Vida e legado do Papa Francisco
Na segunda-feira, 21 de abril de 2025, faleceu o líder da Igreja Católica Apostólica Romana, o Papa Francisco. O Cardeal Farrell comunicou dizendo: “o bispo de Roma voltou para a casa de Deus”, aos 88 anos de idade. Conhecíamos o estado delicado do Papa, no entanto, ninguém esperava que, horas depois de celebrar a missa da Páscoa, o Bispo de Roma deixasse este mundo.
Seu nome era Jorge Mario Bergoglio, nacido em 17 de dezembro de 1936 em Flores, Buenos Aires. Ele foi o mais velho de cinco irmãos em uma família de origem italiana (seus avós emigraram do Piemonte, Itália). Desde jovem, ele mostrou uma personalidade simples e próxima, com uma educação religiosa baseada na bondade e no respeito.
Bergoglio estudou em uma escola secundária técnica e se formou como técnico químico. Trabalhou brevemente em um laboratório antes de entrar no seminário. Aos 21 anos, após uma grave doença (uma infecção pulmonar que o levou a perder parte de um pulmão), começou a sentir sua vocação religiosa com mais força, até que em 1958 entrou na Companhia de Jesus. Com apenas 36 anos, foi nomeado provincial dos jesuítas. Sua trajetória religiosa continuou e, em 2001, foi designado Cardeal pelo Papa João Paulo II, até que em 2013 ele finalmente foi eleito Papa, tornando-se o primeiro latino-americano a ocupar tal cargo.
Desde o início, ele mostrou sua vontade de transformar a igreja, e o fez, sendo próximo dos jovens, como na Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, onde expressou: "Quero bagunça nas dioceses, quero que saiam para fora, quero que a Igreja saia para a rua, quero que nos defendamos de tudo que seja mundanidade, de tudo que seja instalação, de tudo que seja comodidade, de tudo que seja clericalismo, de tudo que seja estarmos trancados em nós mesmos..." "Façam barulho! Mas também ajudem a resolver a bagunça que fazem.", nas citações mencionadas se expressa a mensagem de Francisco encorajando os jovens a se fazerem ouvir, a desafiar as injustiças e a participar ativamente na comunidade e na Igreja.
Ele também foi o primeiro a abrir as portas para a comunidade LGBTIQ+, por exemplo, quando fez a seguinte afirmação: "Se uma pessoa é gay, busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?" "Todos somos filhos de Deus, e Deus nos quer como estamos e com a força que lutamos cada um por nossa dignidade" "...Ternura, por favor, ternura, como Deus tem com cada um de nós".
Seu papel Internacional
Seu papel internacional favoreceu o papel da Igreja nos conflitos, consolidando a diplomacia do Vaticano como relevante na tomada de decisões no sistema internacional. A promoção do diálogo entre as partes, o diálogo bilateral entre líderes religiosos de diferentes ramos ou sua participação como mediador de conflitos mostram sua devoção à política internacional e sua postura de apoio desde o papel que tinha é de suma importância ao caracterizá-lo; não todos que tiveram tal papel foram tão devotos.
Em suas últimas palavras públicas no dia da missa de 20 de abril na Basílica de São Pedro, focou em certos conflitos atuais no seio internacional, citou: "não pode haver paz sem liberdade de religião, liberdade de pensamento, liberdade de expressão e respeito pelas opiniões dos outros", afirmou o Sumo Pontífice. Ao longo da missa, ele enfatizou a importância da paz e é notável como esse é o último legado que nos deixou. Seguindo nesta linha, ele fez um apelo a todos os líderes políticos com responsabilidades nas guerras: "não devemos ceder à lógica do medo que isola, mas usar os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que impulsionem o desenvolvimento".
Nesta ocasião, ele destacou sobre a guerra que ocorreu no estreito de Gaza: “que cesse o fogo, que sejam libertados os reféns e que seja prestada ajuda às pessoas que têm fome e que aspiram a um futuro de paz”.
Além disso, no passado, ele teve um papel importante em assuntos internacionais, como em 2014, quando atuou como intermediário secreto entre os presidentes Barack Obama (EUA) e Raúl Castro (Cuba) para restabelecer suas relações diplomáticas após um longo conflito de interesses entre ambos. Ele escreveu cartas pessoais a ambos os presidentes, pedindo um gesto de reconciliação e destacando a importância do diálogo, do perdão e da humanidade. O Vaticano acolheu reuniões discretas entre delegações de ambos os países e foi considerado neutro e confiável por ambas as partes, permitindo conversas que estavam bloqueadas há anos.
Também devemos ter em mente que estamos em um ano Jubileu, conhecido também como Ano Santo, época para oferecer graça e perdão, valores que o Papa Francisco insistiu que devem estar presentes nos conflitos atuais.
Conclave
O conclave é o processo pelo qual é escolhido um novo papa, ou seja, o novo líder da Igreja Católica. É um evento muito solene, cheio de tradição, e ocorre no Vaticano, dentro da Capela Sistina.
A palavra "conclave" vem do latim cum clave, que significa “com chave”, porque os cardeais que participam da eleição ficam isolados do mundo exterior até que um novo Papa seja escolhido. Todos os acessos, telefônicos, internet e contatos com o exterior estão proibidos, e o processo se desenvolve até que se encontre uma maioria de dois terços dos votos; a cada dia podem ser realizadas até quatro votações: duas pela manhã e duas à tarde. Se ainda não houver um voto perene, sai fumaça preta; se houver uma eleição válida e já se decidiu o próximo Papa, sai fumaça branca.
Este ano, os candidatos se dividem entre os do setor mais progressista (muitos designados pelo Papa Francisco) e o setor conservador. A seguir, nomearei alguns dos possíveis eleitos.
Do lado progressista ou reformista, como possíveis eleitos, temos: o Cardeal Matteo Zuppi (Itália), Arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana. Conhecido por sua abordagem pastoral centrada na inclusão e no diálogo inter-religioso. Também, o Cardeal Jean-Claude Hollerich (Luxemburgo), Arcebispo de Luxemburgo e relator geral do Sínodo sobre a Sinodalidade. Defende uma maior participação leiga e demonstrou abertura em relação à comunidade LGBT. Por outro lado, o Cardeal Luis Antonio Tagle (Filipinas), Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. Considerado "papável" desde o conclave anterior, é visto como uma ponte entre Oriente e Ocidente. E, por último, o Cardeal Pietro Parolin (Itália), Secretário de Estado do Vaticano. Embora moderado, ele foi um agente-chave nas diplomacias vaticanas, incluindo a aproximação entre EUA e Cuba.
Por outro lado, no setor conservador, temos candidatos como o Cardeal Robert Sarah (Guiné), ex-prefeito da Congregação para o Culto Divino. Defensor da liturgia tradicional e crítico de certas reformas do Papa Francisco. Também, o Cardeal Raymond Burke (EUA), conhecido por sua oposição às aberturas em relação aos divorciados recasados e à comunidade LGBT. Tem sido uma voz proeminente nos círculos conservadores. Por fim, o Cardeal Gerhard Müller (Alemanha), ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Defende uma interpretação estrita da doutrina e expressou reservas sobre o Sínodo da Sinodalidade.
A modo de conclusão, considero que devemos lembrar do Papa Francisco como uma figura de amor, respeito pela comunidade e, acima de tudo, um líder que demonstrou que a Igreja não é para poucos, mas para todos aqueles dispostos a seguir o caminho de Deus. Independentemente da orientação religiosa, citando suas palavras: “cada homem e cada mulher deve ter uma janela em sua vida onde possa colocar sua esperança”.
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