Jesús Daniel Romero e William Acosta para Poder & Dinero e FinGurú
O panorama geopolítico na América do Sul é cada vez mais precário, com a Guiana presa em uma complexa rede de tensões regionais. No centro dessa situação está a agressão venezuelana sob Nicolás Maduro, cujo governo está revitalizando as reivindicações sobre a região do Esequibo, um território historicamente estabelecido em 1899. Esse ressurgimento não é simplesmente uma disputa territorial servindo como uma distração estratégica do tumulto interno que afeta a Venezuela. Com uma economia em ruínas e um crescente descontentamento entre sua população, o regime de Maduro busca reforçar sua legitimidade ao afirmar reivindicações sobre as significativas reservas de petróleo da Guiana, posicionando-se como um defensor dos interesses nacionais.
Complicando a situação está a crescente influência econômica da China na Guiana, facilitada em grande parte por meio de sua Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI). Essa iniciativa permitiu à China consolidar sua presença na região ao financiar projetos de infraestrutura críticos e expandir sua influência econômica. No entanto, essa estratégia de empréstimos chineses colocou vários países latino-americanos em uma posição de co-dependência, criando uma armadilha onde a China tem a vantagem devido às dívidas significativas contraídas. À medida que essas nações se tornam cada vez mais dependentes do financiamento chinês, o risco de cair em uma armadilha de dívidas aumenta, comprometendo potencialmente sua soberania e capacidade de tomada de decisões.
A China emergiu como um novo poder capitalista que, por meio de práticas de empréstimos predatórios, assume o controle dos países a quem presta, sem sequer disparar um tiro. Esse modelo de controle apresenta sérios riscos para a segurança nacional dos Estados Unidos, uma vez que a lealdade é comprada por meio de compromissos adquiridos por governos que entram nessas negociações. Inicialmente, esses acordos podem parecer benéficos para suas economias e projetos; no entanto, as altas taxas de juros levam a problemas mais profundos a longo prazo.
Os interesses estratégicos da China na Guiana não se limitam a benefícios econômicos. O país está muito ciente das ramificações geopolíticas de controlar regiões ricas em recursos naturais. Ao fomentar vínculos mais estreitos com a Guiana, a China não apenas expande sua influência, mas também melhora sua posição estratégica na América do Sul, neutralizando os interesses dos Estados Unidos em uma esfera de influência historicamente centrada na América.
Em meio a esses desenvolvimentos, os Estados Unidos têm estado notavelmente ausentes em contrabalançar as crescentes ameaças apresentadas tanto pela Venezuela quanto pela China. Essa falta de comprometimento coloca em risco não apenas os interesses estratégicos dos Estados Unidos, mas também a estabilidade da região. Historicamente, os Estados Unidos desempenharam um papel fundamental na geopolítica sul-americana, frequentemente atuando como um contrapeso aos regimes autoritários. No entanto, a inação pode levar à perda de influência, encorajando regimes autoritários como o de Maduro e permitindo que concorrentes econômicos, como a China, preencham o vazio deixado pela descompostura americana.
Para abordar eficazmente essas ameaças, os Estados Unidos devem melhorar seus laços econômicos com a Guiana. Uma estratégia focada em investimento em infraestrutura é essencial para contrabalançar a influência chinesa e apoiar o desenvolvimento da economia da Guiana. Isso poderia incluir o financiamento de redes viárias, projetos de energia e sistemas de telecomunicações para fortalecer a independência e a resiliência do país diante de pressões externas.
Além disso, expandir o apoio militar para fortalecer as capacidades de defesa da Guiana é crucial. Os Estados Unidos deveriam considerar exercícios militares conjuntos e programas de treinamento para reforçar as forças armadas da Guiana, garantindo que estejam bem equipadas para responder a qualquer agressão potencial da Venezuela. Tais medidas não apenas melhorariam a segurança da Guiana, mas também enviariam uma mensagem tanto a Maduro quanto a Pequim de que os Estados Unidos continuam comprometidos com seus aliados na região.
Incentivar empresas americanas a participar do florescente setor petrolífero da Guiana é outro imperativo estratégico. Ao facilitar o investimento na exploração e produção de petróleo local, os Estados Unidos podem garantir que os benefícios desses recursos permaneçam dentro da economia local, fomentando o crescimento econômico e a estabilidade. Essa abordagem também reduziria a dependência da Guiana do financiamento chinês, diminuindo o risco de cair em uma armadilha de dívidas.
A região do Esequibo tem sido objeto de vários tratados e acordos ao longo dos anos, particularmente entre a Venezuela e a Guiana. Os acordos notáveis relacionados à disputa do Esequibo incluem:
1. Tratado de Amizade (Venezuela e Grã-Bretanha, 1897): Tinha como objetivo resolver uma disputa fronteiriça entre a Venezuela e a Guiana Britânica (agora Guiana), mas finalmente não resolveu o problema.
2. Laudo Arbitral (1899): Um tribunal de arbitragem internacional decidiu a favor da Guiana Britânica, estabelecendo os limites que incluíam a região do Esequibo como parte do território britânico. A Venezuela posteriormente contestou essa decisão, alegando que se baseava em evidências e argumentos falhos.
3. Acordo de Genebra (1966): Um acordo entre a Venezuela e o Reino Unido (representando a Guiana Britânica) que reconheceu a necessidade de uma resolução pacífica para a disputa fronteiriça, estabelecendo o marco para negociações.
4. Tratado de Port-of-Spain (1970): Este tratado reafirmou o compromisso de ambos os países de resolver suas diferenças pacificamente e chamou à mais negociações sobre a disputa fronteiriça.
5. Processo de Boas Oficiais das Nações Unidas (1982): Após o Acordo de Genebra, as Nações Unidas se envolveram em facilitar o diálogo entre a Venezuela e a Guiana sobre a região do Esequibo.
6. Declaração de Montevidéu (2016): Nesta declaração, ambos os países reafirmaram seu compromisso de buscar uma resolução pacífica para a disputa fronteiriça e concordaram em continuar as discussões sob a égide das Nações Unidas.
A negligência da Administração Biden e suas políticas falhas exacerbaram uma situação já complexa na América do Sul. Como resultado, os Estados Unidos perderam sua capacidade de exercer uma forte influência na região, permitindo que regimes autoritários e potências estrangeiras expandissem seu alcance sem uma oposição significativa. A próxima administração Trump apresenta uma oportunidade para reverter essa maré. Ao adotar uma postura proativa, a nova administração pode restabelecer a presença e influência dos Estados Unidos, particularmente em áreas onde estão em jogo interesses geopolíticos.
Para abordar eficazmente os desafios apresentados pela Venezuela e China, a administração Trump deveria priorizar o fortalecimento de alianças regionais, revitalizar parcerias econômicas, aumentar o compromisso diplomático, apoiar movimentos democráticos e abordar preocupações de segurança. Implementar uma estratégia integral que enfatize parcerias regionais, compromisso econômico e apoio à democracia é essencial para recuperar o papel dos Estados Unidos como ator-chave no hemisfério.
Conclusão
A inação dos Estados Unidos poderia levar a uma perda significativa de influência na região, potencialmente encorajando regimes autoritários e minando as bases da democracia na América do Sul. É imperativo que Washington atue de maneira decisiva para apoiar seu aliado, a Guiana, enquanto protege seus próprios interesses nesta região estrategicamente vital. Ao melhorar os laços econômicos, expandir o apoio militar e fomentar o compromisso dos Estados Unidos no setor petrolífero da Guiana, os Estados Unidos podem contrabalançar as ameaças apresentadas pela agressão venezuelana e pela expansão chinesa, promovendo assim uma América do Sul mais estável e próspera.
Créditos
Esta análise se baseia em relatórios e artigos de diversas fontes, incluindo The New York Times, BBC News, Al Jazeera e Reuters, que cobriram a situação na Venezuela e as dinâmicas geopolíticas em jogo nos últimos anos. Também foram obtidas informações adicionais de publicações como The Washington Post, Bloomberg e Financial Times, fornecendo uma compreensão abrangente do atual panorama geopolítico na América Latina.
Jesús Daniel Romero se tornou oficial através do Programa de Alistados da Marinha e se formou com honras na Universidade Estadual de Norfolk, recebendo uma Licenciatura em Ciências Políticas. Posteriormente, se formou no curso de Adoctrinamento Pré-Voo de Aviação Naval do Comando de Escolas de Aviação Naval e seguiu o treinamento intermediário nos esquadrões VT-10 e VT-86. Serviu a bordo de um cruzador de mísseis nucleares, barcos de operações anfíbias e esquadrões de estado maior, um esquadrão de bombardeio de ala fixa de ataque e uma ala aérea de porta-aviões, foi enviado à Líbia, Bósnia, Iraque e Somália. Prestou serviços em turnos com a Agência de Inteligência de Defesa (DIA) no Panamá, no Centro Conjunto de Inteligência do Pacífico no Havai e no Comando Contábil Conjunto de POW/MIA. Jesús e sua equipe atacaram com sucesso uma organização criminal internacional que operava em vários países e nos Estados Unidos, desmantelando e interrompendo atividades criminosas em nome dos cartéis mexicanos.
William L. Acosta é o fundador e diretor executivo da Equalizer Private Investigations & Security Services Inc. Uma agência de investigação autorizada e vinculada no NYS, FL. Com escritórios e afiliados em todo o mundo. A Equalizer mantém escritórios e filiais nos Estados Unidos em Nova Iorque, Florida e Califórnia. Desde 1999, as investigações da Equalizer têm fechado com sucesso centenas de casos, que vão desde homicídios, pessoas desaparecidas e outros crimes. Ele tem estado envolvido na defesa penal de centenas de casos de defesa penal estaduais e federais que vão desde homicídio, narcóticos, rico, lavagem de dinheiro, conspiração e outros crimes federais e estaduais. Especializa-se em investigações internacionais e multijurisdicionais, e nos últimos anos realizou investigações na Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, França, Inglaterra, México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Panamá, Colômbia, Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador, Peru, Brasil, Porto Rico, República Dominicana, entre outras localidades. Ele dirigiu ou coordenou centenas de investigações relacionadas ao narcotráfico internacional, lavagem de dinheiro e homicídios; e tem sido instrutor e palestrante internacional sobre vários temas de investigação. Especialidades: Investigações de Defesa Criminal, Investigações Internacionais, Homicídios, Operações Encobertas de Narcóticos, Investigações, Investigações de Lavagem de Ativos, Conspiração, Tráfico Internacional de Pessoas, Vigilância, Terrorismo Internacional, Inteligência, Contramedidas de Vigilância Técnica, Investigações de Assuntos Internos, Segurança Nacional.
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