22/11/2024 - politica-e-sociedade

Porquê o rosto comprido? Reflexões sobre o encontro entre Lula da Silva e Javier Milei

Por Ivo Lewkowicz Grimberg

Porquê o rosto comprido? Reflexões sobre o encontro entre Lula da Silva e Javier Milei

Se é verdade que o cumprimento foi frívolo, e que esta espera quebrou mais uma vez uma saudável tradição bilateral em que a primeira visita do presidente argentino ou brasileiro (eleito ou em exercício) é ao seu homólogo (Bolsonaro já visitou o Chile antes da Argentina), a aproximação representa uma grande possibilidade para ambos os países. Por exemplo, os dois governos anunciaram um memorando de entendimento para a exportação de gás natural argentino para o Brasil. Além disso, o encontro é um sinal de que a relação argentino-brasileira é estável, previsível e credível, sobrepondo-se às diferenças ideológicas e pessoais dos chefes de Estado, o que atrai investidores e incentiva projectos a longo prazo.

Mas não é preciso ficar por aqui; se a Argentina e o Brasil quiserem superar o atraso da região latino-americana na ordem mundial, terão de atuar em conjunto. Este aprofundamento e reforço da cooperação bilateral e regional pode levar a um aumento do poder e da influência nas mais altas cimeiras internacionais de negociação, onde é necessária uma presença latino-americana.

Em suma, a integração e a cooperação são essenciais para diluir a limitada importância sistémica da nossa região, pois sem elas representamos apenas vozes isoladas em vez de uma voz forte e unida. Para atingir este objetivo, a própria relação deve prevalecer sobre a fraca relação pessoal entre os Presidentes Milei e Da Silva.

O encontro é um sinal de uma predisposição favorável entre os dois presidentes, apesar da cobertura mediática dos seus confrontos. Este último revela uma apreciação do valor pragmático que o diplomata Renato di Cerisano atribui à política externa. Segundo di Cerisano (2024), a política externa não pode nem deve ser adaptada às convicções pessoais, mas deve responder aos interesses nacionais do país numa atividade em que "o compadrio ou os preconceitos obsoletos não têm lugar".

No que diz respeito às relações bilaterais entre a Argentina e o Brasil, o facto de o governo de Lula ter voluntariamente cuidado dos interesses argentinos na Venezuela e o asilo de refugiados políticos após o regime de Nicolás Maduro ter cercado a embaixada argentina em Caracas, ou a participação construtiva do governo de Milei no MERCOSUL, são dois exemplos claros que demonstram que os interesses nacionais estão acima dos pessoais.

Finalmente, no que respeita à política externa de Milei, podem destacar-se alguns aspectos que o afastam do personalismo e o aproximam do pragmatismo. Nomeadamente, o apoio à resolução conjunta do G20, como não aconteceu nas Nações Unidas, a realização de uma reunião com o Presidente chinês Xi Jinping e o acordo sobre o memorando de exportação de gás para o Brasil, para além das suas diferenças ideológicas com Xi e Lula.

No entanto, atitudes como a de repostar uma publicação do deputado pró-governo Ramiro Marra (2024) onde fica explícita uma boa relação entre Milei e Donald Trump e uma relação indisposta entre Milei e Lula, nada mais faz do que assoberbar o debate público, reforçando ideologicamente as bases do debate ao invés de contribuir para encontrar uma saída conjunta.

Referências:

Di Cerisano, R. C. S. (2024, 21 de agosto). Diplomatas argentinos são funcionários públicos. Infobae. https://www.infobae.com/opinion/2024/08/21/los-diplomaticos-argentinos-son-servidores-publicos/

Marra, R. [@ramiromarra] (2024, 18 de novembro). COM A DIREITA // COM A ESQUERDA. [Publicação]. Instagram. https://www.instagram.com/p/DChW2hFRCXN/?hl=es

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Ivo Lewkowicz Grimberg

Sou estudante do último ano do curso de Relações Internacionais e Ciência Política na Universidade de Palermo, atualmente realizando um trabalho voluntário na Politic Flix, a consultoria política de Carlos Fara e Associados, e buscando crescer tanto profissional quanto pessoalmente. Apaixonado pela diplomacia, tenho estudos voltados para a análise e pesquisa dos assuntos políticos nacionais e internacionais, sempre com o objetivo de identificar e reconhecer padrões e comportamentos, analisá-los, explicá-los e encontrar soluções para os desafios do complexo mundo atual.

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