Flavia Calise (1992, Buenos Aires) é poeta e performer. Publicou, entre outros livros, Beso as flores antes de as tirar (2018), O que é a ternura? (2019), A violência de uma estátua (2020), e seu último livro Enquanto te chamo de design meu túmulo (2021) que inclui os seus três primeiros livros Diário em Carmesí (2012), As canções que gostam de mortos (2015) e O incêndio que fizemos em sua casa (2018), e poemas inéditos. Atualmente dita a oficina “É importante beijar-se dançando de vez em quando”.1 - Em que te inspiras para escrever?Na hora de escrever me inspirou em eventos cotidianos, emoções e talvez nas coisas que me possam chegar a gerar a rotina, e as levo para lados um pouco mais exagerados e tocados pela fantasia, e muito em filmes. Gosto muito de ver filmes2 - Quando te animaste a publicar seus poemas?Na verdade, ao escrever de muito jovem não é que me tenha animado, mas sempre quis publicar. Eu consegui fazê-lo quando consegui a prata e consegui autofinanciar meu primeiro livro que se chamou Diário em carmesí (2012)3 - O que é o mais letal das palavras?O mais letal das palavras está no negativo. Acho que o discurso é muito perigoso. O que nos contamos e o que nos contam é muito perigoso também, e há que descreer disso. Por isso, o letal não está no que se pensa que está mas no peso do negativo e o relato tocado pelo que nos dói.Mas também, se eu sou mais positiva, o letal está no verdadeiro, numa piada, no fresco, numa palavra de amor, num poema ou algo que ninguém lhe tivesse escrito um poema.4 - Qual foi o último poema que te fez chorar?O último poema que me fez chorar foi um escrito por Magalí Antenucci, uma aluna da oficina que dou.5 - O que você faz quando você não pode escrever? E se você quer descansar e desaparecer, onde você se refugia?Não há nenhum momento em que não possa escrever porque para mim é uma espécie de necessidade e descarga muito poderosa. Com os anos, isso foi flutuando e agora sou muito mais amorosa com essa ideia e deixo que aconteça. Quando tenho que escrever e entregar algo, eu leio outra pessoa, olho filmes e às vezes simplesmente não escrevo. Não o foirço demais. Algo à noite costuma aparecer.São bastantes seguidas as vezes em que quero desaparecer. Antes acreditava que era possível, mas depois você percebe que não é, e você deixa de tentar e tem mais lúcida, lúcido ou lúcide para finalmente entender que são momentos. Momentos que há que transitar, e que se fosse tão fácil desaparecer, já o tivéssemos feito. Mas se eu quiser desaparecer, fico num cinema.6 - Se você tivesse que escolher um livro para levar uma ilha deserta, qual seria?Eu me levaria Meteoro de Roberto Piva, Poesia Popular Argentina de Vicente Luy ou Um Autorretrato em cartas de Anne Sexton.7 - O que faz com o poder que te dá a poesia?Não se a poesia me dá poder. Se eu entendi há algum tempo que é a minha linguagem, Eu me custa muito pensar no poder, neste momento não tenho muito claro. Se o que me dá é um lar.8- É fácil chegar ao abraço através da poesia?Sim. Ao abraço me refiro ao lar, ao lugar de pertença, um lugar onde uma, um ou une se sente confortável, confortável, comode. Se é verdade que ao dar esse espaço de calor e articulação linguística e emocional, há algo da felicidade que aparece. Por isso, aparece o abraço, o reflexo e a diversão.9 - O que você faria se não fosse poeta?Seria comédianta. Escreveria piadas e talvez filmaria alguma sitcom contemporânea.10 - Algum poema favorito?Meu poema favorito desta época é um de Vicente Luy de seu livro Vicente fala ao povo (Editorial La Creciente, Córdoba, 2007):Mal passa a tempestadeos riachos de montanha embrutecene retumbanarrastando árvores, pessoase alguns amores.Eu uma tardeperdi um par de ténise vi passar uma senhorarebotando rio abaixo contra as pedrassem opor resistência.E tentei, mas não me tirei.Todo esse dia fui o que não se jogou.A chuva de ontem, tardee noite,Foi maiúscula;e se bem em casa outra vez há goteirase eu estou sofrendoMeu susto foi distante.No bairro já não há montanhase as diagonals só dão remansos.Mas um dia depois, hoje, ainda húmidasas portas,Sinto pânico e violência.Será o amor que se afasta?Não, não disse tristeza; disse pânico e violência.Vos talvez te acuerdes; eu souo menino que perdeu os ténise churrasqueira e uma remerae trepó, presa do pânico,a tempo para ver passar uma senhoraque já não era uma senhorarebotando rio abaixo,a passos de Icho Cruz. E tentoumas não se jogou- Todo o dia foi o que não se jogou.E hoje, muito tempo depois,um dia depois de uma tempestadeSente pânico e violência.Será o amor que se afasta?11 Você espera que você se lembre de você?Eu só quero que se lembrarem de mim, façam isso por duas coisas: 1) se alguma vez fiz uma boa piada e fiz rir essa pessoa, e 2) se alguma vez algum poema mio acompanhou alguma pessoa num momento particular.12 - Ultimamente, em que pensas?Ultimamente penso em como a velocidade e a aceleração está obstruindo e destruindo os vínculos afetivos. Como a ansiedade faz com que as pessoas não ouçam. Como o medo faz com que as pessoas sejam desajeitados. Penso nas relações de poder, Como algumas pessoas o usam para fazer o mal. Penso na política e no que vai acontecer, e penso que haveria de activar novos discursos políticos. Penso muito também na poesia a modo de resistência, que é algo que venho dizendo há muitos anos porque é necessária como linguagem universal e sensível.Por isso, me sai falar da oficina, e das pessoas que me rodeia na poesia. Neste momento são a minha única maneira de aproximar-me do humano e poético em conjunto. Saúdo o meu espaço de trabalho, É importante beijar-se dançando de vez em quando, eAs pessoas que vêm que são muito talentosas e generosas ao mesmo tempo. Invito que lhes leiam.
01/11/2022 - Entretenimento e Bem-estar
Entrevista a Flavia Calise
Por serena alurralde
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serena alurralde
Olá! Sou Serena, lic. em Relações Internacionais da Universidade Torcuato Di Tella. Obteve o diplomado de Igualdade e Empoderamento da Mulher na Universidade de Salamanca. Eu adoro poesia e música. Escrevi e recito em eventos de leitura ao vivo.
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