04/10/2024 - politica-e-sociedade

Buenos Aires: a capital que concentra toda uma nação

Por Facundo Alvarez Santana

Buenos Aires: a capital que concentra toda uma nação

Buenos Aires é uma das cidades mais populosas do mundo, mas faz parte de um país com baixa densidade populacional. Como é possível que uma cidade concentre tanta gente e o resto da Argentina não?

Se classificarmos as cidades do mundo por ordem de população, Buenos Aires ocupa o 23º lugar. Na América Latina, só é ultrapassada pela Cidade do México e por São Paulo. Juntamente com a sua área metropolitana, a capital argentina alberga quase 17 milhões de pessoas, o que representa 36% da população total do país, apesar de ocupar apenas 0,5% da superfície do país. Em comparação, a Cidade do México tem 19% da população do país e São Paulo 11%.

A Argentina tem uma densidade de 16 pessoas por quilómetro quadrado, o que a coloca entre os 20% de países menos densamente povoados do mundo. Este paradoxo resulta da concentração da população em Buenos Aires, mas nem sempre foi assim. Nos séculos passados, a área era quase despovoada, enquanto outras regiões, como Tenochtitlan (atual Cidade do México) ou Cuzco (no Peru), eram centros urbanos proeminentes. Buenos Aires foi fundada no século XVI, mas foi só em 1776, com a criação do Vice-Reino do Rio da Prata e a consolidação do porto, que a cidade começou a ganhar relevância.

O boom demográfico de Buenos Aires ocorreu no final do século XIX, impulsionado pela estabilidade política e económica após a independência e pela chegada de investimentos ferroviários, especialmente britânicos, que ajudaram a desenvolver uma rede ferroviária avançada. Este crescimento económico atraiu imigrantes, principalmente de Itália e Espanha, mas também de países como a Alemanha, a Polónia e a Síria. Buenos Aires tornou-se um íman para aqueles que procuravam melhores oportunidades, tanto estrangeiros como nacionais. Ao longo do século XX, a cidade continuou a atrair pessoas de outras províncias do país, muitas das quais se estabeleceram na Grande Buenos Aires, alimentando o crescimento industrial.

Durante o século XX, vários governos tentaram descentralizar a população com medidas como promoções industriais, salários diferenciados para regiões específicas e até mesmo a proposta de mudança da capital para Viedma em 1986. No entanto, a concentração em Buenos Aires nunca deixou de aumentar. Além disso, nas últimas décadas, Buenos Aires tem recebido novas vagas de migrantes de países vizinhos e de outros continentes.

O contraste entre o norte e o sul do país também é marcante. Seis províncias do norte, que ocupam um terço do território argentino, albergam apenas 6% da população. Por outro lado, zonas como a Patagónia, apesar da sua beleza natural, são escassamente povoadas devido ao seu clima rigoroso e às longas distâncias entre as cidades.

A concentração da população em Buenos Aires traz consigo desafios urbanos, económicos e políticos. Para o futuro, poderiam ser exploradas alternativas para alcançar um maior equilíbrio demográfico, como o incentivo ao crescimento de cidades intermédias mais pequenas, onde a qualidade de vida é melhor e o acesso aos serviços é mais fácil. Com a pandemia, muitas pessoas começaram a trabalhar remotamente, o que poderia facilitar a descentralização, promovendo a criação de novas cidades e melhorando a vida no interior do país.

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Facundo Alvarez Santana

Facundo Alvarez Santana

Advogada pela Universidade Argentina John F. Kennedy. Cursando MBA em Talentos na Pontificia Universidad Católica Argentina.

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