10/11/2023 - politica-e-sociedade

Estratégia eleitoral de Javier Milei: As duas faces de uma mesma moeda

Por valentin campana

Estratégia eleitoral de Javier Milei: As duas faces de uma mesma moeda

É evidente que a estratégia de campanha de Javier Milei desde sua irrupção na cena mediática até às PASO foi um sucesso, já que passou de ser um “outsider” da política argentina a criar uma das principais forças políticas em menos de 3 anos. Esta estratégia baseava-se em realizar propostas com alto conteúdo ideológico e distantes das propostas clássicas de centro que caracterizaram o paradigma político argentino, e como consequência cativar um eleitorado que não se sentia representado pelas opções tradicionais. Através desta particular tática de campanha, o “Leão” conseguiu ficar com um sorpressivo - então - 29,86% dos votos nas PASO e assim se erguer como o máximo favorito das eleições gerais de outubro.

O posicionamento de Milei no máximo candidato a ficar com o primeiro lugar nas eleições presidenciais de outubro, era um fato, até chegou a especular com um possível triunfo em primeira volta, uma vez que se projetava um possível grande crescimento de face a esses sufrágios. Mas caso contrário ao que se esperava “A Liberdade Avançada” (LLA) manteve sua base eleitoral, mas com quase nulo crescimento, obtendo um decepcionante (dadas as expectativas) 29,98%, posicionando o partido libertário em segundo lugar a 7 pontos do vencedor, Sérgio Massa, e sentenciando uma Balota entre estes dois candidatos para definir quem será o próximo presidente da república.

O que aconteceu com Milei que limitou seu crescimento?Diante dessa situação de nulo crescimento entre as gerais e as PASO, surge a questão de quais foram os motivos que ocasionaram esse desfecho. Do meu ponto de vista, há um claro fator que teve influência nestes resultados, a estratégia de campanha. Ou seja, aquela estratégia que foi tão frutífera e colocou as chamadas “forças de céu” no mainstream da política nacional de face às PASO, agora lhe propiciou um revés inesperado nas gerais.

A razão pela qual responsabilizo a estratégia de campanha como grande responsável pelo não crescimento do eleitorado de Javier Milei, repousa em que contrariamente ao esperado, o partido LLA ao se ver como máximo candidato à presidência após as eleições primárias, em vez de moderar o seu discurso e atrair potenciais eleitores de outros partidos, decidiu radicalizar ainda mais o seu discurso com propostas de alto risco político (Claro exemplo, o da deputada Lila Lemoine). Esta ação do partido liderado pelo economista libertário foi contra toda tradição política, e, acima de tudo, não cumpriu as premissas do conhecido no âmbito político como “Teorema de Baglini”.

Quando se fala do “Teorema de Baglini” na Argentina se refere a um conceito que sustenta que historicamente o grau de responsabilidade das propostas de um partido ou líder político argentino é diretamente proporcional às suas possibilidades de acesso ao poder[1]. Ou seja, quanto mais longe se está do poder, mais irresponsável são as declarações políticas; quanto mais perto se está do poder, mais sensatas e razoáveis se tornam.

Assim, dada a tradição política e discursiva em tempos eleitorais da Argentina, poderia-se esboçar que esta ideia de Javier Milei de manter um tom osado em suas declarações e as de seu partido foi uma das principais causas do por que a sua estagnação eleitoral. O que lhe apresenta um cenário que deve corrigir de face ao Balotagem neste novembro se quiser fazer da banda presidencial.

Milei de face ao Balotagem: Abraza “O teorema de Baglini”?Para além das opiniões pessoais que cada um possa ter, é claro o fato de Javier Milei, após as eleições gerais de outubro e de face à balotagem, ter mudado totalmente sua estratégia discursiva. Esta situação pode ser reflectida em que, contrariamente ao que aconteceu nas eleições anteriores, o economista e os membros do LLA têm moderado o seu discurso e a sua posição política, fazia mais de “centro”.

O claro exemplo deste processo de moderamento face às eleições de novembro pode ser observado nos ditos do “Leão” no Instagram e em outros meios onde esclareceu que, sob seu mandato, a saúde e a educação se manteriam públicas, assim como negou o desaparecimento dos planos sociais, deixando em evidência uma posição muito mais conciliadora e “Catch all” (atrápalo tudo) por parte de Milei e seu partido.

Por outro lado, a equipe libertária seguindo esta cadeia de ações moderadaras chamou à aproximação de partes com outros partidos e figuras políticas com as quais se mostrava inimizade, como são Mauricio Macri e Patricia Bullrich.

Em conclusão, evidencia-se que a mudança de paradigma do partido de Javier Milei de face ao Balota é clara, e parece que agora a equipe libertária ao se ver mais perto do que nunca do poder, se agarra ao “Teorema de Baglini” para tentar consagrar-se como vencedor das eleições de novembro. Do meu ponto de vista, o panorama para estes sufrágios é aberto, mas esta nova estratégia do “Leão”, o torna a colocar à frente da corrida para esta eleição.

De todas as formas, vale esclarecer que qualquer predição que se possa vaticinar não é mais que uma aposta, a realidade só será revelada em 20 de novembro, e se develará se o cimbronazo estratégico do libertário rendeu ou não seus frutos.

[1] Teorema de Baglini (26 de outubro de 2023). Em Wikipédia. https://w.wiki/7$Qs

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valentin campana

valentin campana

Meu nome é Valentin Campana, tenho 22 anos e sou estudante da licenciatura de Estudos Internacionais na Universidade Torcuato Di Tella. Espero aproveitar este espaço para explayar os conhecimentos que adquiri durante a minha carreira em temáticas de política doméstica e internacional. Espero que o futuro possa desenvolver uma carreira como analista político, consultor ou integrar algum organismo internacional.

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