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O Equador enfrenta uma das piores crises energéticas e de segurança na região, os cortes de energia intensificados pela seca e o aumento dos índices de violência marcam um cenário complexo para as eleições presidenciais em fevereiro do próximo ano.
Essas problemáticas não apenas modificaram a qualidade de vida dos equatorianos, mas também erosionaram a confiança nas instituições e, consequentemente, na democracia. Esta situação nos leva a levantar questões sobre a condução das campanhas e como os candidatos deverão desempenhar uma comunicação política eficaz que atenda às expectativas de uma população cada vez mais desencantada com seus representantes.
Nas democracias contemporâneas, a comunicação e as redes sociais têm sido parte fundamental da metamorfose do cenário político, pois essas têm deslocado o papel tradicional dos partidos políticos e se tornado os intermediários entre políticos e cidadãos.
Plataformas como TikTok, Instagram e Facebook transformaram o vínculo entre governantes e governados, formando a ponte que permite aos políticos construir sua legitimidade. Esta teledemocracia facilitou a revitalização da política, no entanto, traz consigo o risco de que a imagem e o espetáculo prevaleçam sobre a capacidade de gestão.
Daniel Noboa assumiu a presidência em 23 de novembro de 2023, após ganhar o balotagem de eleições antecipadas resultantes da crise política do governo de Guillermo Lasso. Noboa alcançou popularidade rapidamente, passando de um político jovem e relativamente desconhecido a se tornar a figura política central do país, sua vitória inesperada surpreendeu não apenas seus oponentes, mas também evidenciou uma nova forma de fazer política no Equador.
Seu governo e estilo de comunicação, no entanto, têm sido tema de debate entre os especialistas e a sociedade civil, que o criticam e enfatizam a falta de preparo para lidar com estratégias efetivas aos problemas que surgem na população equatoriana. Por outro lado, seus defensores consideram que ele não teve tempo suficiente no poder para diminuir a carga de problemas que o Estado acumulou ao longo dos anos.
Qualquer que seja a realidade, a marca deixada por Daniel Noboa marcará um antes e um depois na forma de fazer política no país. Sua equipe de trabalho não apenas entendeu a importância do fenômeno da mediatização da política, o papel atual dos partidos políticos e das redes para a construção de uma imagem de liderança, mas também souberam ouvir e conectar-se diretamente com o eleitorado jovem, que carregava consigo o cansaço da polarização correísmo-anticorreísmo.
Agora bem, esse líder de popularidade, como mencionou certa vez Cheresky, também conta com uma fraqueza importante que recai sobre sua dependência das oscilações da opinião pública; é por esse motivo que, após os últimos acontecimentos, a popularidade do atual presidente caiu, o que coloca em risco sua possibilidade de reeleição.
Tanto o governo quanto o correísmo lideram a intenção de votos para as próximas eleições, segundo pesquisas de opinião. Noboa enfrentará a candidata Luisa Gonzales, representante do partido do ex-presidente Rafael Correa, que no passado foi derrotada por uma pequena margem; no entanto, ambos têm grandes desafios a vencer.
O desafio principal do atual presidente será demonstrar que está capacitado para liderar o país, deverá enfatizar a gestão, tentando recuperar a confiança da cidadania. Isso deverá ser feito não apenas expondo o contexto e o pano de fundo dos problemas políticos e suas decisões, com franqueza e transparência, mas também deverá propor soluções reais que vão além dos discursos e símbolos.
Por outro lado, a oposição conta com quadros políticos experientes, no entanto, não souberam conectar-se com o eleitorado moderno, campo em que Noboa se destacou. Seu desafio primordial reside na habilidade comunicacional, considerando que a identidade partidária característica durante governos e eleições anteriores perdeu relevância na política atual. Deverão apostar no vínculo direto entre políticos e cidadãos sem cair no populismo, reconhecendo as instituições e o pluralismo, mas também oferecendo respostas às demandas mais urgentes da população que não necessariamente envolvam uma ideologia ou cosmovisão do mundo.
Com esse panorama, enfrentamos as eleições. Entre apagões e tiktoks, os candidatos não apenas terão que canalizar a insatisfação da população equatoriana frente às adversidades, mas também deverão apresentar planos de governo concretos e, acima de tudo, realizar um árduo trabalho para decifrar os novos códigos da política que lhes permita ser ouvidos e eleitos para governar.
Essas eleições são decisivas para a vida de milhões de equatorianos que não apenas perderam seus empregos, mas foram despojados de seus lares e famílias ao se verem obrigados a emigrar por conta da insegurança e da falta de oportunidades. É hora de a política recuperar a esperança e devolver a estabilidade a um país que se encontra entre as sombras.
As redes sociais e a comunicação serão fundamentais neste processo, mas sozinhas não bastarão; o futuro do país dependerá de uma liderança que esteja disposta a equilibrar comunicação e ação, demonstrando a disposição de prestar contas, o compromisso com a transparência e, acima de tudo, que seja competitiva e garanta uma mudança real.
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