01/04/2025 - entretenimento-e-bem-estar

Diga-me o que você consome e eu direi quem você é. Consumo, redes e bem-estar.

Por Melina Mazzitelli

Diga-me o que você consome e eu direi quem você é. Consumo, redes e bem-estar.

Há alguns anos escrevi minha tese de graduação investigando o conceito de consumo e como essa atividade desempenha um papel fundamental em nossas vidas. Desde a era do capitalismo até os dias atuais, a forma como nos relacionamos com o consumo evoluiu significativamente. No século XXI, não podemos pensar no consumismo sem vinculá-lo ao desejo. Não se trata apenas de satisfazer uma necessidade, mas sim do prazer e da possibilidade de experimentar repetidamente as emoções que isso provoca em nosso corpo. Isso se intensifica em um presente marcado por um avanço tecnológico acelerado, que, embora traga grandes oportunidades de crescimento a nível global, também fomenta a imediata satisfação do prazer e desfrute instantâneo, liberando as tensões da vida diária.

Soa complexo escapar do ato de consumir, já que, desde que nos levantamos até que nos deitamos, estamos constantemente consumindo.

Na era digital, o surgimento das redes sociais e a facilidade de acesso ao consumo com um único clique adquiriram um protagonismo que influencia nossa maneira de pensar, viver e até mesmo nos relacionar. Passamos longas horas na frente das telas, recebendo informações de diversas fontes, e até nos comparando, muitas vezes de forma inconsciente, com seleções editadas de momentos alheios. Enfrentamos publicidades projetadas para nos impulsionar a comprar e pessoas vendendo fórmulas automáticas de bem-estar, gerando um ciclo no qual sempre queremos mais e mais.

A pergunta O que buscamos quando consumimos? nos leva inevitavelmente a outra: Que emoção sentimos ao fazê-lo? Como mencionei antes, o consumo e as emoções andam de mãos dadas. Bauman, filósofo e sociólogo, já abordou esse fenômeno em seu livro Vida de consumo, onde analisa a transição de uma sociedade de produtores para uma de consumidores.

Diversos estudos mostraram que a sobrecarga de estímulos causada pelas telas está relacionada a problemas de autoestima, depressão e ansiedade. Então, como podemos regular o impulso de entrar em um aplicativo sem perceber o tempo que passamos nele?

A muitos de nós já aconteceu estar em uma reunião ou saída social em que, apesar de compartilharmos o mesmo espaço, cada pessoa está em seu celular. No entanto, em minha experiência, os momentos mais memoráveis ocorrem quando deixamos o telefone de lado e nos conectamos com o presente.

Há alguns meses, a Apple lançou um iPhone com funcionalidades básicas, projetado unicamente para fazer e receber chamadas, com o objetivo de reduzir o estresse causado pelas notificações constantes. Também surgiram aplicativos que transformam o celular em uma ferramenta minimalista. Será então que voltamos algumas décadas atrás, quando não existia muito do que atualmente nos parece básico para poder fazer uma pausa?

Não proponho isso a partir de uma percepção negativa da realidade, mas como um convite a questionar o que e como escolhemos consumir. Isso é especialmente relevante para as gerações atuais, cujo maior desafio é aprender a se desconectar para poder se conectar consigo mesmas. Viver hiperconectado nos distrai de identificar como nos sentimos, o que queremos e para onde nos projetamos.

Reconectar com um mesmo nesse contexto pode ser complicado, mas é cada vez mais necessário implementar estratégias de regulação, como estabelecer limites no uso de aplicativos, praticar atividades físicas, meditar ou realizar qualquer outra atividade que nos ajude a focar em uma só coisa. Muitas vezes, imagino nosso cérebro como um computador com várias abas abertas simultaneamente: trabalhamos enquanto compramos um eletrodoméstico, curtimos a publicação de um vizinho enquanto almoçamos, e sim, tudo isso ainda é consumo.

Volto à pergunta inicial: O que você pensa quando consome? Você realmente precisa do que acredita precisar, ou está apenas se distraindo com estímulos externos? Estamos nos afastando do essencial, dissociando-nos da realidade, e do importante que é a conexão conosco e com os outros, de compartilhar momentos de qualidade criando memórias significativas,

Apertar o freio e tirar um momento para refletir sobre isso nos permite sair, ainda que por um instante, da roda do consumismo. É uma oportunidade para cuidarmos de nós mesmos, desconectar e encontrar satisfação na simplicidade das coisas, valorizando o que já temos em vez de focar no que acreditamos que nos falta.

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Melina Mazzitelli

Melina Mazzitelli

Olá! Sou Melina, Lic. em Gestão Social e das Organizações da Universidade Metropolitana para a Educação e o Trabalho (UMET). Possuo uma formação em Gestão de Projetos e metodologias ágeis, Responsabilidade Social Empresarial, Sustentabilidade e Novas economias. Também me especializei em habilidades de UX/UI e Data Analytics.

Atuo como Project Manager e Data Analyst. Trabalhei na coordenação de projetos educativos e sociais na administração pública, e há vários anos me profissionalizo no ecossistema de triplo impacto. Atualmente, estou exercendo minha função no mundo da tecnologia.

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