29/11/2022 - entretenimento-e-bem-estar

Oda a Rutina

Por santiago toselli

Imagen de portada
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Parece o despertador de manhã, você se leva como pode e arranca o dia. Onze horas fora entre bondis, subtes e laburo, voltas para sua casa e descansas. Na manhã seguinte, o mesmo. Mismo bondi, mesmo subte, mesmas caras. Se você for relativamente sociável já sabe o nome do motorista que, mais ou menos nessa hora, passa por sua parada. Estes são alguns dos detalhes dos homens e das mulheres que vivem sua vida segundo uma rotina determinada.

Quando foi a última vez que você parou um toque na vorágine da sua vida para pensar seriamente sobre o conceito da rotina? Você é rotinario? Você gosta de ser?

Como se hoje estivéssemos faltos de rachaduras, a ideia de repetir o mesmo padrão todos os dias cai indefectivelmente nesse terreno pantanoso onde não há respostas corretas. Se você for rotineiro, está bem. E se não, também.

Estão os que amam a rotina, fazem parte de sua vida, como um ente autárquico que digita seus destinos. Um sistema fechado em que o passar do tempo se estrutura. A rotina tenta ordenar as variáveis, e assim a existência da pessoa torna-se um pouco mais previsível. Pelo menos segundo a sua perspectiva.

Na rotina os fatos se desenvolvem naturalmente, sem necessidade de reflexão de parte do sujeito. Além disso, o que se obtém graças à rotina é uma sensação de segurança e conforto. Um véu intangível que se supõe vai fazer sua vida mais fácil. (Spoiler Alert: NO)

A outra face da moeda são aqueles que detestam a rotina. Escapan da ideia de viver o mesmo todos os dias. Consideram a rotina como um verdadeiro “Dia da Marmota”. O tema é que, sem o magnetismo de Bill Murray, o filme não tem graça.

São aqueles que decidem armar a sua vida com estruturas mais voláteis, apenas pelo desejo de viver afastado das rotinas. Pessoas que não sentem a necessidade de saber com quem vão jantar na semana que vem, ou a que festa irão.

Agora, como bom tibio que sou, sou a larga Avenida do Meio para refletir sobre este assunto como eu gosto, com a tibieza de uma birra aberta há duas horas.

É fantástico, de vez em quando, fugir da rotina. Sente-se bem. Dá-lhe a oportunidade de criar novas memórias e viver novas experiências.

Recentemente eu vendi o carro e comprei uma bicicleta, então voltei para pedalar depois de 18 anos. Não só saí da bicicletacleteria e na primeira esquina tentei colocar o guião, mas na semana de tê-la comprado mordi um cordão e me peguei o pau da minha vida.

Saí voando, pegue com a calçada, rode 162 vezes (a cifra se exagera para fins dramáticos) até que a inércia me abandonou e me deixou tirado na rua. Tudo moretoneado, raspões, sangue, todo o combo. E para te dizer a verdade, há anos que não me sentia tão vivo.

Ou seja, se. Entendo. Romper a rotina tem coisas positivas. Mas a verdade é que não poderíamos viver sem rotinas.

A rotina é uma parte inerente da experiência do ser humano e uma ferramenta que se provou útil ao longo da história. Planejar nossos dias nos serviu como espécie para nos adaptar e progredir.

Nossos antepassados não tinham as liberdades que temos para querer, voluntariamente, abandonar a rotina. Difícilmente nossos avós, cagados de fome entre guerra e guerra, juntavam-se uma vez a cada dois anos a boludear jogando paintball.

Se você tem filhos saberá que o primeiro que diz o pediatra é que o bebê precisa de uma rotina. Que você não pode ter passado de rosca até as três da manhã um dia, e no dia seguinte dormindo até o meio-dia.

Talvez a moral seja a mesma que em outros grandes debates. Talvez a resposta esteja no santo equilíbrio das coisas. Armar uma rotina flexível, interessante e desafiadora. Que procure controlar algumas variáveis e nos fazer sentir seguros, mas permita quebrar o molde e fazer coisas novas. Que seja permeável.

Conta-me. Quando foi a última vez que você fez algo extraordinário?

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santiago toselli

santiago toselli

Nascido em Chubut em 1987, de pai geólogo e mãe docente. Estudei jornalismo e marketing, e trabalhei durante dez anos na área contabilística de diferentes entidades de saúde. Marido de Sol, pai de Luca, torcedores de Quilmes e amante da astronomia.

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