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Os deputados travaram o ajuste: um triunfo do Congresso e da institucionalidade

Por Luis Falco

Os deputados travaram o ajuste: um triunfo do Congresso e da institucionalidade

Numa sessão chave, a Câmara dos Deputados rejeitou o veto de Milei à lei de emergência para deficientes, manteve o veto ao aumento dos reformados e aprovou a distribuição automática do RTA às províncias. Mais do que uma batalha política, foi um lembrete de que o Congresso tem um papel central: estabelecer limites, garantir direitos e defender a institucionalidade contra os excessos do Executivo.

A sessão de quarta-feira deixou claro que, apesar da narrativa de confronto permanente, o Congresso não está pintado. Foi um dia longo, cheio de tensão, mas com um resultado concreto: os deputados impuseram limites ao Executivo e demonstraram que o equilíbrio entre os poderes ainda está vivo.

A rejeição do veto à lei de emergência para deficientes não é um detalhe menor. Com 172 votos a favor, a maioria entendeu que o Estado não pode ficar de fora quando se trata de garantir direitos básicos. A deficiência não é uma estatística ou uma despesa: são pessoas com necessidades concretas, famílias à espera de respostas e um sistema que está subfinanciado há muito tempo. A tentativa de desativar esta lei com um veto presidencial foi um erro político e humano, e o Congresso corrigiu-o.

O destino do aumento para os reformados foi diferente. A maioria de dois terços para anular o veto não foi alcançada e a decisão do executivo manteve-se em vigor. Isso levanta um dilema fundamental: um país que diz priorizar a "ordem fiscal" pode realmente fazê-lo cortando nos setores mais vulneráveis? A discussão não deve ser técnica, mas ética. E se não se avançar para um regime justo para os reformados, o vazio político será preenchido pelo descontentamento social.

Mas o mais interessante foi o que aconteceu com as Contribuições do Tesouro Nacional (ATN). A aprovação da lei que obriga à sua distribuição automática entre as províncias é uma mudança silenciosa mas profunda. Pelo menos no papel, acabou a discricionariedade do executivo para premiar ou punir os governadores. E isso é um triunfo da democracia federal. Que os recursos sejam distribuídos de acordo com critérios objectivos e não de acordo com simpatias políticas é, no fundo, o que sempre defendemos os que acreditam num país mais equilibrado.

Em suma, a sessão deixou uma mensagem clara: o Congresso não é um carimbo de borracha. Quando a Casa Rosada tenta governar à força de decretos, vetos ou braço de ferro, esbarra num limite que não é ideológico, mas republicano. E é aí que entra algo de essencial, como a aposta no consenso, o respeito pela Constituição e a ideia de que nenhum presidente, nem este nem os que virão, pode tomar a sociedade de assalto.

O que vimos não é uma luta isolada. Faz parte de uma discussão maior sobre como queremos que a democracia funcione. Porque governar não é impor um plano a qualquer custo: é construir maiorias, aceitar limites e compreender que, sem um verdadeiro diálogo, nenhum rumo se mantém.

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