O amor o retém.
Existem fenômenos que acontecem ao nosso redor que por vezes passam despercebidos até que algo ou alguém nos faz notar.Provavelmente, muitos de vocês perceberam nos últimos anos que o ingresso de imigrantes venezuelanos se manifestava em locais de comida, remises, oficinas, empresas de engenharia, mesmo em guardas de clínicas e hospitais.A população venezuelana que veio ao nosso país, sem dúvida, o fez para trabalhar e estudar, definitivamente chegaram buscando progresso.Como a grande maioria dos que abandonam seus lugares de orígen em busca de horizontes melhores, deixam para trás costumes, amigos e família.Nostalgias levemente anestesiadas com palestras e vídeos pelo WhatsApp.Depois de entender que tinha levado estes rapazes a empreender seu futuro longe de sua terra entrevistei vários deles encontrando alguns pontos em comum entre a maioria deles:- Deterioro do salário em termos reais. O rendimento fruto do trabalho era insuficiente para satisfazer as necessidades mínimas que tinham para a sua subsistência. Nem falar de progresso ou ascensão social. Uma garota venezuelana assegurou-me que, com o ingresso de seu emprego em uma das principais agências de publicidade do seu país, percebia por mês uma remuneração que apenas lhe atingia para comprar quatro combos de uma conhecida casa de refeições rápidas.
- Desabastecimento de bens essenciais. O controle de preços e a falta de dólares secaram de produtos as góndolas e prateleiras dos comércios. Os veículos ficaram sem peças e as infra-estruturas de bens e serviços públicos deterioraram-se dramaticamente. No país do petróleo faltou energia.
- Êxodo de empresas multinacionais. A falta de regras claras, circunstância sustentadas durante décadas, impulsionaram as grandes corporações a deixar suas posições na Venezuela, diminuindo ainda mais a oferta de produtos e aumentando o desemprego, tornando ainda mais precárias as condições laborais. Muitas empresas que abandonaram o país fizeram isso porque de um ponto de vista reputacional ter negócios nesta locação lhes baixava a qualificação empresarial.
- Fuga de cérebros. Muitos dos empresários, profissionais e trabalhadores mais capacitados aprenderam primeiro a partida, acelerando o processo de deterioração na equação de investimento e emprego privado versus o público, aumentado o gasto público e a ineficiência produtiva.
- Aumento permanente da insegurança física e material. Comandos organizados de criminosos começaram com sequestros extorsivos, juntando-se com suas vítimas, roubos comerciais até que finalmente se desencadeou uma guerra entre vítimas e vítimas pobres.
Estas foram considerações coincidentes entre todos os consultados.Dias passados, enquanto almoçava em um bar, aqueles que fazem parte de cadeias de locais gastronômicos, notei que entre os garçoms nenhum tinha aquele característico sotaque caribenho.A intriga convidou-me a consultar o moço que entendia a minha mesa que era o que tinha passado com aqueles colegas estrangeiros que em outras oportunidades me tinham atendido.Sua resposta foi imediata, “Se foram, só ficou um dos mais de cinquenta que trabalhavam nesta cadeia de seis locais”.Foi então que me pareceu oportuno conversar com esse último venezuelano na caixa daquele bar para entender o que está acontecendo.Primeiro, comentou-me que, tal como na Venezuela, o ingresso na Argentina já não o alcança.Que começou a notar que alguns produtos faltam ou carecem de variedade de oferta. Cada vez há menos grandes empresas internacionais.Que as propostas de trabalho são mais precárias.Muitos dos seus compatriotas foram para outras latitudes ou trabalham aqui para outros mercados.No entanto, fez notar que na Argentina, que “todavia pode andar relativamente seguro”, que as pessoas vivem numa calma tensa, mas calma no fim.Então, vi-me obrigado a fazer a pergunta do milhão.Por que ele ficava em nosso país?Gentilmente me explicou o seguinte:Os que primeiro foram não chegaram a estabelecer laços estreitos com cidadãos locais, ou seja, nunca se afincaram, em sintonia com o impulso que os levou a deixar o seu país de orígen, partiram sem pena ou glória para continuar procurando melhores oportunidades.Alguns, que se integraram socialmente, que armaram casais e famílias com argentinas e argentinos partiram em grupo para armar seus projetos de vida em outros lugares.Em vez disso, como alguns outros, os menos, seu casal quer continuar vivendo no nosso país. Não aceita mudar de lugar, de costumes ou de amigos, de estar longe de sua família de origem.Este rapaz sensível só amor o retém.Até que ponto o nosso país pode apelar ao amor que temos aqueles que aqui vivemos para seguir sem propostas claras e viáveis de um futuro melhor, com trabalho digno e regras sustentáveis que permitam que, rompindo-nos o lomo, como fazemos todos os dias, possamos ascender socialmente?Será um ato de amor tirar nossos entes queridos, mais vale cedo que tarde, deste berenjenal político que se apoderou da economia, nossos sonhos e o futuro?Ou talvez estejamos esperando chegar ao ponto em que se discuta entre pobres o escueto repartição das migalhas que fiquem de uma Argentina devastada pela inoperancia da política, que só se resolve a si mesma?Deseja validar este artigo?
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horacio gustavo ammaturo
Chamo-me Gustavo Ammaturo. Sou licenciado em Economia. CEO e Diretor de empresas de infraestrutura, energia e telecomunicações. Fundador e mentor de empresas de Fintech, DeFi e desenvolvimento de software. Designer de produtos Blockchain.
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