Jesús Daniel Romero e William Acosta do Miami Strategic Intelligence Institute para Poder & Dinero e FinGurú
Introdução
O fenômeno dos filhos e boliburgueses do regime venezuelano que estudam, vivem e viajam pelo mundo, enquanto investem em propriedades de luxo e empresas nos Estados Unidos e na Europa, merece ser analisado em um contexto mais amplo (Infobae, 2019a). Esta análise exige uma revisão crítica da ajuda econômica que os Estados Unidos concedem a vários governos latino-americanos que, embora se apresentem como aliados estratégicos, agem na verdade como “aliados de conveniência” —priorizando seus próprios interesses sobre a promoção da democracia e dos direitos humanos (Confidencial, 2025; WOLA, 2025).
É essencial que os EUA reavaliem suas políticas de cooperação e assistência, já que muitos desses governos não agem de acordo com os valores democráticos que Washington busca promover (CADTM, 2024). Muitas vezes, inclusive dificultam os esforços americanos na região.
Uma medida concreta seria a revogação de vistos para essas elites e suas famílias, obrigando seus filhos a viver nos países que publicamente defendem. Se realmente promovem sistemas socialistas, deveriam ter a oportunidade de experimentar o “sonho da miséria” que enfrentam diariamente os cidadãos de Cuba, Venezuela e Nicarágua, assim como os problemas estruturais que persistem na China, Coreia do Norte, Rússia e Irã (NUSO, 2024).
Many of these "socialistas de livros, leyendas y YouTube" defendem ideais que nunca viveram (Infobae, 2019b). Por isso, é inadmissível que continuem a aproveitar os benefícios do sistema americano enquanto exportam violência, corrupção e narcotráfico que afetam a segurança e a qualidade de vida dentro dos EUA (Convoca.pe, 2020).
A crise venezuelana não se deve apenas ao colapso econômico e à repressão política, mas também à consolidação de uma elite parasitária que acumulou riquezas e privilégios sob um falso discurso revolucionário (Transparência Internacional, 2018). Este fenômeno ilustra a hipocrisia daqueles que proclamam ideais antiimperialistas enquanto desfrutam dos luxos do mundo capitalista que criticam publicamente (Infobae, 2019a; El País, 2018).
Privilégios e Corrupção da Elite Chavista
A ascensão da “boliburguesia” venezuelana foi impulsionada pelo controle discricionário de recursos públicos, a corrupção estrutural e a criação de redes internacionais de lavagem de dinheiro (OCCRP, 2021; Diário Las Américas, 2024).
Casos emblemáticos ilustram com crueza essa desconexão:
● María Gabriela Chávez, filha do falecido Hugo Chávez, foi apontada como uma das mulheres mais ricas da Venezuela, com uma fortuna estimada em mais de 4 bilhões de dólares, depositados principalmente em contas no exterior. Atualmente reside entre Nova York e Buenos Aires e ocupou cargos diplomáticos que lhe conferem imunidade (Infobae, 2019a).
● Rosinés Chávez, também filha de Chávez, cursou estudos na renomada Universidade da Sorbonne em Paris, enquanto a educação pública venezuelana se deteriorava até níveis de sobrevivência (El País, 2018).
● Yoswal e Walter Gavidia Flores, enteados de Nicolás Maduro, foram fotografados viajando para destinos de luxo como Paris, Roma e Bangkok, gastando centenas de milhares de dólares em hotéis cinco estrelas e boutiques exclusivas (Infobae, 2022).
● Alejandro Andrés Ceballos, filho do empresário ligado ao chavismo Alejandro Ceballos Jiménez, movimentou mais de 22 milhões de dólares através de contas offshore. A família possui propriedades de luxo em Caracas, Miami e Madrid, assim como haras de cavalos de corrida na Florida (Convoca.pe, 2020).
● Daniella Cabello, filha de Diosdado Cabello, leva uma vida de celebridade nas redes sociais, com frequentes viagens de luxo, enquanto ocupa cargos culturais na Venezuela. Recentemente, foi sancionada pelo governo dos EUA por sua ligação com redes de corrupção (Infobae, 2023).
● Luis Chacín Haddad e seu filho, vinculados a contratos irregulares de Corpoelec, adquiriram propriedades em Orlando através de empresas de fachada, ocultando a origem de seus fundos (Diário Las Américas, 2024).
● A família Wakil e Sayegh Sakka investiu em pelo menos cinco propriedades de luxo em Miami, avaliadas em mais de 19 milhões de dólares, incluindo apartamentos na exclusiva Torre Porsche Design (El País, 2018).
● A família Malpica Flores, ligada a Cilia Flores, adquiriu residências em Orlando e tem estado envolvida em operações de corrupção que somam centenas de milhões, segundo investigações internacionais (El País, 2024).
Esses casos representam apenas uma fração da extensa rede de familiares de ex-funcionários, militares, juízes e empresários vinculados ao chavismo que estabeleceram residências e fortunas nos Estados Unidos, Espanha, Portugal e outros destinos privilegiados.
Enquanto isso, milhões de venezuelanos enfrentam salários de miséria, falta de serviços básicos e uma crise humanitária sem precedentes (Transparência Internacional, 2018).
Resumo do Saqueo: impunidade Transnacional
A corrupção estrutural do chavismo foi facilitada pela conivência de bancos internacionais, especialmente na Europa, que processaram milhões em fundos públicos venezuelanos sem realizar os controles devidos (Convoca.pe, 2020; OCCRP, 2021). Instituições suíças, portuguesas e alemãs —como Credit Suisse, Julius Baer, CBH, Banco Espírito Santo e Deutsche Bank— foram fundamentais para ocultar fortunas ilícitas.
As sanções internacionais tiveram efeitos limitados: embora tenham restringido certos movimentos, as redes de corrupção continuam operando através de criptomoedas, empresas offshore e novas plataformas financeiras. As multas impostas a bancos cúmplices, embora milionárias, foram insuficientes para impedir sua reincidência (World Compliance Association, 2023; BBC, 2020).
Conclusão e Recomendações
O saqueo da Venezuela foi possível graças a uma estrutura de corrupção internacional que inclui funcionários, empresários, banqueiros e testaferros. Enquanto isso, a população venezuelana enfrenta uma das piores crises humanitárias do hemisfério.
É indispensável que os Estados Unidos e a comunidade internacional:
Revejam suas políticas de cooperação e ajuda externa.
Apliquem sanções mais efetivas e específicas contra redes de testaferros e empresas fachada.
Fortaleçam os mecanismos de controle migratório e financeiro para impedir que essas elites continuem operando impunemente do exterior.
Apenas uma ação internacional coordenada, acompanhada do fortalecimento da sociedade civil venezuelana, poderá romper o ciclo de impunidade e abrir caminho para uma verdadeira transição democrática (NUSO, 2024).
Referências:
Aporrea. (2025, abril 18). O ditador escraviza os trabalhadores da educação. https://www.aporrea.org/amp/educacion/a340411.html
BBC. (2020, setembro 22). FinCEN Files: 4 grandes bancos utilizados por oligarcas, corruptos e criminosos
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-54240611.amp
CADTM. (2024, março 6). O apoio do Banco Mundial e do FMI às ditaduras.
https://www.cadtm.org/El-apoyo-del-Banco-Mundial-y-del-FMI-a-las-dictaduras
CIPER. (2020, setembro 20). Lavagem de dinheiro: Filtragem de arquivos revela como bancos globais consentem a oligarcas, narcotraficantes e terroristas.
Confidencial. (2025, março 7). EUA cancelam 92 programas de ajuda a Nicarágua, Cuba e Venezuela
Convoca.pe. (2020, setembro 21). Magnatas da Venezuela usaram bancos da Europa e dos EUA para transferir fortunas que ganharam com o regime chavista.
Diário Las Américas. (2024, maio 18). Um saqueo sem precedentes, os 25 anos de corrupção do regime chavista.
El País. (2018, setembro 10). O opulento desembarque na Espanha dos milionários venezuelanos.
https://elpais.com/politica/2018/07/24/actualidad/1532432469_458131.html?outputType=amp
El País. (2023, março 22). A corrupção da PDVSA atinge em cheio o chavismo.
El País. (2024, abril 17). A obscura era da PDVSA: quatro diretores acusados de corrupção e milhares de milhões desaparecidos.
transparency.org Gallup. (2014). Pesquisa sobre corrupção na Venezuela.
Infobae. (2019a, fevereiro 8). O ‘jet set’ venezuelano: assim vivem os filhos dos líderes da ditadura chavista.
Infobae. (2019b, março 2). As famílias da ditadura venezuelana e os luxos com os quais vivem.
Infobae. (2022, março 13). A luxuosa viagem de prazer de “Nicolasito” Maduro à Tailândia.
Infobae. (2024). Daniella Cabello sancionada por EE.UU. e incluida en la lista OFAC.
NUSO. (2024). Venezuela: elites fugitivas en un país hecho escombros.
https://nuso.org/articulo/303-venezuela-elites-fugitivas/
OCCRP. (2021, febrero 8). El empresario venezolano de la jet-set con empresas en Luxemburgo vinculadas a investigaciones sobre lavado.
Transparencia Internacional. (2018). Índice de Percepción de la Corrupción.
https://files.transparencycdn.org/images/CPI-2018-Executive-Summary-in-Spanish.pdf
WOLA. (2025, febrero 4). La suspensión de Trump de la ayuda internacional estadounidense.
https://www.wola.org/es/analysis/la-suspension-de-trump-de-la-ayuda-internacional-estadounidense/
World Compliance Association. (2023, marzo 27). Los 5 bancos con más sanciones por lavado de dinero.
Jesús Daniel Romero, Comandante Retirado de Inteligencia Naval de los Estados Unidos. Co Fundador y Senior Fellow de Miami Strategic Intelligence Institute.
Autor del Best Seller en Amazon ¨ Final Flight: The Queen of Air ¨ , donde relata parte de sus experiencia conduciendo equipos de lucha contra los carteles del narcotráfico en América Central
William Acosta, Investigador Privado de prestigio internacional, es oficial del Departamento de Policía de Nueva York. CEO de Equalizer Investigations. Senior Fellow de Miami Strategic Intelligence Institute
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