19/02/2024 - Política e Sociedade

“O principal problema do governo é que ainda não mostra uma estratégia anti-inflacionária”

Por Sergio Berensztein

“O principal problema do governo é que ainda não mostra uma estratégia anti-inflacionária”

O tratamento da “lei ônibus”, a situação do governo a quase dois meses de assumir, o Presidente conserva a sua imagem positiva? Como continuará a governar ainda com os desajustes internos que transcendem? e qual será o tratamento com os governadores a partir deste novo contexto foram alguns dos questionamentos levantados ao analista político Sergio Berensztein em um diálogo que manteve com EL LIBERAL.

Qual é o principal problema que este governo tem nestes 45/50 dias de gestão?

Penso que o principal problema do governo é que ainda não mostra uma estratégia anti-inflacionária, em parte porque não pode porque quer que os preços relativos se aponham antes de lançar um plano, não pode, não quer, não renuncia à dolarização e ao mesmo tempo não estão as condições para dolarizar e também não sabemos se pode doarizar justamente pelos acordos com o FMI. A principal força do governo é a sua principal fraqueza e justamente esta ideia que a economia vai melhorar vai prosperar este ano é o que acredita em 44% da população. Para isso, tem de baixar a inflação. Milei vai ser lembrado para o bem ou para o mal, é a minha hipótese pessoal, não tanto pela profundidade de seu digamos proclamada revolução, mudança de regime, mas muito mais por se é capaz de baixar a inflação ou não. Se não houver uma inflação baixa, será muito difícil avançar no resto da agenda e ainda há dúvidas de quando e como o conseguirá.

Que reflexão surge após estas duas semanas de debate da "lei ônibus" e sua aprovação em geral?

Este debate expôs boa parte das coisas que sabíamos da política argentina e outras novas. Houve uma reconfiguração da ordem partidária nestas eleições. Elegeu-se um presidente sem partido, uma derrota das duas grandes coligações que haviam governado a Argentina desde 83 até a data. Mas é interessante marcar que tanto dentro como fora do Congresso houve muitas continuidades. Em primeiro lugar, fora do Congresso os grupos de sempre procurando gerar todo tipo de distúrbios, paralisia, mesmo dentro do Congresso deputados sobre todo a União pela Pátria e da Esquerda que tentaram travar a sessão como em dezembro de 2017 quando se debateu a nova fórmula do cálculo das aposentadorias, típicos estertores de um sistema que ainda não morreu por mais que efetivamente nasceu esta nova opção chamada A Liberdade Avançada.

Mas, dentro, prevaleceu uma lógica de negociação política que também faz parte das antigas práticas, mas que neste caso é positivo porque havia uma posição muito dogmática do governo. O que vimos com inúmeras negociações é um governo cedendo. Há duas maneiras de olhar para isto. Por um lado, há parte das pessoas que dizem o governo cede e desvirtua o espírito da norma. No governo, é a interpretação contrária: Obtiveram boa parte do que buscaram. Eles foram por tudo para obter uma parte. Entre o DNU e esta lei, o governo pôde avançar naquilo que queria que fosse marcar uma bandeira para onde quer que a Argentina se dirija.

Com as concessões que houve, o governo de Milei será o que ele projetou ou o “possível”?

Primeiro, há que entender que vai haver novas concessões no Senado, que isso não acaba. Acima de tudo, pela postura de alguns governadores de quererem lá, coparticipar os rendimentos do imposto Pais. Esta luta, vai continuar. Na medida em que o Governo não apresente um plano fiscal, uma reforma fiscal abrangente, e enquanto não houver orçamento, estaremos nesta proposta de recursos. É preciso olhar para isto como um primeiro passo, uma estratégia de governo que obteve instrumentos muito mais contundentes, quando se compara com outros e lhe dá margem de manobra no primeiro ano para mostrar resultados.

O governo continua a contar com um apoio forte da cidadania que o votou?

Os dados que nós coletamos com o monitor mostram que o governo ainda tem muito apoio. Sempre acontece que diante de um triunfo, há um setor que não o votou da sociedade que tende a acompanhar e é o primeiro setor que tende a abandonar esse acompanhamento. É provável que isso esteja a ser dado, mas continua a ser Milei um dos políticos com melhor imagem, continua a haver uma relativa confiança no governo. Ainda não vejo que haja sintomas contundentes de que o apoio dos eleitores tenha sido rescaldo em segunda volta a Milei.

Como você vê o futuro do governo ainda com seus desajustes internos?

O que é preciso entender é que todos os novos governos têm uma curva de aprendizagem, que têm diferentes dimensões passa pelo funcionamento interno, a comunicação, há uma dinâmica que corresponde simplesmente ao Presidente, outra à forma de funcionar que o governo tem. Quando são antigos governadores ou pessoas que tiveram alguma experiência de gestão é geralmente mais fácil. No caso de Milei ele tende a se fechar em um círculo muito íntimo. São os primeiros passos de um governo recém-chegado, que enfrenta uma crise muito aguda e que também se vê como transformacional, com vocação para instalar um novo regime econômico político e isso requer necessariamente tempo até que se estabelece uma dinâmica de funcionamento interno. No interin sempre há líos, pujas pelo poder, é o normal na política em todos os lados.

José Aranda

Fonte:https://www.elliberal.com.ar/nota/14273/2024/02/el-principal-problema-del-governo-es-que-aun-no-muestra-una-estrategia-antiinflacionaria

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Sergio Berensztein

Sergio Berensztein

SERGIO BERENSZTEIN. PH.D. EM CIÊNCIA POLÍTICA (UNIVERSITY OF NORTH CAROLINA, CHAPEL HILL). BACHAREL EM HISTÓRIA (UNIVERSIDADE DE BUENOS AIRES). PRESIDENTE DA 'BERENSZTEIN, CONSULTORA DE ANÁLISE POLÍTICA'.

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