23/07/2025 - politica-e-sociedade

O Irã recebe em Teerã a Rússia e a China para coordenar a estratégia nuclear iraniana antes do encontro com as potências nucleares europeias.

Por Lic. Felipe Daniel Barrientos

O Irã recebe em Teerã a Rússia e a China para coordenar a estratégia nuclear iraniana antes do encontro com as potências nucleares europeias.

Na imagem, reflete-se o vice-ministro das relações exteriores russo, Serguéi Ryabkov (À esquerda), o ministro das Relações Exteriores chinês Wang Yi (No centro) e o vice-ministro das Relações Exteriores iraniano Kazem Gharibabadi (À direita) reunidos em Teerã, Irã.

No âmbito da Reunião nuclear realizada em Teerã, Irã, foi debatido nesta terça-feira, dia 22, o programa nuclear de Teerã e o risco de que sanções sejam novamente impostas pelos Estados Unidos. A reunião ocorreu antes da retomada das conversas nucleares com o E3 (As nações europeias nucleares) que são compostas por França, Alemanha e Reino Unido em Istambul, Turquia, na próxima sexta-feira, dia 25.

Lembramos que as três potências europeias, juntamente com a China e a Rússia, são as partes do acordo nuclear de 2015 que levantou sanções ao Irã em troca de restrições ao seu programa nuclear, apoiado na época pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Esse acordo começou a se desfazer em 2018, quando Donald Trump decidiu retirar-se do acordo e as sanções contra o Irã foram restabelecidas.

Desde então, o Irã tem aumentado gradualmente suas atividades nucleares, incluindo o enriquecimento de urânio até 60%, ficando a um passo de materiais nucleares aptos para armas ou o enriquecimento de urânio a 90%. Aqui, não atuam apenas os Estados Unidos, mas também as nações europeias por meio da aplicação do mecanismo "Snapback" previsto no acordo de 2015. É um mecanismo legal previsto no sistema de sanções das Nações Unidas, que permite reimpor sanções caso o Irã descumpra o acordo nuclear de 2015.

França, Alemanha e Reino Unido advertiram sobre suas ações se não houver avanços na reunião de Istambul de 25 de agosto, mas o porta-voz de assuntos exteriores iraniano, Esmail Baghaei, afirmou que o Irã coordena continuamente com a China e a Rússia a forma de evitar uma retirada ou mitigar suas consequências. As tensões começaram no domingo, quando o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, se manifestou em uma carta dirigida ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmando o seguinte: "O E3 carece de toda legitimidade legal, política e moral para invocar tais mecanismos" e acusou essas nações de incumprirem os compromissos decorrentes do acordo. Por outro lado, Baghaei afirmou que as nações europeias foram culpadas e negligentes em relação ao acordo nuclear de 2015 e também afirmou que "o Irã não tem plano algum de estabelecer conversas com os Estados Unidos, em sua situação atual".

As conversas de sexta-feira na Turquia serão as primeiras desde o cessar-fogo do conflito de doze dias travado por Israel contra o Irã em junho, no qual os Estados Unidos também atacaram três instalações nucleares fundamentais iranianas, onde 1100 pessoas morreram no Irã, entre militares e cientistas nucleares, enquanto em Israel morreram 28 civis.

A reunião de hoje em Teerã entre China, Rússia e Irã deixa claro que este último entrará nas mesas de conversação em Istambul na próxima sexta-feira e que essa relação trilateral não foi apenas um respaldo político ao que ocorrerá na sexta-feira, mas um lembrete de como se configuram as alianças estratégicas em tempos de incerteza global, sabendo que temos um cenário mundial repleto de sanções, guerras decorrentes de desconfianças e tensões prolongadas entre as nações. Aqui, o Irã busca apoios que lhe permitam negociar sem abrir mão de sua soberania, enquanto China e Rússia aproveitam essa oportunidade para consolidar sua influência no Oriente Médio e reafirmar sua contestação ao ordenamento internacional liderado pelo Ocidente.

O encontro em Teerã não apenas alinha as posturas entre três atores-chave antes de uma nova rodada de diálogos, mas também envia um sinal inequívoco para as nações europeias, onde qualquer saída negociada para o material nuclear deverá contar com a aquiescência e os interesses deste bloco euroasiático ou arriscar-se a aprofundar a ruptura na arquitetura de não proliferação vigente, já que a reunião de Teerã hoje traz uma verdade incômoda para a Europa e os Estados Unidos por não terem uma abordagem mais ampla, realista e inclusiva e, diante de qualquer situação, no máximo será temporária.

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Lic. Felipe Daniel Barrientos

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Eu me especializo em Segurança Internacional.

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