08/08/2024 - politica-e-sociedade

Lacalle Pou e o MERCOSUL: De fardo a reivindicação

Por Alejo Lasala

Lacalle Pou e o MERCOSUL: De fardo a reivindicação

Por Alejo Lasala y Franco Matías Vicchio

Na última cúpula do Mercosul, o presidente uruguaio Luis Lacalle Pou, criticou Javier Milei quanto à sua ausência na mesma. Destacou que “se o Mercosul é importante, então deveríamos estar todos os presidentes”, juntando-se também Lula Da Silva às mesmas críticas. Mas em 2021 foi o próprio presidente do Partido Nacional quem enfrentou Alberto Fernández, manifestando que o Mercosul era um “fardo” e um “colete de força”, minimizando as oportunidades de progresso que o organismo representa para seu país e reivindicando a vontade do Uruguai de realizar seus próprios acordos de livre comércio fora do Mercosul.

Agora bem, isso último parece indicar que durante esses três anos, a postura do presidente uruguaio deu uma volta: em primeiro lugar, de uma postura crítica ao ex-presidente argentino investindo contra o Mercosul e, atualmente, criticando a ausência de Milei na cúpula, sublinhando a importância da integração regional. A realidade é que, se analisarmos a política externa uruguaia durante a experiência no Mercosul, as declarações de Lacalle Pou não representam uma contradição e até estão alinhadas com o que o Uruguai espera do mesmo.

Para começar, nos inícios do Uruguai dentro do Mercosul, tanto Jorge Batlle quanto os presidentes argentino e brasileiro na década de 90 apresentaram o organismo como um tratado de integração de livre comércio em prol das políticas liberais do Consenso de Washington com o objetivo de incrementar o alcance comercial da região com as potências ocidentais e entre elas. Essa convergência de interesses não prosperou por muito tempo e, somado à falta de acordos alcançados pelo Mercosul, o presidente Batlle buscou realizar -de forma unilateral- um tratado de livre comércio com os EUA. Essa tentativa de tratado de livre comércio foi perseguida durante o final de sua gestão e no primeiro mandato de Tabaré Vázquez, e viu-se impossibilitada de ser concretizada na prática justamente porque os EUA não desejavam interromper seu vínculo com Argentina e Brasil em detrimento de firmar um acordo bilateral com o Uruguai. Justamente o presidente Vázquez, que seguiu as mesmas diretrizes de política externa de seu antecessor (apesar de ter uma cor política diferente), entendia que um país pequeno como o Uruguai precisava da complementação de mercados grandes e que o Mercosul não estava alcançando conquistas nos acordos extra-zona.

A reivindicação do Uruguai é denominada como “flexibilização”: não busca fragmentar a integração regional, mas obter a autonomia para realizar seus próprios acordos de livre comércio fora do Mercosul (devido à incapacidade deste de concretizá-los). Essa reivindicação de abertura econômica é histórica por parte do Uruguai e tomou maior relevância quando Vázquez, em seu segundo mandato, viajou à China para tentar pactuar com Xi Jinping um acordo bilateral comercial. Esse acordo tem sido o objetivo do Uruguai nos últimos 8 anos, já que o país asiático não aceitaria firmar um acordo apenas com o Uruguai, fora do bloco Mercosul. É aqui que chega Lacalle Pou, que adotou uma política econômica mais ortodoxa e relutante à integração regional em seus inícios.

No entanto, Lacalle Pou, reconhecendo que a única maneira do país alcançar esse acordo é mediante o fortalecimento do Mercosul (como pensou Mujica no início), teve que analisar uma mudança de discurso, partindo de um pragmatismo em suas declarações de política externa, sabendo das dificuldades de manter uma postura hostil como a de 2021.

A ideia de reivindicar a integração regional e confrontar o presidente argentino por não asistir à cúpula segue as diretrizes mantidas pelo Uruguai nos últimos 30 anos e uma vitória do realismo pragmático onde o interesse nacional supera a ideologia com a qual um candidato pode governar. Se o Uruguai não puder concretizar esses acordos fora do Mercosul como quiseram Batlle, Vázquez e os inícios de Lacalle Pou, a aposta mais conveniente é reforçar a integração regional e impulsionar os acordos extra-zona com economias maiores dentro do organismo.

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Alejo Lasala

Alejo Lasala

Sou estudante de Ciências Políticas na UCA e analista de qualidade no Governo da Cidade de Buenos Aires.

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