02/12/2022 - entretenimento-e-bem-estar

As cabalas: uma crença metafísica?

Por abril florencia gargiulo

As cabalas: uma crença metafísica?

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A média das pessoas, e eu me incluo, orgulha-se de ser racional, de acreditar apenas no que vê e no que a ciência constata. Hoje isto tem grande incidência em particular nas gerações atuais, circunstância em que a ciência e a tecnologia avançaram com tal visibilidade ao ponto de substituir e eliminar a figura de um deus omnipotente “todo-poderoso” para algumas pessoas.

Não só a ciência pareceria ser a única portadora de verdade moderna, se não que, além disso, para essas pessoas, acreditar em uma figura divina resulta impensável, mesmo às vezes tonto. No entanto, atrevo-me a dizer que ninguém destas gerações, ou pelo menos ninguém que esteja lendo esta nota, pode dizer que em momentos de medo, suspenso, ou muita expectativa, não se encontraram rezando a um ser superior, no que dizem não acreditar, para que tudo saísse bem. Na minha opinião, esse comportamento não difere em absoluto com o fenômeno das cabalas.

O significado que cada pessoa dá às suas cabalas varia infinitamente. Enquanto algumas cabalas se baseiam na mera continuação de uma tradição familiar ou entre amigos, outras surgem das formas mais invulgares e irrisórias. Por sua vez, podem ter lugar em todo tipo de situações: exames, entrevistas de trabalho, ano novo, e a que nesses tempos nos une a todos, o mundo. Mas o que une todas as cabalas, por mais diversas que sejam, é o objetivo que têm: obter um resultado favorável através de métodos não baseados nem na lógica nem na ciência. E então, quando tiramos a lógica e a ciência, com que nos restamos?

No pessoal, a minha cabala favorita é a utilização na hora de render parciais, e é extremamente simples. Em um papel tipo “post - it” escrevo os temas que não quero que me tomem, e o pego no freezer. Acho que roça a borda com a magia negra ou os gualichos, mas o único que sei é que definitivamente mais de uma vez funcionou. Ao mesmo tempo, tenho conhecidos que se vestem de fato para ver os partidos do mundo, ou companheiros de faculdade, ateus, que prendem velas antes de render.

As cabalas de ano novo por outro lado são um mundo além, desde colocar prata nos sapatos para ter um ano próspero economicamente, até começar debaixo da mesa para conseguir namorado/a. Não nego nem digo ter usado a última cabala e que tenha funcionado, não só para mim se não para as três pessoas que saíram comigo nesse ano novo.

Em suma, não podemos negar que as cabalas existem e que vários, me atrevo a dizer a maioria, as utilizaram pelo menos uma vez em sua vida. O estranho é que, num contexto em que as crenças metafìsicas são cada vez mais deixadas de lado, parecemos fazer a visão gorda a essa negação de um para além e decidimos confiar cegamente na veracidade dessas cânbalas, e seu potencial para alterar o destino das coisas.

Friedrich Nietzsche, em sua obra “Assim falou Zaratustra”, diz: “ebrio é a dor para quem sofre, de afastar a vista de seu sofrimento e perder-se a si mesmo”. Talvez então, ter cábalas esteja na nossa natureza, no desejar que algo superior resolva as questões da cotidianeidade que estão fora do nosso alcance e de alguma forma tape essa frustração. Ou talvez, as cabalas são sinais de que em efeito há uma força metafísica e tudo está conectado. Como tudo, fica livre interpretação de cada um.

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abril florencia gargiulo

abril florencia gargiulo

Meu nome é abril, ou April para quem me conhece de redes, e me caracterizo por levar uma vida bastante bifacética. Estudo Direito Internacional na UBA e ao mesmo tempo em redes sociais falando da vida, de bem-estar e de coisas para fazer em Buenos Aires. Convido-te a ler minhas notas na seção de Entretenimento e Bem-Estar onde vou estar tocando bastantes temas atuais.

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