Há 10 dias - politica-e-sociedade

A Argentina ficará sem a posse da YPF?

Por Benjamin Ortells

A Argentina ficará sem a posse da YPF?

Kicillof, Milei e Caputo, diante da decisão sobre a YPF que abala a política e a economia argentina.

Uma decisão da juíza Loretta Preska do Tribunal do Distrito Sul de Nova York abalou nas últimas horas o tabuleiro político e econômico argentino: o Estado deve transferir 51% das ações da YPF para os fundos Burford Capital e Eton Park. O valor em jogo chega a USD 16.100 milhões, e a ordem executória dá apenas 14 dias para concretizar a entrega.

A origem do conflito remonta a 2012, quando o Estado argentino, sob o segundo mandato de Cristina Fernández de Kirchner, expropriou 51% da YPF que estava nas mãos da Repsol. O problema: não foi realizada a oferta pública de aquisição aos acionistas minoritários, conforme estabelecia o estatuto da petrolífera. Essa omissão, avalizada na época por Kicillof, é a base legal sobre a qual a juíza Preska construiu a condenação.

A medida ordena que o pacote acionário – as ações Classe D nas mãos do Estado – seja depositado em uma conta do banco BNY Mellon. A juíza inclusive lembrou ao Governo que tem opções para cumprir: conseguir dois terços do Congresso, modificar a lei ou negociar um acordo. Mas deixou claro que a obrigação não desaparece.

Enquanto isso, os mercados reagiram com força. As ações da YPF caíram 8% em Wall Street e mais de 5% em Buenos Aires. O Merval retrocedeu 3% e os bônus argentinos voltaram para o terreno negativo. Analistas locais alertam sobre um possível aumento do risco país e um possível efeito contagioso em outros ativos públicos.

O Governo já antecipou que apelará da decisão perante a Corte do Segundo Circuito de Nova York, ainda que até agora não tenha apresentado garantias nem propostas formais. Está sendo considerada até a possibilidade de negociar um plano de pagamentos para evitar a transferência imediata.

Do outro lado, a figura de Axel Kicillof voltou a ficar no centro do furacão. Sua frase de 2012, “Os idiotas são aqueles que pensam que o Estado deve ser estúpido e comprar tudo segundo a lei da própria YPF”.

A situação está escalando rapidamente e pode marcar um antes e um depois na relação da Argentina com a justiça dos EUA e os fundos de investimento internacionais. Com processos ainda abertos pela dívida em default de 2001, e empresas públicas expostas, a decisão estabelece um precedente de alto impacto.

“A YPF não se vende”, gritavam alguns militantes. Mas desta vez, o grito soa mais como nostalgia do que como defesa. Porque se não houver uma reação legal rápida, o petróleo argentino pode ficar nas mãos estrangeiras… por culpa dos erros de sempre.


Deseja validar este artigo?

Ao validar, você está certificando que a informação publicada está correta, nos ajudando a combater a desinformação.

Validado por 0 usuários
Benjamin Ortells

Benjamin Ortells

Visualizações: 16

Comentários

Podemos te ajudar?