Desenhar planos em nossa mente é um esporte em que todos parecemos ser especialistas. Ir para tal lugar, fazer tal coisa, provar tal outra, inúmeras possibilidades nas quais podemos regozijar-nos durante horas imaginando todos os seus detalhes e o bem que vamos passar com aqueles que sairmos. No entanto, ainda resta a parte complicada sem a qual, a simples vista, nenhum plano poderia se concretizar, ou seja, coordenar com nossos convidados. Às vezes todos podem e não há muito que organizar, por vezes (quase sempre) ninguém coincide com os horários e o plano, triste e inevitavelmente, acaba desvirtuando. Em suma, concretizar saídas com amigos nem sempre sai bem; no entanto, ainda é possível pensar outro tipo de planos que incluam um só convidado: nós mesmos.Salir é só uma arte e pode ser um desafio para aqueles que costumam sair com outras pessoas, ou seja, a maioria de nós. Afinal, "somos seres sociais por natureza", frase harto repetida e consideravelmente certa. Onde sair sozinhos? Quanto tempo vamos poder desfrutar da nossa própria empresa sem sentir a ansiedade de nos refugiar nos nossos celulares? A arte de sair sozinhos pode supor infinitas perguntas, mas, com elas, um vasto espaço de criação para aprender a conhecer a nós mesmos e compreender nossos limites e possibilidades. Em seguida, um breve guia para sobreviver a uma saída a sós.
Experimentar a própria presença
Ainda me lembro de um dos meus primeiros planos sozinha. Tinha saído de compras um dia quente e me antojava tomar um suco de laranja o mais frio possível, então entrei em um café, tomei assento numa mesa para quatro e pedi-o. O moço, como é de se esperar, me perguntou se estava esperando alguém mais e contestei que não (talvez o mais gratificante de sair só é que nunca há que esperar a ninguém). Eventualmente, comecei a olhar para o meu redor e notei que todo mundo tinha companhia. “E agora com quem falo?”, perguntava-me. Rapidamente agarrei o meu celular e abri o Instagram, essa rede social tão viciante que só se torna aborrecida em duas ocasiões: quando estamos numa sala de espera e quando saímos para merendar sozinhas. “Eu me teria trazido um livro”, pensei (sim, o melhor amigo para fazer planos sozinhos é um livro). Chegou o meu pedido e saquei uma foto apurada, com vergonha de que os outros comemsais me mirem (não, ninguém está olhando, a ninguém se importa). Eu sofro o meu suco, que eu acompanhei com duas meia-lunas, e olhei para o horizonte até pedir a conta.O mais difícil de fazer planos sozinhos é a desesperada e quase sempre fracassada busca de estímulos externos. Mensagens, redes sociais, pessoas perto do nosso, algo para fazer com que nos ofereça distração frente ao que realmente está acontecendo. É que não há nada mais complicado que experimentar nossa própria presença, especialmente nos tempos que correm. Fazer planos sozinhos é uma arte porque o que estamos fazendo não é sair para nos distrair, mas, pelo contrário, para estar mais presentes do que nunca. Uma espécie de meditação, mas divertida: observamos o que acontece, ouvimos, sentimos, e através dessa presença aprendemos a desfrutar da nossa própria empresa, em planos que normalmente fazemos com outras pessoas.Apostar pelos nossos gostos
Fazer planos sozinhos é uma excelente oportunidade para sair da nossa zona de conforto, mas não necessariamente temos que sair correndo do estreito espaço de nosso conforto se não nos sentirmos agradavelmente com isso. Uma boa recomendação para se iniciar na arte de sair sozinhos é escolher planos que respondam aos nossos gostos pessoais e ao que realmente gostamos de fazer, acrescentando o condimento de que desta vez vamos prescindir da companhia de alguém mais. Por outras palavras, podemos levantar sair sozinhos como uma experiência que aponta para descobrir o quão bem nos levamos connosco, sem a necessidade de nos forçar a nos colocar em lugares que não nos agradam.Um plano conosco pode envolver simplesmente sair a tomar um café, mas se estar sentado numa mesa sozinha desperta ansiedades e nervosismos, uma boa opção para começar pode ser sair a caminhar ouvindo música, ou nos tender um cobertor num parque e nos levar um livro, ou talvez sair de compras. O melhor destes planos é que não dependemos de mais ninguém para executá-los, o que amplia as margens de liberdade para projetar saídas que realmente nos divirtam.Fazer planos sozinhos para fazer planos com outros
Convivir com a nossa presença, estar a gosto a sós realizando uma atividade que gostamos, as oportunidades que nos oferece o mero fato de sair sozinhos a tomar um café ou a olhar um filme no cinema são consideravelmente numerosas. Se há algo que aprendi fazendo planos sozinha é que, a partir da experimentação dessa classe de planos, a experiência de sair com outras pessoas muda radicalmente. O conseguir sentir-se totalmente presente num plano solitário possibilita que desfrutemos com a mesma presença das conversas com nossos amigos, sem a necessidade de ver histórias nas redes sociais com outras pessoas e outros planos, enquanto nosso próprio plano está se desenvolvendo.A arte de sair é infinitas anedotas para contar às pessoas com as quais nos encontramos, muitas questões de conversa que vão tornar muito mais interessante a experiência que temos em matéria de saídas. De fato, fazer planos sozinhos pode ser o mais comum do mundo quando um consegue se acostumar a não depender da confirmação de alguém mais. Se não pudermos coincidir sempre com os outros, a oportunidade de coincidir com nós mesmos está à volta da esquina.Deseja validar este artigo?
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ethel rosso
Psicóloga (MN 81203). Buenos Aires.
Eu gosto de fazer ioga, ler e passear muito. Às vezes escrevo, porque sou muito curiosa.
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