Imagem do vice-presidente Dick Cheney ao lado do ex-presidente George W. Bush
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, faleceu aos 84 anos. Segundo informado pela sua família, ele morreu devido a complicações decorrentes de uma pneumonia e de uma doença cardiovascular, já que desde os 37 anos sofre de problemas cardíacos e somente em 2012 recebeu um transplante de coração.
Cheney nasceu em 30 de janeiro de 1941 em Lincoln, Nebraska, estudou como bolsista na Universidade de Yale, mas não terminou os estudos. Anos mais tarde, frequentou a Universidade de Wyoming, onde obteve um bacharelado e um mestrado em Ciências Políticas. Com apenas 34 anos, tornou-se chefe de gabinete durante as presidências republicanas de Richard Nixon e Gerald Ford (1969-1977, respectivamente), antes de passar uma década na Câmara dos Representantes. Desde 1978, ele foi eleito como representante do distrito congresional em Wyoming na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos até 1989.
Depois, durante a presidência de George H. W. Bush (1989-1993), foi secretário de defesa e dirigiu o Pentágono durante a Guerra do Golfo Pérsico em 1991, quando o Iraque, liderado por Saddam Hussein, invadiu o Kuwait para obter as reservas de petróleo do emirado e resolver o déficit econômico que o Iraque enfrentava desde a guerra com o Irã (1980-1990). Os Estados Unidos organizaram uma coalizão apoiada pelas Nações Unidas para expulsar as tropas iraquianas do Kuwait, cuja operação foi um sucesso.
No ano 2000, foi escolhido pelo então governador do Texas, George W. Bush, como candidato a vice-presidente para as eleições presidenciais daquele ano, onde derrotaram de uma forma muito contestada Al Gore, candidato democrata, após uma decisão da Suprema Corte que declarou George Bush vencedor no estado da Flórida. Em 2001, ele começaria sua carreira como vice-presidente e desempenhou um papel muito importante, superando a maioria de seus predecessores na hora de tomar decisões. Por esse cargo, Cheney ficaria na história, além de ser fonte de controvérsias em relação à sua reputação política.
Dick Cheney transformou seu cargo de vice-presidente, sem poder formal, em uma espécie de presidência de fato, na qual supervisionou a política externa e a segurança nacional após os ataques de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova York e a uma base do Pentágono em Arlington, Virgínia, nos arredores de Washington D.C. Além disso, Cheney foi um dos mentores da "Guerra ao Terror", que significou as invasões ao Afeganistão em 2002 e ao Iraque em 2003, já que ele mesmo afirmou que o regime de Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, que jamais apareceram durante a ocupação militar no Iraque, ideia que foi apoiada por outras figuras do gabinete de Bush, como Donald Rumsfeld (Secretário de Defesa), Paul Wolfowitz (Subsecretário de Defesa), Condoleezza Rice (Conselheira de Segurança Nacional e depois Secretária de Estado) e Colin Powell, secretário de Estado durante o primeiro mandato de George W. Bush (2001-2005), que pediu apoio à ONU, organização que não apoiou a invasão dos Estados Unidos e seus aliados ao Iraque.
Cheney também apoiou a ideia de construir as polêmicas instalações na Base Guantánamo, Cuba, onde eram aprisionados todos os suspeitos vinculados ao terrorismo provenientes da Al Qaeda, grupo islâmico liderado por Osama Bin Laden, que assumiu a responsabilidade pelos ataques de 11 de setembro, afirmando que os atacantes sofreriam "a reação do poder militar dos Estados Unidos". Em 2005, ele advertiu que as décadas de esforços pacientes na guerra contra o terrorismo encontrariam a resistência daqueles cuja esperança de poder reside na propagação da violência.
Após terminar seu mandato como vice-presidente, parecia que se afastaria da política, mas não foi assim, pois apoiou sua filha Liz em sua carreira política na Câmara dos Representantes por Wyoming, e será lembrado por seu apoio ao casamento igualitário. Ele, que era conhecido como uma pessoa de uma linha conservadora dura da administração Bush, apoiava o casamento igualitário por razões pessoais e familiares, já que sua filha mais nova, Mary, era abertamente lésbica, e hoje tem uma parceira e filhos com ela. Ao mesmo tempo, defendia uma ideologia de liberdade individual, na qual os governos não deveriam interferir na vida privada dos cidadãos.
No Partido Republicano, ele continuou a influenciar e trabalhar para o mesmo, especialmente desde 2016, quando se tornou um grande opositor do presidente Donald Trump, começando com sua consternação pelas acusações de interferência russa nas eleições presidenciais entre Trump e Hillary Clinton. Ele também criticou Trump por sua aparente indiferença em relação à OTAN. Essa convicção foi mantida em 2020 e 2024, quando dois meses antes das eleições presidenciais, anunciou que votaria em Kamala Harris, pois sustentou que Trump era uma ameaça para os Estados Unidos. Donald Trump respondeu às agressões e críticas de Cheney, chamando-o de "Rino irrelevante" e "Republicano apenas de nome", e provocou que o ex-vice-presidente se tornasse uma pessoa "não grata" dentro do Partido Republicano. Apesar disso, Cheney recebeu elogios de alguns setores de esquerda que, em anos anteriores, o haviam censurado.
A morte de Dick Cheney marca o fim de uma geração política que governou sob a lógica do medo e da segurança total, ao confluir a eficiência da burocracia e a dureza da estratégia, um equilíbrio que definiu a política externa dos Estados Unidos. Seu legado convida a revisar até que ponto a segurança nacional pode se impor sobre a transparência democrática sem colocar em risco os valores que se pretende defender, questão que abre um espaço para a reflexão.

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