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Poor Things: semelhanças de um Frankenstein feminista

Por lucia lago krummer

Poor Things: semelhanças de um Frankenstein feminista

Com a estreia do filme Por Things(Pobres Criaturas, 2023) dirigido por Yorgos Lanthimos e estrelado por Emma Stone, Mark Ruffalo, Rammi Yussuf e Willem Dafoe, o interesse pela novela homônima do escritor escocês Alasdair Gray cresceu exponencialmente. Com um estilo audacioso e disruptivo, o autor consegue descrever e ridicularizar a sociedade vitoriana através da sátira e do humor. 


Bella Baxter é uma jovem escocesa com sotaque do norte da Inglaterra que se comporta, literalmente, como uma menina. Quando Archibald Mccandless, um jovem médico escocês, chega à casa de Godwin Baxter, um estranho médico que conheceu na Universidade, ele se depara com Bella Baxter e se apaixona perdidamente por essa jovem excêntrica. É através deste personagem que conheceremos a história de quem foi para ele o grande amor de sua vida.


Nas páginas seguintes, Baxter conta a Mccandless sobre a história de Bella. Acontece que sua mãe, Victoria Blessington, decidiu tirar a própria vida pulando de uma ponte. Baxter encontrou o corpo da jovem Victoria, que estava em um estado avançado de gravidez. 


Em vez de salvar a mãe, Goodwill Baxter decide respeitar a vontade da jovem de abandonar este mundo e coloca o cérebro do bebê no corpo de Victoria. Assim, o corpo da mulher viverá através da alma de sua filha. 


A priori, a premissa desta novela se assemelha muito à trama de Frankenstein ou o moderno Prometeu, escrita por Mary Shelley e publicada em 1818. No entanto, ao dilema ético e moral sobre os avanços científicos e tecnológicos - afinal, o nome do personagem do inventor Goodwill Baxter faz referência ao poder divino de criar e tirar vida - se somam os conflitos e tensões próprios de um Reino Unido marcado pela colonização e imperialismo britânicos. 


A viagem que Bella Baxter realiza com seu pretendente Duncan Wederburn por várias metrópoles - Alexandria, Paris, Odessa - a ajuda a compreender o sofrimento dos povos indígenas às mãos dos anglosaxões, aparentemente seres superiores segundo vários interlocutores com os quais Bella Baxter se encontra durante sua travessia. 


A origem escocesa de Godwin Baxter e Mccandless é relevante para a obra de um autor que sempre busca enfatizar o jugo que os escoceses sofreram por parte do Reino Unido. 


Esse contraponto entre Escócia e Inglaterra é observado perto do final da novela, quando o General Blessington, marido da jovem Victoria, mãe d Bella Baxter, aparece para recuperar sua esposa. 


Através de uma série de argumentos, Bella volta a Glasgow com God e Mccandless em um desfecho final que sela a vitória do jovem médico escocês sobre o aclamado oficial colonial britânico. 


Mas no epílogo desta novela encontramos uma carta escrita por Victoria Mccandless explicando sua verdadeira história. Como ao invés de ser resgatada por Baxter, ela selou seu destino ao se apresentar voluntariamente na Escócia. Independentemente da versão que escolhemos acreditar (a de Mccandless ou a de Bella/Victoria), o certo é que a jovem se torna enfermeira e depois médica, desafiando todas as convenções da época vitoriana. 


Em suma, esta belíssima novela nos adentra no mundo surreal da Escócia vitoriana, com seus conflitos sociais e políticos com o Império. 

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lucia lago krummer

lucia lago krummer

Sou estudante de Relações Internacionais e Ciência Política na Universidade de Belgrano. Sou apaixonada por questões relacionadas com a política internacional, a Diplomacia e os Direitos Humanos.

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