Economia na Argentina: Quem marca o rumo desta crise?
Por melina ferreira bravo
Crise econômica e ciclos políticos na Argentina: Quem marca o ritmo a quem?
O ano de 2023 não é um ano como qualquer outro. Como estipula a nossa constituição democrática é hora de escolher aqueles que nos governam pelos próximos quatro anos. Colocar o voto na urna não é uma tarefa simples quando nos vemos envolvidos em uma cultura polìtica que se empecinado em procurar culpados e chivos expiatórios perante o desastre econômico com o qual convivimos como sociedade. Anos consecutivos de altas taxas inflacionárias, crises e níveis de desigualdade que não param de crescer e dívidas cujos saldos se mostram inatingíveis, são alguns dos conflitos que parecem caracterizar a Argentina desde tempos imemoriais. É assim como se não são os 70 anos de peronismo, é a mudança de modelo econômico da ditadura, os despilfarros dos 90, ou a dívida eterna que tomou o macrismo. Asuma que asuma sempre nos encontramos com o discurso de “a herança pesada”.Agora, é altura de repensarmos se o contexto económico em que nos vemos envolvidos tem um paralelismo com a perpecia de que seja mais bem a política, com as suas naturezas cíclicas e atores que procuram maximizar os seus próprios lucros, que marca o ritmo à economia.Ciclos eleitorais e Ineficiência Econômica
A literatura politológica nos apresenta o fenômeno do ciclo eleitoral e suas consequências em matéria de política fiscal e monetária. As hipóteses, e as conclusões, são claras e não nos são para nada alheias. Essencialmente, o que nos dizem múltiplos autores da disciplina, é que dependendo se nos encontramos em um ano eleitoral ou não veremos determinada política econômica. É assim que em anos eleitorais é facilmente reconhecível uma política fiscal e monetária expansiva, ou seja, emissão sem apoio, aumento significativo da despesa pública, criação de emprego, queda da reserva internacional, etc.A premissa é simples: os políticos oficiais irão aumentar as despesas, especialmente as despesas mais visíveis, para que o eleitor considere esses candidatos como capazes e competitivos. Cabe ressaltar que grande parte da literatura, embora reconheça ao votante como um ator racional, destaca predomínio de preferências curtoplacistas no mesmo. Dessa forma, enquanto mais próxima a escolha, maior é a despesa e a publicidade do mesmo. Uma vez passadas as eleições, quando o novo governo (ou governo reeleito), o gasto tende sistematicamente a descer, uma vez que o primeiro ano de mandato sempre se conta com um índice de confiança aceitável no qual a manipulação do eleitorado já não é necessária. O pai desta literatura sobre ciclos políticos econômicos, Nordhaus, deixa claro que esses estudos têm um correlato com o evidente manifesto de que os eleitores se preocupam com a sua economia cotidiana enquanto os políticos se preocupam lisamente com o poder.É claro que, no momento, não estamos a levantar nada novo. É usual nos toparmos em anos eletivos com uma multiplicidade de inaugurações de edifícios públicos que nos prometem cultura, esporte e aprendizagem de novas tecnologias ou ruas que conseguiram ser asfaltadas após anos de insistência de parte de vizinhos. No entanto, a problemática surge uma vez passadas as eleições, momento em que podemos ver as consequências na eficiência econômica de políticas que foram pensadas para gerar um triunfo eleitoral. Desta forma, deixam-se entrever os projetos inacabados, as obras que foram fotografadas de todo angulos agora já paralisadas, as polìticas que claramente não foram craneadas para ter um output desejável e duradouro no tempo, mas sobretudo, e ainda mais premente, nos encontramos com uma situação macroeconómica pendente do fio mais fino de todos.A situação de criseactual
A actual situação económica e o desafio de um ano eleitoral
Uma escassez aguda de dólares, uma seca abrasadora que atinge o sector agro-exportador gerador de divisas, ocasionando perdas que se calculam entre 7.000 e 9.000 milhões de dólares em comparação com as colheitas anteriores, uma inflação que em Fevereiro ultrapassou os temidas três números homólogas, uma lacuna excessiva entre o dólar oficial e o paralelo que geram ainda mais expectativas de desvalorização, pactos com promessas inaboráveis com o Fundo Monetário e a necessidade de pagar importações de indústrias-chave parece sentençar que uma política económica que se duplogue a necessidades eleitorais do governo de turno poderia originar um caos económico de grande magnitude.Ciclos eleitorais e política econômica na América Latina
Em seu estudo sobre ciclos eleitorais na América Latina, Streb e Lema concluem que as reservas em moeda estrangeira caem sistematicamente em anos de eleições , em uma tentativa de não desvalorizar e gastar compulsivamente, e que, em anos pós- eleitorais, a desvalorização, e a consequente inflação, chega com maior brutalidade. Em síntese, as expansões fiscais e as despesas com a venda de uma eleição ao eleitorado são corrigidas consecutivamente com um imposto inflacionário após as eleições. Além disso, conclui-se que existe um domínio fiscal da política monetária que, por sua vez, se encontra atravessado por interesses eleitorais.Estabilidade institucional e manipulação da política monetária
Fazendo um pouco de política comparada, ambos os autores observam que esses ciclos eleitorais se encontram especialmente em países em desenvolvimento. O que tem o nosso país, e tantos outros, que se tornam propensos a sofrer esta lógica política econômica? A resposta está na fraqueza das nossas instituições e na falta de pesos e contrapesos, ou também chamadas salvaguardas institucionais, entre os diferentes Poderes que compõem o governo. O poder discricionário de que se vale o Executivo é uma variável-chave a explicar a falta de limites à hora de subordinar a política econômica ao desejo eleitoral. Em simultâneo, a falta de independência do Banco Central é outro factor chave na manipulação cíclica da política monetária.Tentar manipular a economia inescrupulosamente no contexto atual é uma arma de duplo filo, e o oficialismo, ou pelo menos a parte mais racional do mesmo, sabe. Não só sabe como é vigiado pelos seus credores. Por este motivo, o Massa optou por realizar algumas medidas impopulares como a venda em obrigações dólares da ANSES. No entanto, as estratégias gradualistas do Ministro estão longe de garantir um sucesso económico ou uma base sólida para os candidatos do seu partido, ou para ele mesmo. A esperança de uma tendência de inflação baixa é apenas uma lembrança. 9,8% da inflação em alimentos desencadeou os temidos três dígitos. A ideia de uma inflação anual de 60% perez ao vislumbrar a inflação destes primeiros meses do ano. Por seu lado, a pata kirchnerista de governo, embora reconheça a inocuidade do défice fiscal e a falta de divisas, propõe receitas já ensaiadas que só agravaria o estado das contas do Estado e seu consequente efeito no poder de compra dos seus cidadãos. O plano parece ser simplesmente ampliar a queda.A gravidade da situação actual retira a margem para o jogo polìtico. O problema não é quem herede que ou que ideologia prevaleça em Casa Rosada, mas a realidade de estar imerso em um ciclo no qual a economia está duplada à luta pelo poder. A inércia em que a economia está a cair é muito difícil de travar, e o que podemos estar seguros é que um freio fictício, um peso forte fictício criado por uma necessidade eleitoral, só nos assegurará mais ossos quebrados quando chegarmos ao chão.Deseja validar este artigo?
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melina ferreira bravo
Olá! Sou licenciada em Ciência Política e Governo com especialização em Governo da Universidade Torcuato Di Tella. Durante minha trajetória acadêmica, fiz uma troca na Universidade Pompeu Fabra, Barcelona. Na mesma, continuei a minha formação em relação a Política de Genero e Avaliação de Projetos Públicos. Atualmente eu me desempenho em Recursos Humanos no setor público.
Eu gosto de um bom debate interdisciplinar e de qualquer oportunidade que ofereça a possibilidade de aprendizagem.
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