Foto tirada do Universo. Capturada por José Beltrán
Há pouco tempo, um dos meus professores da faculdade disse algo que me deixou refletindo e mudou minha perspectiva sobre política; ele mencionou que o que mais custa ao estado não é comumente o que incomoda a maioria dos cidadãos, como os altos salários ou os privilégios de certos funcionários, mas sim a ineptidão.
Assim que ouvi isso, na minha cabeça clicaram muitas situações em que a inoperância do estado afetou negativamente a qualidade de vida dos equatorianos e como, em um país tão desgastado, sangrado e abandonado por seus representantes, a ineptidão nos custou, até mesmo a vida.
Se até este ponto você acha que exagero, basta colocar-se no lugar das famílias de Steven, Saúl, Josué e Ismael, garotos entre 11 e 15 anos que desapareceram no Sul de Guayaquil, no Equador, e que supostamente foram capturados pelas forças militares no dia 8 de dezembro passado.
Os menores foram detidos, maltratados e levados a uma base aérea a 45 minutos do local onde foram apreendidos. Na noite do desaparecimento, um deles conseguiu se comunicar com a família e alertar sobre o ocorrido; a polícia interveio e foi ao local, no entanto, apenas encontraram roupas que pertenciam a eles e desde então não há mais vestígios.
Passaram-se treze dias para que o governo nacional se pronunciasse a respeito, quatorze dias até que o presidente mencionasse o caso publicamente. Enquanto a campanha pela presidência não para, as famílias sofrem e os equatorianos temem por sua própria segurança e a de seus entes queridos.
Embora as investigações estejam em andamento, as inconsistências nos relatos oficiais foram notáveis. A princípio, as autoridades afirmaram que as forças militares não estavam envolvidas; depois admitiram que as crianças foram detidas como parte de uma operação, mas que tinham sido liberadas. Em meio a essa confusão, o ministro da defesa tenta posicionar uma narrativa contra os menores, enquanto o presidente sugere chamá-los de “heróis nacionais”. A população não está interessada nesse espetáculo midiático; o que exigimos é uma resposta clara: ONDE ESTÃO AS CRIANÇAS?
O caso dos quatro meninos não é um fato isolado; nos últimos meses, temos sido testemunhas de como a ineptidão e a inoperância governamental permitiram que situações altamente violentas, desaparecimentos e violações de direitos humanos ficassem impunes.
No artigo passado, abordei como nas democracias atuais precisamos de líderes dispostos a ouvir e agir, porque os TikToks e as capas de revistas em um cenário tão complexo não são suficientes. A negligência estatal não representa apenas a inação das autoridades, mas também implica uma desconexão profunda entre as necessidades da população e as instituições estatais, uma lacuna que se amplia a cada vez que o governo evita sua responsabilidade de agir com transparência e eficiência em crises de tal magnitude.
Então sim, a inoperância do governo mata. Quando um estado falha em garantir segurança, justiça e respostas, a vida dos cidadãos está em perigo por ação ou omissão. Casos como este refletem como a indolência estatal perpetua ciclos de violência e impunidade.
A reflexão que os líderes devem se fazer agora é: como esperam que a sociedade confie em um sistema que constantemente falha em cumprir suas funções mais essenciais, como a de proteger sua população? Como pretendem que os cidadãos os apoiem nas urnas com seus votos se não são capazes de se comprometer de forma real e genuína com a defesa e promoção dos direitos humanos?
O que é indiscutível é que a sociedade equatoriana merece algo melhor, representantes que sejam eficientes e que atuem com transparência e sensibilidade para com a dor de seu povo. Hoje, a esperança de todo o Equador é que Steven, Saúl, Josué e Ismael voltem sãos e salvos para casa, para aliviar a dor de suas famílias e restaurar, mesmo que seja uma mínima parte, o anseio por justiça e segurança em nosso país.
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