Jesús Daniel Romero do Miami Strategic Intelligence Institute para Poder & Dinero e FinGurú
Sob a liderança do presidente Javier Milei, a Argentina está dando uma reviravolta estratégica em direção a um acordo comercial com os Estados Unidos. Essa mudança se afastou significativamente dos acordos comerciais tradicionais do país dentro do Mercosul. O governo de Milei tem apoiado firmemente um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos. Dada a exigência de consenso do bloco regional para acordos comerciais externos, essa medida poderia implicar na saída do Mercosul, se necessário.
Milei criticou abertamente a regra de unanimidade do Mercosul, que considera um obstáculo à flexibilidade econômica da Argentina e sua capacidade de negociar condições comerciais vantajosas de forma independente. No centro dessa mudança está o desejo de reduzir a dependência da Argentina em relação aos acordos comerciais regionais, em particular com o Brasil, e diversificar suas relações comerciais para impulsionar o crescimento econômico. O impulso do governo para um pacto comercial com os Estados Unidos está alinhado com esforços mais amplos para reforçar a posição internacional da Argentina em meio a condições econômicas desafiadoras (Katz, 2023).
O Mercosul e a integração econômica global da Argentina
A possível saída da Argentina do Mercosul levanta considerações importantes para a dinâmica comercial regional. Embora deixar o bloco possa melhorar a capacidade da Argentina de alcançar acordos independentes com potências globais como os Estados Unidos, também perturbaria suas relações comerciais com os países vizinhos, especialmente o Brasil. O comércio da Argentina com o Brasil é substancial, e qualquer interrupção poderia afetar significativamente as cadeias de suprimento vitais em setores chave (Santos, 2022).
Apesar desses riscos, Milei se manteve firme em seu compromisso de promover um acordo comercial com os Estados Unidos, chegando inclusive a sugerir que a Argentina poderia ser o primeiro país a adotar termos comerciais recíprocos semelhantes aos promovidos durante a presidência de Donald Trump. Essa busca reflete um desejo mais amplo de reduzir a dependência da Argentina em relação aos marcos comerciais regionais e se integrar à economia global em condições mais favoráveis (López, 2023).
Reformas econômicas e a visão de livre mercado de Milei
O governo de Milei já implementou reformas econômicas significativas para abordar os persistentes desafios fiscais da Argentina. Essas reformas têm se concentrado em medidas de austeridade, controle da inflação e redução do déficit orçamentário, posicionando a Argentina para uma possível recuperação. Apesar das dificuldades de curto prazo dessas medidas, a confiança dos investidores foi reforçada e a abordagem de livre mercado de Milei obteve apoio internacional, incluindo de figuras como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump (Smith, 2022). Ao promover um acordo comercial com os EUA, Milei busca consolidar a integração da Argentina aos mercados globais, permitindo ao país se beneficiar de um maior acesso à economia americana e ao seu vasto mercado de consumo. Além disso, tal acordo poderia fomentar um aumento maior de investimento estrangeiro direto de qualidade, essencial para impulsionar o crescimento econômico de longo prazo da Argentina (Peterson Institute, 2023).
Benefícios para os Estados Unidos
Um Tratado de Livre Comércio com a Argentina também beneficiaria significativamente os Estados Unidos. Como a segunda maior economia da América do Sul, a Argentina representa um mercado considerável para as exportações americanas. Ao negociar um acordo comercial, as empresas americanas obteriam acesso preferencial aos mercados argentinos para bens e serviços, desde produtos agrícolas até tecnologia e manufatura (Reichert, 2023).
Além disso, os Estados Unidos se beneficiam da diversificação de suas relações comerciais na América Latina. Embora o Brasil e o México continuem sendo parceiros econômicos importantes, fortalecer os laços com a Argentina ofereceria aos Estados Unidos maior flexibilidade e vantagem estratégica na região (Brown, 2022). O compromisso da Argentina com as reformas de livre mercado se alinha ainda mais com os interesses dos Estados Unidos, reforçando uma visão compartilhada de liberalização econômica e políticas impulsionadas pelo mercado (Smith, 2022). Um acordo comercial também poderia gerar novas oportunidades para o investimento americano nos setores em crescimento da Argentina, em particular energia, agricultura e infraestrutura. As reformas de mercado implementadas na Argentina sob a administração de Milei a tornam um destino atraente para investimento estrangeiro direto (IED), e as empresas americanas se beneficiariam de um melhor ambiente empresarial e da redução das barreiras comerciais. O potencial para cooperação energética é particularmente notável, dadas as significativas reservas de petróleo e gás da Argentina, que poderiam ajudar a garantir um abastecimento energético mais diversificado para os Estados Unidos (Agência Internacional de Energia, 2023).
Desafios para alcançar um acordo comercial antes das eleições na Argentina
Embora os benefícios potenciais de um Tratado de Livre Comércio entre os Estados Unidos e a Argentina sejam claros, a probabilidade de alcançá-lo antes das eleições na Argentina no final de 2025 continua sendo baixa. A negociação e a finalização de acordos comerciais costumam ser um processo longo, e os precedentes históricos sugerem que pode levar anos. Por exemplo, o Tratado de Livre Comércio entre os Estados Unidos e o Panamá levou aproximadamente oito anos e meio para ser concretizado, enquanto que o acordo entre os Estados Unidos e a Jordânia foi concluído em aproximadamente um ano e meio (Baker e O’Neill, 2021). Declarações recentes de funcionários americanos também sugerem que, atualmente, existe pouco entusiasmo no governo dos Estados Unidos para negociar novos TLC, com uma preferência, em vez disso, por promover acordos de investimento (Miller, 2022). Esses fatores complicam ainda mais as perspectivas de completar em breve um acordo comercial abrangente com a Argentina.
Impacto na economia argentina e a Guía Húngara
Apesar das dificuldades para alcançar um acordo comercial antes das próximas eleições, um Tratado de Livre Comércio entre os Estados Unidos e a Argentina poderia ter um impacto profundo e estabilizador na economia argentina, em particular na sua "Guía Húngara", um termo que se refere a economias em dificuldades com alta inflação e problemas de dívida (Johnson, 2022). Um acordo comercial com os Estados Unidos provavelmente ajudaria a Argentina a aumentar suas exportações, reduzir os déficits comerciais e atrair investimento estrangeiro direto (IED), especialmente nos setores de energia, agricultura e infraestrutura.
Um acordo desse tipo poderia ajudar a aliviar os persistentes problemas de inflação da Argentina, ampliando o acesso aos mercados e fortalecendo a posição fiscal do país. Uma base econômica mais sólida geraria mais oportunidades de emprego e estabilizaria as pressões inflacionárias, reduzindo a vulnerabilidade da economia a perturbações externas. Além disso, uma maior cooperação em energia poderia garantir o futuro energético da Argentina, reduzindo custos e melhorando a capacidade de produção nacional (De la Torre e Gabaudan, 2023). Além disso, com acesso aos mercados globais e o potencial de um aumento do investimento estrangeiro, a Argentina poderia diversificar sua economia e evitar a dependência excessiva de acordos comerciais regionais e das exportações de matérias-primas, tornando-se menos vulnerável a recessões econômicas. Essa diversificação seria crucial para abordar os desafios fiscais e reduzir a dependência da Argentina da dívida externa (Reichert, 2023).
Impacto na influência regional da China
Um acordo comercial entre os Estados Unidos e a Argentina poderia afetar significativamente a influência regional da China na América Latina. A Argentina tem sido há muito tempo um parceiro chave para a China, especialmente em setores como soja, petróleo e infraestrutura. Se a Argentina se aproximar dos Estados Unidos e fortalecer seus laços econômicos com esse país, poderia reduzir sua dependência da China para comércio e investimento, o que poderia transformar o cenário econômico da América Latina.
A China investiu pesadamente na América Latina através de sua Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), financiando grandes projetos de infraestrutura em troca do acesso a matérias-primas e fortalecendo sua influência política. Um acordo comercial entre os Estados Unidos e a Argentina poderia reduzir o investimento chinês, especialmente em infraestrutura, à medida que empresas e capital americanos começassem a substituir entidades chinesas nos setores de energia e manufatura. Isso colocaria em perigo a crescente presença regional da China (Cheng e Liu, 2023). Além disso, a mudança de postura da Argentina em relação aos Estados Unidos poderia inspirar outras nações latino-americanas a reconsiderar suas relações comerciais e de investimento com a China, favorecendo possivelmente os acordos apoiados pelos Estados Unidos. Isso representaria um golpe duro para a estratégia regional da China, já que a América Latina tem sido um foco de influência geopolítica chinesa. Embora a China continue a investir e manter relações comerciais na região, um maior alinhamento da Argentina com os Estados Unidos poderia enfraquecer substancialmente a capacidade da China de afirmar sua influência econômica na área (Zhang e Xu, 2022).
Um Equilíbrio Complexo: Comércio, Reformas e Relações Regionais
A busca por um acordo comercial com os Estados Unidos não está isenta de complexidades. Embora o acordo possa oferecer benefícios econômicos significativos, como melhor acesso ao mercado e um influxo de investimentos, a decisão de sair do Mercosul apresenta riscos que poderiam comprometer as relações regionais da Argentina. O desafio será equilibrar esses riscos com os benefícios de longo prazo de uma maior integração global.
Em conclusão, os esforços da Argentina para conseguir um acordo comercial com os Estados Unidos representam uma mudança radical na política econômica, indicando o desejo do país de abrir novas vias de crescimento e desenvolvimento. No entanto, o caminho à frente exigirá uma gestão cuidadosa das reformas econômicas internas e do panorama comercial regional como um todo. À medida que a economia global continua a evoluir, a disposição da Argentina em se adaptar e buscar novas oportunidades comerciais será chave para determinar sua trajetória econômica futura. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos se beneficiarão de um maior acesso aos mercados, maiores oportunidades de investimento e uma influência regional ampliada.
Referências
Baker, C. e O’Neill, B. (2021). Tratados de livre comércio dos EUA e seu impacto nas relações comerciais regionais: Uma perspectiva histórica. Global Trade Review, 14(2), 134-145.
Brown, M. (2022). Interesses econômicos dos EUA na América Latina: A mudança estratégica em direção à Argentina. Latin American Economic Journal, 25(3), 56-73.
Cheng, Y. e Liu, Z. (2023). O papel da China na América Latina: Uma análise ampla do comércio e investimentos no contexto da Iniciativa do Cinturão e Rota. Asia-Pacific Business Review, 18(1), 87-101.
De la Torre, A. e Gabaudan, B. (2023). Reformas econômicas na América Latina: O caso da Argentina. Journal of Latin American Economics, 30(2), 209-224.
Agência Internacional de Energia. (2023). Cooperação energética na América Latina: O papel potencial da Argentina nos mercados de energia globais. Relatórios da IEA, 7(1), 99-112.
Johnson, E. (2022). Inflação e instabilidade econômica na Argentina: Compreendendo o efeito da Guía Húngara. Journal of International Economics, 58(1), 15–32.
Katz, M. (2023). A mudança da Argentina em direção a uma política comercial centrada nos Estados Unidos: Oportunidades e desafios. The Americas Review, 33(4), 201–215.
López, R. (2023). O Mercosul e a política comercial argentina: Uma encruzilhada crítica. South American Economic Journal, 11(3), 44–60.
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Reichert, S. (2023). Relações comerciais dos Estados Unidos na América Latina: Implicações estratégicas de um TLC entre os Estados Unidos e a Argentina. The Global Trade Journal, 21(2), 101–119.
Santos, M. (2022). O quadro econômico do Mercosul e seus desafios: Lições da política comercial argentina. Mercosur Studies, 14(1), 45-58.
Smith, A. (2022). Reformas de mercado e o futuro da economia argentina. Economic Policy Studies, 8(3), 24–39.
Zhang, H. e Xu, F. (2022). A crescente presença da China na América Latina: Implicações para a influência americana. Revista de Pesquisa China-América Latina, 5(1), 45–60.
Departamento de Estado dos EUA, Comando Sul dos EUA, Coronel Carl D. Springer, Exército dos EUA (Aposentado), Fox News TV, Tulsi Gabbard, Diario las Américas, The Epoch Times, The Epoch Times Español, Jesús Romero, William Acosta, Truth Social, inovação do presidente Donald J. Trump, One America News Network, América TeVé Miami, Miguel Cossio, Rolando Nápoles, Marian de la Fuente, Jorge Luis, SANCHEZ GRASS, ISABEL CUERVO, Escritório de Inteligência Naval, Escola de Guerra Naval dos EUA, Escritório do Diretor de Inteligência Nacional, Breitbart News, Infobae.
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Jesús Daniel Romero é Co-Fundador e Senior Fellow do Miami Strategic Intelligence Institute.
Comandante Aposentado de Inteligência Naval dos Estados Unidos, com destacada atuação militar e diplomática.
Autor do best seller na Amazon "Final Flight: The Queen of Air", onde compartilha parte de suas experiências na luta contra o narcotráfico na América Central
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