Manifestações palestinas em pleno Londres, Inglaterra
INTRODUÇÃO
Hoje em dia, a Europa está sendo constantemente atingida por múltiplas ondas migratórias provenientes tanto do Oriente Médio quanto da África, ocasionadas principalmente por conflitos, crises econômicas ou perseguições sofridas no país de origem do migrante. No entanto, não se deve confundir esse fenômeno como algo novo no "Velho Continente", uma vez que, aproximadamente desde o ano de 2013, os países europeus passaram a receber grandes ondas de migrantes vindos de muitas partes do globo. Diante desse fato, podemos observar diversas reações dos atores envolvidos, com o objetivo de apaziguar ou reduzir o impacto desse vendaval de migrantes. As implicações culturais, sociais e políticas geradas pelas migrações dessas regiões são consideráveis e são objeto de discussão no âmbito internacional.
Por isso, ao longo deste artigo, tentarei dar a melhor resposta possível à seguinte pergunta: O que aguardará a Europa na próxima década como resultado desse fenômeno? Para responder a essa pergunta, é necessário descrever a situação migratória atual e como a Europa reage de ambos os lados.
Migrações Africanas
Atualmente, o continente africano está infestado de polo a polo por diversos regimes não democráticos (exceto algumas exceções), que limitam sua população ao acesso aos direitos humanos básicos, entre outras coisas. Isso, somado à grave situação econômica e social desses países, é a principal causa do incentivo migratório para seus habitantes. Estando em crise dessa magnitude, os africanos fogem de seus países em busca de uma vida melhor no continente europeu, sem se importar que suas próprias vidas estão em jogo ao fazê-lo. Esses migrantes são em sua maioria ilegais, pois utilizam rotas marítimas para alcançar o tão desejado destino sem serem registrados. Os cidadãos africanos realizam sua fuga utilizando embarcações precárias ou outros meios de transporte alugados para enfrentar as furiosas correntes do Mar Mediterrâneo, o que, como era de se esperar, culmina em acidentes, desaparecimentos ou até mesmo na morte. Para se ter uma ideia, entre 2014 e 2021, foram registradas aproximadamente 17.000 mortes de imigrantes ilegais provenientes do continente africano em águas marítimas (cerca de 2.500 mortos por ano). Para se ter uma referência, o número máximo de migrantes da África para a Europa ocorreu em 2016, com aproximadamente 180.000 civis, dos quais 5.000 faleceram ou desapareceram, ou seja, 1 a cada 35 migrantes não chega ao destino final. Eles têm como objetivo chegar ao território europeu mais próximo de seu continente de origem, que são ilhas localizadas no Mar Mediterrâneo, mais precisamente as Ilhas Canárias (Espanha), Lampedusa (Itália) e Dodecaneso (Grécia), entre outras. É aqui que começam as colisões entre os africanos e o mundo europeu ocidental. A ilha de Lampedusa é a mais afetada pelos fluxos migratórios, recebendo quase cinco vezes sua população em imigrantes africanos. A ilha tem cerca de 6.000 habitantes e recebe aproximadamente 30.000 imigrantes anualmente (com variações conforme o ano), o que afeta enormemente não apenas a infraestrutura do arquipélago, mas também alimenta o descontentamento generalizado de sua população.
Um dado interessante é que a atual presidenta italiana, Giorgia Meloni, militou junto aos moradores dessa ilha e hoje, já no poder, tomou medidas muito restritivas para os imigrantes. Por exemplo, em 2023, a primeira-ministra impulsionou medidas que limitam a ação das ONGs que resgatam imigrantes ilegais no Mar Mediterrâneo e medidas que agilizam as deportações.

Giorgia Meloni e Ursula Von der Leyen visitam a ilha de Lampedusa, Itália.
Migrações do Oriente Médio
A migração proveniente da África é significativa, mas não se compara às massivas e repentinas ondas que o Ocidente recebe do leste do continente europeu. Estima-se que, apenas em 2015, migraram aproximadamente 1,3 milhões de cidadãos do Oriente Médio para a Europa. No entanto, em 2010, foram registrados apenas cerca de 40.000, o que evidencia que as migrações provenientes do Oriente se manifestam em picos migratórios extremamente acentuados, ao contrário das migrações africanas que ocorrem de forma muito menos abrupta.
Hungria e Grécia são os países que mais recebem migrantes por sua proximidade com esse setor do globo, recebendo grandes cargas migratórias anualmente. Ambos os países expressam um constante desconforto pela presença excessiva de imigrantes em seu território, pois tanto na Grécia quanto na Hungria a imigração representa uma porcentagem populacional considerável, com 12,55% e 7%, respectivamente. Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria desde 2010, impulsionou uma série de regulamentações que afetam direta e indiretamente tanto os imigrantes que estão prestes a entrar no país quanto os imigrantes já residentes, argumentando que a presença excessiva deles coloca em risco tanto sua sociedade e cultura como nação. Dentro dessas reformas, foram incluídas a construção de uma enorme cerca na fronteira e o endurecimento das leis de asilo, dificultando a obtenção de proteção internacional para os migrantes na Hungria.

Cerca fronteiriça húngara em construção
Choque cultural: Consequências sociais e políticas da imigração
É nesse contexto que surge, sob meu ponto de vista, o aspecto detonante de todos os problemas que a Europa enfrenta em relação à imigração: O choque cultural. Essa colisão de culturas, ou também chamada “Clash of Civilizations” em inglês, se reflete no átomo de cada sociedade europeia pelos atritos cotidianos e diferentes tipos de conflitos que geram consequências para ambas as partes. Os imigrantes são vítimas de xenofobia e discriminação por parte da população local, sem contar as medidas repressivas que enfrentam em alguns países europeus, como as que já mencionei. No entanto, não são as únicas vítimas, pois para os cidadãos locais a chamada "Crise de Identidade" é algo recorrente e ocorre quando suas identidades culturais locais se veem ameaçadas por influências externas (neste caso, a presença de imigrantes de culturas muito contrastantes). Essa colisão social e cultural tende a escalar, dependendo do país, a tal ponto que são criadas mobilizações políticas tanto de afrodescendentes quanto de muçulmanos ou islâmicos, impulsionadas por personalidades políticas islâmicas e afrodescendentes, com orientações alinhadas às tradições e culturas de seus países de origem. Esses costumes são absolutamente incompatíveis com a percepção ocidental sobre certos tópicos centrais, como os direitos das mulheres e a universalidade da religião, entre muitas outras coisas. O problema surge porque essas figuras políticas não apenas se consolidam, mas também ganham grande relevância na esfera política. Há apenas alguns meses, foram divulgados os resultados das eleições municipais inglesas, nas quais o islamismo teve um sucesso rotundo em comparação com eleições passadas, ganhando 9 prefeituras, incluindo nada menos que a prefeitura de Londres, Birmingham, Leeds, entre outras.
Seguindo um pouco mais com esse caso, o último censo indica que 17% da população inglesa é estrangeira e 6,5% pertence ao Islam, tornando assim esses candidatos políticos representativos e politicamente estáveis, já que promovem formas de pensar ou costumes apoiados por esse eleitorado. Anexo uma frase dita por Mothin Ali, conselheiro da cidade de Leeds: “Não seremos silenciados. Levaremos a voz de Gaza. Levaremos a voz da Palestina. ¡Allahu Akbar!”. Sem dúvida, podemos observar aqui um pensamento com claros contornos orientais, pois faz referência a um conflito em que a Inglaterra tomou uma postura a favor de Israel (assim como muitos países ocidentais), uma postura que é completamente oposta ao que é expresso por Ali. Estamos falando de quase 4 milhões de pessoas que não apenas apoiam, mas militam fervorosamente a favor desse tipo de candidatos políticos, tornando-os assim uma influência bastante relevante na cena política, como já vimos anteriormente.

Mothin Ali em manifestações Pró-Palestina
Como reagem os organismos internacionais?
Passando para o âmbito internacional, observamos uma conduta um tanto controversa da União Europeia. Ao se ver em apuros com os centenas de milhares ou, às vezes, milhões de imigrantes anuais, a presidenta do comitê da União Europeia, Ursula von der Leyen, decidiu fazer um pacto com alguns governos africanos costeiros do Mar Mediterrâneo. A controvérsia surge devido à má fama desses estados, que se manifestam abertamente como estados autocráticos. Os pactos são baseados em uma enorme contribuição econômica e humanitária por parte da União Europeia para esses países africanos, com o objetivo de que melhorem seus respectivos controles fronteiriços marítimos, a fim de limitar a migração maciça. No entanto, esses acordos não tiveram o efeito desejado, gerando, ao contrário, uma certa forma de chantagem dos segundos para com os primeiros, articulando certos eventos para, de certa maneira, extorquir a União Europeia em busca de mais fundos. Esses fundos são desviados pelos estados africanos e orientais com o objetivo de impulsionar questões de estado, geralmente relacionadas ao poder militar. Por exemplo, no início de 2020, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan solicitou ajuda à União Europeia e à OTAN para obter apoio em suas operações militares na Síria, seu país vizinho. É importante considerar que a Turquia abriga a maior quantidade de refugiados sírios (3,6 milhões) e fez um pacto com as organizações internacionais europeias para receber apoio financeiro e humanitário em troca da retenção desses migrantes dentro do território turco. No entanto, quando Erdogan solicitou tanto à OTAN quanto à União Europeia, apoio financeiro para a Turquia, o que recebeu delas foi apenas completa inoperância. É por isso que, em resposta a essa inação, Erdogan ordenou abrir as fronteiras com a Grécia, liberando aproximadamente 50.000 migrantes para o território europeu, comprometendo fortemente os controles fronteiriços europeus.

Refugiados turcos na fronteira com a Grécia
Posturas dentro da Europa
Para responder a essa pergunta, também é preciso analisar as posturas adotadas pelos principais países europeus diante dessa onda migratória. Do lado da Espanha, podemos ver uma clara vontade de receber imigrantes africanos. Nos primeiros 2 meses do corrente ano, a Espanha recebeu cerca de 18.000 imigrantes da África, número que não para de aumentar, pois para o meio deste mesmo ano foram contabilizados quase 27.000 novos imigrantes. Por parte do governo espanhol, observamos um claro incentivo aos cidadãos africanos para optarem por migrar para o território espanhol, uma vez que, apenas algumas semanas atrás, o presidente espanhol Pedro Sánchez impôs um novo programa de migração trabalhista para facilitar as contratações em origem de países como Mauritânia, Gâmbia, Senegal, etc.
Passando para o contexto alemão, também podemos ver um claro apoio ao imigrante na esfera pública, presenciando massivas protestos a favor da imigração e contra a extrema direita. Por exemplo, no início deste ano, quase 250.000 pessoas se mobilizaram em toda a Alemanha contra a extrema direita e em defesa do imigrante. O governo alemão, por sua vez, busca facilitar ainda mais os trâmites de cidadania para aumentar a chegada de africanos e orientais, entre outros.
No entanto, também existem países que buscam a redução desse fluxo migratório por meio do endurecimento das leis. Este é o caso da Itália ou da França, países que estão experimentando um auge massivo da extrema direita com a emergência de personalidades como Giorgia Meloni ou Marine Le Pen.

Manifestações na Alemanha contra a extrema direita e as medidas antimigratórias
Conclusões
Uma vez chegados a este ponto, já podemos determinar uma potencial resposta à incógnita levantada anteriormente e à questão exposta no início do artigo. Em suma, estamos visualizando claramente um fenômeno que se soma a uma longa lista de problemas que a Europa enfrenta atualmente. Neste caso, podemos observar uma Europa em "estado de choque", devido aos diversos golpes migratórios que recebe ano após ano, reagindo a eles com medidas ineficientes e controversas que apenas denigrem ainda mais a reputação do "Velho Continente". Se observarmos a nível de países, podemos perceber uma grande variedade de posturas, como já mencionamos.
A mente anteriormente graças ao auge da extrema direita e do populismo. Se nos pusermos a detalhar ainda mais, até mesmo na relação entre cidadãos e imigrantes existe um conflito cultural constante. É isso que origina um fenômeno que é central e que está se gestando a passos largos no continente europeu. Esse fenômeno consiste em uma reconstrução social e política europeia que evolui sem parar, graças à inoperância das medidas tomadas. Todos os fatores expostos anteriormente terminam culminando em mudanças culturais que provocam mudanças sociais que, por sua vez, resultam em mudanças políticas. Traduzido para o nosso caso, as imigrações maciças geram colisões culturais entre locais e imigrantes que causam conflitos e impulsionam o surgimento de novas divisões sociais que, por sua vez, resultam na formação de movimentos políticos compostos por esses mesmos imigrantes. O problema não é apenas que esses candidatos políticos têm grandes chances de chegar ao comando institucional, mas que suas propostas são altamente restritivas, chegando ao ponto de ameaçar fortemente a vitalidade da democracia europeia com a possível introdução de um regime não democrático.Dentro de pouco tempo, tanto o cenário social quanto político europeu serão majoritariamente habitados por imigrantes provenientes da África e do Oriente Médio, graças à permissividade da democracia presente no Ocidente e ausente em maior ou menor grau no Oriente e na África. Devido a isso, os imigrantes podem representar seus ideais em partidos ou candidatos políticos que, graças ao crescimento exponencial da população imigrante, adquirem uma importância superlativa. Em resumo, podemos concluir que não é nada ilógico pensar em uma Europa islâmica e afrodescendente em um prazo não tão longo. Não é uma questão de se isso ocorrerá ou não, mas de quando e como os europeus nativos gestionarão essa mudança inevitável.
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