Uribe reactiva a sua crítica: paz negociada ou criminalidade reforçada
O antigo presidente colombiano Álvaro Uribe Vélez voltou ao centro do debate político depois de ter feito declarações fortes na sua conta X (antigo Twitter) em 25 de julho de 2025. Na sua mensagem, questionou abertamente as políticas de paz dos antigos presidentes Juan Manuel Santos e Gustavo Petro, afirmando que ambos contribuíram para o ressurgimento das organizações criminosas, o aumento do tráfico de droga e a expansão territorial das estruturas armadas.
A sua frase mais retumbante não passou despercebida:
"Os criminosos recuperaram o poder com o processo de Havana de Santos e o governo de Petro ajudou-os a consolidar-se".
Com esta frase, Uribe reacendeu o debate nacional sobre a relação entre segurança, justiça e reconciliação na Colômbia.
Críticas estruturais: paz, cocaína e extorsão territorial
Uribe argumenta que as decisões tomadas após o acordo de paz de 2016 com as FARC, somadas à política de "paz total" do atual governo, enfraqueceram a capacidade do Estado de impor autoridade, criando vácuos que foram preenchidos por grupos armados ilegais. Segundo a sua análise, entre 2010 e 2025, a Colômbia passou de uma exportação de 150 toneladas de cocaína para mais de 1800 toneladas, e grande parte do país "voltou a ser extorquido".
O ex-presidente aponta especialmente para a alegada "instrumentalização" do processo de justiça transicional, afirmando que as figuras armadas obtiveram benefícios sem compromissos reais de reparação ou desarmamento, o que para ele representa uma "legalização da impunidade". Na sua perspetiva, o processo de paz com Santos ofereceu concessões excessivas, enquanto a política de Petro não colocou limites firmes ao crescimento das dissidências, do Clã do Golfo ou do ELN.
Modelos em disputa: reconciliação vs. controlo territorial
A abordagem de Uribe reaviva uma tensão subjacente que atravessa a história recente da Colômbia: o dilema entre a reintegração negociada dos ex-combatentes e a abordagem punitiva da segurança democrática. O uribismo tem defendido historicamente um modelo centrado na presença militar do Estado, na captura dos líderes armados e no desmantelamento direto das redes ilegais. Em contrapartida, os governos de Santos e Petro optaram pelo diálogo e pela inclusão institucional como eixos centrais da sua estratégia.
Os dados sobre a expansão territorial dos grupos armados após 2022 alimentam parte do argumento. Vários relatórios - incluindo relatórios da Human Rights Watch e da ONU - mostram que os actores armados ilegais cresceram em poder de fogo e cobertura, particularmente em regiões como Guaviare, Catatumbo, Arauca e Nariño. No entanto, os peritos salientam que o cumprimento incompleto dos compromissos do Acordo de Paz, a falta de investimento social nas zonas rurais e a captação de rendas ilegais continuam a ser factores estruturais do conflito.
Reacções contraditórias e visões alternativas
A resposta de Juan Manuel Santos não se fez esperar. O ex-presidente defendeu o seu legado e atacou o que considera ser um vazio de continuidade institucional desde a assinatura do acordo. Segundo Santos, a atual deterioração não é o resultado do pacto, mas sim da sua má implementação pelos governos seguintes. Reafirmou que o Plano Colômbia continua ativo e que o apoio internacional à transição continua a ser fundamental, embora insuficiente, sem um compromisso estatal sustentado.
Por seu lado, analistas como o escritor Juan Gabriel Vásquez e cientistas políticos independentes criticaram a visão "linear" de Uribe, sublinhando que a atribuição do crescimento da violência exclusivamente ao Acordo de Paz ignora factores como a corrupção institucional, a informalidade territorial, a negligência do Estado e o surgimento de economias ilegais após a pandemia. Chamam também a atenção para o uso político repetido da "retórica do medo" em contextos onde o debate público deveria ser orientado para soluções estruturais e não apenas para diagnósticos punitivos.
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