Na semana de 12 de junho, a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, levou adiante uma turnê por quatro países latino-americanos, face à Cimeira UE-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) que terá lugar em Bruxelas os próximos 17 e 18 de julho.
Primeiramente no Brasil, a mandatária europeia se reuniu com o presidente Luiz Inácio “Lula” Da Silva e com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A segunda parada foi Argentina, onde se reuniu com o presidente Alberto Fernández e participou do Fórum Empresarial UE-Argentina. A turnê também incluiu o Chile e o México.
A estratégia birregional da UE e a importância da América Latina e do Caribe na nova estratégia Global Gateway
A União Europeia procura aprofundar a parceria com toda a região no seu conjunto, através da CELAC. Isto ficou claro em 8 de junho quando o Alto Representante (Josep Borrell) e a A Comissão Europeia adoptou uma Declaração Conjunta sobre a importância estratégica da ligação (Comissão Europeia, 2023). A estratégia birregional não é a única maneira em que a UE se relaciona com a região. Bruxelas, na verdade, utiliza uma estratégia multinível, para evitar a abordagem “talla única”. Além de apostar pela CELAC como o interlocutor válido de toda a região latino-americana e caribenha, a UE também coopera de forma paralela a nível bilateral (com cada país da região, com alcances distintos e de acordo com necessidades particulares), e a nível subregional, com blocos comerciais/políticos, como o Mercosul e o SICA (Sistema da Integração Centro-Americana).
Este reforço da parceria estratégica da UE com a região, vem dado pela nova estratégia de Bruxelas, a Global Gateway, “para impulsionar laços inteligentes, limpos e seguros nos sectores digital, energético e de transporte, bem como para reforçar os sistemas de saúde, educação e investigação em todo o mundo” (Comissão Europeia, 2023). Desta forma, a nova estratégia também assenta nas linhas do Pacto Verde da União aprovado em 2020. O Global Gateway pretende mobilizar 30 mil milhões de euros em investimentos deste tipo para todo o globo. A América Latina e o Caribe ocupa um lugar central (10.000 milhões de euros para o subcontinente). A região adquire cada vez maior relevância para a Europa num contexto de uma política de diversificação de matérias-primas críticas e fontes de energia alternativas (baterias de lítio, plantas de licuação de gás, hidrogénio verde, entre outros), somado às fragilidades das cadeias globais de abastecimento. Há já vários anos, a UE procura alargar o seu espectro de parceiros energéticos. A pandemia e a invasão russa à Ucrânia agiram como catalisador final deste objectivo.
Von der Leyen visita a Argentina para impulsionar o acordo comercial UE-Mercosur e fortalecer a parceria estratégica em energias renováveis e matérias-primas
A visita de von der Leyen, além de preparar o terreno para a próxima Cimeira UE-CELAC e apresentar as oportunidades do Global Gateway para a América Latina e o Caribe, tem como objetivo terminar de encauzar o acordo comercial UE-Mercosur que foi anunciado em agosto de 2019. O acordo encontra-se em sua fase de revisão técnica, e de ambos os lados, considera-se que a mudança de administração no Brasil em conjunto com o novo cenário geopolítico são elementos que abrem “uma janela de oportunidade”.
O breve passo da presidente da Comissão Europeia pela Argentina, teve alguns anúncios concretos, além das linhas que já se vinham trabalhando através da negociação diplomática. Foi assinado um memorando de entendimento para uma parceria estratégica sobre cadeias globais de valor sustentáveis de matérias-primas, em consonância com os pilares da Global Gateway. O foco da UE está colocado no lítio e a construção de uma cadeia global de valor que permita gerar valor agregado para a Argentina. De acordo com von der Leyen, espera-se que a demanda de lítio na Europa aumente “doze vezes para 2030” (Casa Rosada, 2023). É preciso lembrar que a UE é o principal investidor na Argentina (40% da IED aproximadamente) (Casa Rosada, 2023) e procura colocar os benefícios de um “modelo de investimento alternativo”, muito diferente do que pode oferecer outros poderes como a China na região. Este modelo tem como um dos seus pilares a produção de energia limpa (como a solar, eólica, e o hidrogênio verde). A União procura que a Argentina se torne “um centro regional de energia renovável confiável” (Casa Rosada, 2023).A implantação da Global Gateway juntamente com o acordo Mercosul-UE tem o potencial de alavancar ainda mais a posição da União em matéria comercial na Argentina. É por isso que também a presidente da Comissão Europeia participou do Fórum Empresarial entre a UE e a Argentina. Trata-se da primeira edição, que visa contribuir para o processo de integração económica, explorar o potencial para impulsionar o desenvolvimento e reflectir sobre os desafios em comum (Delegação da UE na Argentina, 2023). Alguns dos temas discutidos foram digitalização, sustentabilidade e energia, e conhecer alguns projetos nos quais vem trabalhando a delegação da União Europeia na Argentina.
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