). Mas há algo que as estatísticas não podem comprar: sua magia. O capitão argentino está em um dos melhores momentos de sua carreira. Como aquele pibe de vinte e dois que nos fez para nos fazer do poltrona uma infinidade de vezes, depois de deixar alguns rivais no chão ou tontos por essas fintas de habilidade cada vez que seu pé esquerdo se conecta com a bola. Está igual. Intacto. Com mais barba e algumas rugas, é possível, mas um talento extraordinário não digno de um tipo com 35 anos. Só ele. Da mesma forma, há um jovem francês, que, também com seu talento, faz força para desviar aquele giro e levar as câmaras a seu favor: Kylian Mbappé. Companheiro de Leo em Paris, Kylian parece já ser o sucessor da era Messi-Ronaldo. Velocista por natureza, este menino tem aquele algo. As capacidades alucinantes e o potencial temível. Somado a que é vencedor nato, com apenas 23 anos vai em busca de sua segunda Copa do Mundo e quer ser o vilão do filme dirigido por Lionel Scaloni.
Para aqueles que sabem e são especialistas ficarão os monólogos estragistas. O futebol é muitas vezes imprevisível e uma Final do Mundo ainda mais. Parará o técnico 4-4-2?, Ou será 4-3-1-2?, entrará Lisandro Martínez para formar linha de 5?, o que acontecerá com Di Maria? Só o técnico sabe. Depois, o partido pode ser resolvido por um detalhe impensado ou por uma mecânica trabalhada, como aqueles que dizem. Mas a verdade é que a Argentina vai ultrapassar toda tática e regra possível, tendo um jogador mais à sua disposição: as pessoas. Já confessaram os holandeses e também os croatas. É intimidante. São mais de 50.000 os argentinos no Qatar - o estádio tem uma capacidade de 88.000 -, o que dá um número que nos coloca como locais, sem objeção alguma.
Até aqui chegam as minhas palavras. Já não há muito mais. Os nervos percorrem meu corpo há dias. A ansiedade também. O medo aparece esporadicamente, então vai. Mas há algo que esteve sempre e é a confiança. Esta equipe nos representa a todos. Vamos à guerra com eles se for necessário. Seja a França de Deschamps ou de Napoleão, esta equipe não vai nos deixar jogados. Disse-lhe o capitão Messi. Só peço ao futebol e a Deus, que seja justo, que seja para a Argentina, que seja para Lionel. Esforço de cair e levantar-se, de superação, de disciplina, de amor à camiseta. Isso é Messi e isso é este plantel combatiente que nos defende no Qatar e que o fará no Domingo como nunca antes. A Argentina mais unida que nunca e que nos julgue a história: 18/12/2022.
ARGENTINA!
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