Não tod@s estamos atentos. E de estar, seria suficiente?
Como é simples, não. A atenção não é suficiente para “aquicar” a distância entre a lei e a prática: a história do Amazonas demonstra isso. A gestão brasileira do pulmão do mundo mostra como a falta de vontade política leva a descumprir alguns princípios da Constituição Nacional e Tratados Internacionais. Num primeiro momento, após o segundo pós-guerra, só se encontrava um artigo sobre o Amazonas na Constituição: o que criava um plano para o desenvolvimento econômico e o que se lhe deu caráter permanente em 1966. O plano deixa ver que, no início, a legislação do Amazonas se centrava na exploração de seus recursos, deixando de lado a sua conservação.
No entanto, por mais do que o princípio só se tinha em conta o desenvolvimento econômico, em 1978 foi assinado o Tratado de Cooperação Amazônica, onde oito dos nove países que compartilham o Amazonas buscaram um balanço entre a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico. Além disso, este compromisso com o desenvolvimento sustentável traduz-se uma década mais tarde na Constituição Nacional de 1988, quando se declara o direito a um ambiente equilibrado e a responsabilidade dos governantes de assegurar - embora não seja mencionada diretamente ao Amazonas na Constituição.
Mas do ditado ao fato...
Se analisarmos os governos dos dois candidatos ao ballotage presidencial de 2022, podemos observar que, por um lado, durante o duplo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), a Amazônia brasileira perdeu mais de 125.000 quilômetros quadrados de vegetação (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial do Brasil). No entanto, por mais do que no seu primeiro mandato, foi dado um dos picos mais altos de desflorestação, o que foi revertendo, e em seu segundo mandato as taxas diminuíram significativamente.
Nos últimos anos, as estatísticas nos tornaram preocupadas, principalmente pelos altos números de desflorestação durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022): de acordo com o Instituto de Pesquisa, entre 2018 e 2021 a taxa de desflorestação da Amazônia brasileira superou os 40.000 quilômetros quadrados. Até mesmo, no decorrer deste último ano, já se perderam mais de 9.000 quilômetros quadrados de floresta tropical.
O prometido é dívida. .
Ao conseguir a vitória nas eleições, Lula da Silva herda um país altamente polarizado, o que implicará maior dificuldade no momento de tomar decisões e traçar os temas da agenda política. Lula foi reeleito após uma campanha com um forte foco no meio ambiente, que surgiu na campanha como um dos tantos temas que diferenciaram a plataforma dos dois candidatos. O ballotage mais peledo na história do Brasil nos deixa com uma nova interrogação.
Como é possível aplicar políticas de cuidado ambiental e particularmente, de proteção do Amazonas, em uma sociedade polarizada e onde os problemas sociais e econômicos proliferam? Além disso, é particularmente difícil implementar políticas ambientais quando as consequências da desflorestação e destruição não são imagináveis ou suficientemente urgentes para a maioria da população. Em vez disso, são os povos indígenas e tribais que sofrem de maneira mais direta e se manifestam mais forte para preservar este ecossistema.
Milhares de pessoas manifestaram um compromisso com a situação climática, que Lula tornou uma das bases de sua campanha. O presidente, que foi amplamente votado no nordeste, não poderá repetir o que aconteceu na sua primeira gestão. O tempo se esgota. O Amazonas não é infinito e sofre. Compromissos não cumpridos e governantes que não souberam, não conseguiram ou não quiseram realmente comprometer-se. Será que o presidente pode proteger a floresta tropical mais importante da nossa região e do mundo?
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