25/04/2025 - politica-e-sociedade

Análise estratégica de redes de lavagem de dinheiro vinculadas a Cuba e outros através do Panamá: Casos, atores e vínculos com o regime

Por Poder & Dinero

Análise estratégica de redes de lavagem de dinheiro vinculadas a Cuba e outros através do Panamá: Casos, atores e vínculos com o regime

Jesus Daniel Romero e William Acosta do Miami Strategic Intelligence Institute para Poder & Dinero e FinGurú

Introdução

A lavagem de dinheiro é uma ameaça transnacional que utiliza estruturas empresariais, paraísos fiscais e sistemas bancários internacionais para ocultar a origem ilícita de fundos, afetando a estabilidade financeira global e facilitando crimes como o narcotráfico e a corrupção (14ymedio, 2016; Martí Notícias, 2016). O Panamá, devido ao seu sistema financeiro flexível e seu papel como hub logístico, consolidou-se como um ponto chave para esquemas de lavagem que envolvem empresas e cidadãos de diversos países, incluindo Cuba e Venezuela (CubitaNOW, 2025). Investigações federais, vazamentos internacionais e reportagens jornalísticas documentaram como empresários, empresas estatais e figuras vinculadas ao regime cubano utilizaram estruturas offshore e bancos panamenhos para lavar fundos ilícitos ou evadir sanções internacionais (Martí Notícias, 2016; elTOQUE, 2020).

Esquemas e Modus Operandi

A lavagem de dinheiro entre Cuba e Panamá se caracteriza pelo uso de empresas de fachada, transferências internacionais, depósitos fracionados e a utilização de múltiplas moedas como dólares, euros, pesos cubanos e bolívares venezuelanos (WPLG, 2024; Martí Notícias, 2016). Entre os métodos mais frequentes destacam-se a criação de empresas fachada no Panamá, a simulação de operações comerciais, o uso de identidades e cartões bancários de terceiros, e a triangulação de fundos através de contas em bancos americanos e europeus (14ymedio, 2016; Martí Notícias, 2016).

Casos Recentes de Altos Montantes e Acusações Federais

Em janeiro de 2025, um cidadão cubano procedente de Havana foi detido no Aeroporto Internacional de Panamá Pacífico ao tentar entrar no país com 25.000 dólares em espécie ocultos dentro de um livro. O passageiro declarou portar apenas 9.000 dólares, mas uma inspeção secundária revelou o valor real. O dinheiro foi retido e ficou sob custódia do Ministério Público do Panamá para investigação por possível lavagem de ativos (Diretório Cubano, 2025; Periódico Cubano, 2025; CiberCuba, 2025a).

Esse mesmo mês, a Interpol e autoridades panamenhas detiveram na Cidade do Panamá um cidadão cubano procurado pelos Estados Unidos, acusado de fraude financeira e lavagem de dinheiro por um montante próximo a 600.000 dólares. A operação, denominada “Operação Mayabeque”, revelou o uso de métodos sofisticados para fraudar vítimas nos Estados Unidos e ocultar os fundos através de técnicas avançadas de lavagem de ativos. O detido enfrenta um processo de extradição para os Estados Unidos (CubitaNOW, 2025; CiberCuba, 2025b).

Entre 2022 e 2024, Manuel Alejandro Rojas, com conexões em Cuba, Venezuela, Panamá e Espanha, liderou um esquema que lavou mais de 3,38 milhões de dólares. O mecanismo incluiu a criação de empresas de fachada no Panamá (Lay Investments, Bempaco XVI), centenas de depósitos em dinheiro em bancos americanos como Truist e JP Morgan Chase, transferências internacionais para contas no Panamá e na Espanha, e o uso de múltiplas identidades e moedas. Este caso foi investigado e processado em cortes federais dos Estados Unidos, destacando a colaboração internacional e a sofisticação desses esquemas (WPLG, 2024; Cuba em Miami, 2024).

Empresas estatais cubanas e estruturas

offshore

Os vazamentos dos Papéis do Panamá e dos Pandora Papers revelaram a existência de numerosas empresas estatais cubanas constituídas como sociedades offshore no Panamá, entre elas Técnica Hidráulica S.A., Amadis Companhia Marítima S.A., B.B. Naft Trading S.A., Pescatlan S.A., Acepex Management S.A., Comercial Mercadu S.A., Travelnet LTD, Resimevis Limited, Mavis Group S.A. e Octagon Industrial LTD. Essas companhias, geridas por funcionários e representantes do regime, têm sido utilizadas para realizar operações comerciais à margem do embargo americano e para mover capitais fora do controle de reguladores estrangeiros (Martí Notícias, 2016; 14ymedio, 2016; elTOQUE, 2020).

Nomes vinculados ao regime cubano

Investigações e vazamentos vincularam figuras do regime cubano e empresários próximos ao poder com a gestão ou representação de empresas offshore no Panamá. Entre os nomes mais citados na imprensa internacional e documentos vazados estão Wilfredo Leyva Armesto, funcionário do Instituto de Recursos Hidráulicos de Cuba, vinculado à Técnica Hidráulica S.A.; assim como diretores da Corporação Panamericana S.A., uma companhia do Ministério de Comércio Exterior criada no Panamá para gerenciar empresas fora do país. Além disso, os Papéis do Panamá têm vinculado familiares de altos comandos militares e do Grupo de Administração Empresarial S.A. (GAESA) com sociedades offshore (Martí Notícias, 2016; 14ymedio, 2016; elTOQUE, 2020).

Fatores que favorecem esses esquemas

O Panamá facilita a criação rápida de sociedades anônimas e contas bancárias com baixo controle de beneficiários finais. A falta de transparência, as restrições cambiais em Cuba e a fraca cooperação internacional contribuem para a operação de redes transnacionais de lavagem de dinheiro (14ymedio, 2016; Diretório Cubano, 2025). Além disso, a diferença entre os limites legais de saída de divisas em Cuba e as exigências de declaração no Panamá gera oportunidades para o movimento irregular de fundos (Periódico Cubano, 2025; CiberCuba, 2025a). Apesar de alguns avanços, o Panamá continua na “lista cinza” da União Europeia por deficiências na luta contra a lavagem de dinheiro e a evasão fiscal (Departamento de Justiça dos Estados Unidos, 2022).

O caso venezuelano: replicando o modelo cubano no Panamá

A Venezuela seguiu uma trajetória similar à de Cuba no uso estratégico do Panamá como plataforma para operações financeiras opacas. Com o colapso econômico interno e as sanções internacionais, figuras do regime venezuelano e empresários aliados têm recorrido a estruturas offshore panamenhas para proteger capitais, mover fundos ilícitos e financiar redes de corrupção transnacional (WPLG, 2024; Cuba em Miami, 2024). Essa dinâmica criou um ecossistema paralelo ao cubano, onde ambas as redes frequentemente se entrelaçam, compartilhando operadores, advogados, intermediários financeiros e mecanismos de ocultação.

Assim como no caso cubano, as empresas de fachada venezuelanas no Panamá têm sido utilizadas para justificar exportações fictícias, receber pagamentos por serviços não prestados e canalizar fundos públicos para contas pessoais em paraísos fiscais. Em muitos casos, os fundos provinham de empresas estatais como a PDVSA, e passavam por bancos panamenhos antes de serem redistribuídos para jurisdições mais seguras (Cuba em Miami, 2024; Departamento de Justiça dos Estados Unidos, 2022).

O caso dos irmãos Martinelli Linares, intimamente vinculados ao ex-presidente panamenho e ao aparato bolivariano, evidenciou a profundidade desses nexos. A rede de corrupção Odebrecht mostrou como as rotas da lavagem panamenha serviram não apenas a Cuba e Venezuela de forma separada, mas como uma plataforma comum de operação, ampliando a escala e sofisticação do crime financeiro regional (Departamento de Justiça dos Estados Unidos, 2022).

Caso Odebrecht e conexões panamenhas

No contexto regional, destaca-se o caso dos irmãos Luis Enrique e Ricardo Martinelli Linares, condenados nos Estados Unidos a 36 meses de prisão por lavar 28 milhões de dólares em um esquema de subornos da Odebrecht S.A., utilizando empresas de fachada e bancos no Panamá, Estados Unidos e Suíça. O caso demonstrou como fundos ilícitos podem circular através de bancos americanos e panamenhos para beneficiar funcionários e manter estilos de vida luxuosos, sublinhando a vulnerabilidade do sistema panamenho ante redes internacionais de corrupção (Departamento de Justiça dos Estados Unidos, 2022).

Conclusão

O uso de companhias cubanas e venezuelanas para lavar ativos via Panamá é uma tendência documentada, com casos recentes que mostram a sofisticação e alcance internacional desses esquemas. A cooperação internacional e o fortalecimento dos controles sobre sociedades offshore e transações transfronteiriças são essenciais para combater esse fenômeno, enquanto a vigilância sobre as estruturas empresariais e bancárias no Panamá continua sendo fundamental para proteger a integridade do sistema financeiro global (14ymedio, 2016; Martí Notícias, 2016).

Referências

14ymedio. (2016). Cerca de 25 empresas vinculadas a Cuba aparecem nos Papéis de Panamá. https://www.14ymedio.com/internacional/cuba-papeles-panama-nuevo-herald_1_1061835.html

CiberCuba. (2025a, janeiro 14). Retêm dinheiro não declarado a passageiro que chegou ao Panamá. https://www.cibercuba.com/noticias/2025-01-14-u1-e197721-s27061-nid295491-retienen-dinero-declarar-pasajero-llego-panama

CiberCuba. (2025b, janeiro 10). Interpol detém em Panamá cubano procurado nos EUA por maciço fraude bancária e lavagem de dinheiro. https://www.cibercuba.com/noticias/2025-01-10-u1-e129488-s27061-nid295220-interpol-arresta-dominicana-cubano-buscado-eeuu

CubitaNOW. (2025, janeiro 8). Capturam em Panamá cubano procurado por fraude e lavagem de dinheiro nos Estados Unidos. https://noticias.cubitanow.com/capturan-en-panam-a-cubano-buscado-por-fraude-y-lavado-de-dinero-en-estados-unidos

Cuba em Miami. (2024, setembro 25). Esquema de lavagem de dinheiro em Miami-Dade se relaciona com transações de Cuba, Venezuela, Panamá e Espanha. https://www.cubaenmiami.com/esquema-de-lavado-de-dinero-en-miami-dade-se-relaciona-con-transacciones-de-cuba-venezuela-panama-y-espana/

Diretório Cubano. (2025, janeiro 27). 25 mil dólares em um livro: confiscam dinheiro a cubano no Aeroporto do Panamá. https://www.directoriocubano.info/noticias/25-mil-dolares-en-un-libro-confiscan-dinero-a-cubano-en-aeropuerto-de-panama/?amp=1

elTOQUE. (2020, novembro 14). A Matrioshka dos negócios cubanos. https://eltoque.com/en/matrioshka-militar-cubana

Martí Notícias. (2016, maio 13). Cuba nos Papéis do Panamá: quem é Wilfredo Leyva Armesto? https://www.martinoticias.com/a/cuba-panama-papers-empresa-offshore/121905.html

Periódico Cubano. (2025, janeiro 26). Panamá detecta viajante procedente de Cuba com 25 mil dólares não declarados. https://www.periodicocubano.com/panama-detecta-a-viajero-procedente-de-cuba-con-25-mil-dolares-sin-declarar/

Departamento de Justiça dos Estados Unidos. (2022, fevereiro 4). Intermediários panamenhos condenados a 36 meses de prisão por esquema internacional de suborno e lavagem de dinheiro. https://www.justice.gov/archives/opa/pr/panama-intermediaries-each-sentenced-36-months-prison-international-bribery-and-money

WPLG. (2024, setembro 25). Polícia: Esquema de lavagem de dinheiro em Miami-Dade tinha vínculos com Venezuela, Cuba, Panamá e Espanha. https://www.local10.com/espanol/2024/09/25/policia-esquema-de-lavado-de-dinero-en-miami-dade-tenia-vinculos-con-venezuela-cuba-panama-y-espana/

Jesús Daniel Romero, Comandante Aposentado de Inteligência Naval dos Estados Unidos. Co-Fundador e Fellow Sênior do Miami Strategic Intelligence Institute.

Autor do Best Seller na Amazon ¨ Voo Final: A Rainha do Ar ¨, onde relata parte de sua experiência conduzindo equipes de luta contra os cartéis do narcotráfico na América Central.

William Acosta, investigador privado de prestígio internacional, é oficial do Departamento de Polícia de Nova York. CEO da Equalizer Investigations. Fellow Sênior do Miami Strategic Intelligence Institute.

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