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A Dupla Moral de Bruxelas: Mísseis para a Ucrânia, Euros para Cuba

Por Poder & Dinero

A Dupla Moral de Bruxelas: Mísseis para a Ucrânia, Euros para Cuba

Jesús Daniel Romero e William Acosta do Miami Strategic Intelligence Institute para Poder & Dinero e FinGurú

Introdução

Nos últimos três anos, a União Europeia (UE) tem sido o principal aliado internacional da Ucrânia frente à agressão russa. Destinou mais de 85 bilhões de euros em ajuda militar, humanitária e econômica a Kiev (Vanguardia, 2023), enquanto sanciona severamente o Kremlin e reforça sua narrativa em defesa da democracia. No entanto, a mesma União Europeia mantém um acordo formal de cooperação com o regime cubano (EUR-Lex, 2016), um dos mais longevos e repressivos do hemisfério ocidental.

Essa contradição expõe um duplo padrão político e moral que enfraquece a credibilidade do bloco europeu em matéria de direitos humanos, particularmente na América Latina.

Cuba: cooperação sem democracia

Desde 2016, quando a UE assinou com Raúl Castro o Acordo de Diálogo Político e de Cooperação (ADPC), as relações com o regime cubano foram normalizadas. A assinatura do acordo significou o fim da “posição comum” europeia, que condicionava qualquer aproximação a melhorias verificáveis em direitos humanos.

Sob o novo marco, a UE transferiu mais de 140 milhões de euros em cooperação para desenvolvimento, turismo, agricultura e mudanças climáticas (Fundação Carolina, 2022). Esses fundos são canalizados através do aparato estatal cubano, sem supervisão transparente nem participação da sociedade civil independente (Diário de Cuba, 2025).

Enquanto isso, o regime continua encarcerando artistas, jornalistas, ativistas, opositores pacíficos e jovens que se manifestaram no histórico levante de 11 de julho de 2021. Não há eleições livres, nem imprensa plural, nem liberdade sindical.

Ainda assim, Bruxelas defende sua política de “compromisso construtivo” com Havana (Semanario Universidad, 2025).

Ucrânia: firmeza, defesa e princípios

Desde que a Rússia lançou sua invasão em 2022, a UE tem liderado uma coalizão internacional para apoiar Kiev. Não apenas com sanções e armamento, mas com apoio diplomático em cada fórum internacional e uma narrativa clara: a Ucrânia é uma democracia soberana que luta pela sua liberdade diante de um regime autoritário.

Os líderes europeus visitaram a Ucrânia em várias ocasiões. Incluíram o país em planos de adesão, congelaram ativos russos e transformaram a defesa da Ucrânia em um eixo de sua política externa (Swissinfo, 2025).

Uma visão de Washington: Trump, Rubio e a linha dura

No governo do presidente Donald J. Trump (2017–2021), a política em relação a Cuba foi contundente: inverteu-se o descongelamento iniciado pela administração Obama, reinstauraram-se restrições financeiras, Cuba foi reincorporada à lista de Estados patrocinadores do terrorismo e foram sancionados os conglomerados militares que dominam a economia insular (Departamento de Estado dos EUA, 2021).

Essa política foi coerente com uma visão de máxima pressão hemisférica que também alcançou Venezuela e Nicarágua. Para a administração Trump, a defesa da democracia não era apenas uma questão euroasiática, mas uma prioridade continental.

Essa visão foi retamada pelo atual secretário de Estado Marco Rubio, que tem liderado uma política externa centrada na defesa das liberdades hemisféricas. Sob sua liderança, os Estados Unidos pressionaram para que o acordo UE–Cuba fosse suspenso, reforçaram alianças com governos democráticos latino-americanos e denunciaram o duplo discurso de Bruxelas em fóruns multilaterais (El País, 2025).

O eixo brando europeu: os países que sustentam Havana

A esta contradição se soma um fenômeno dentro da própria UE: vários governos foram mais duros com a política externa de Trump do que com a ditadura cubana.

●       A Espanha (governos do PSOE) defendeu seus vínculos comerciais com Cuba, mesmo enquanto suas empresas hoteleiras se beneficiavam do modelo econômico controlado pela GAESA.

●       A Irlanda e a Bélgica votaram contra ou se abstiveram em resoluções do Parlamento Europeu que condenam a repressão cubana.

●       A Itália, Grécia e Portugal evitaram confrontar o regime cubano diretamente, apelando ao discurso de não interferência e diálogo técnico.

Todos esses países criticaram as sanções impostas por Trump, enquanto protegiam seus investimentos em Cuba ou promoviam uma visão romântica da revolução. O resultado: a mesma Europa que sanciona a Rússia por invadir uma democracia financia uma ditadura estancada a 150 quilômetros da Flórida.

A urgência de corrigir o rumo

O Parlamento Europeu aprovou múltiplas resoluções condenando a repressão em Cuba, mas o Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE) continua defendendo o ADPC. A contradição entre instituições e entre princípios e prática é cada vez mais evidente.

Se a Europa deseja ser vista como uma defensora autêntica dos direitos humanos e da democracia, deve aplicar a mesma firmeza moral que demonstra na Ucrânia à sua política em relação a Cuba.

Uma resposta necessária: firmeza americana diante da hipocrisia europeia

A nova administração do presidente Trump — agora com liderança comprovada no Departamento de Estado — deve lembrar a Bruxelas que os direitos humanos não são negociáveis. Se a União Europeia insiste em financiar ditaduras como a cubana enquanto exige lealdade democrática em outros fronts, os Estados Unidos devem responder com ações proporcionais.

É hora de considerar sanções econômicas seletivas contra os verdadeiros paraísos do duplo discurso europeu: aqueles países que lucram com o turismo em ditaduras, que protegem investimentos em empresas militares repressoras, ou que bloqueiam resoluções em defesa da liberdade. Se a Europa não quer agir com coerência, que ao menos assuma o custo diplomático e financeiro de sua hipocrisia.

Porque a liberdade não pode depender do clima político de Bruxelas. E o mundo não pode tolerar que princípios sejam vendidos em troca de contratos hoteleiros em Havana.

Referências

●       Diário de Cuba. (2025). A sociedade civil cubana pede ao Parlamento Europeu para ser parte de… https://diariodecuba.com/derechos-humanos/1746825794_61042.html

●       Departamento de Estado dos EUA. (2021). Estados Patrocinadores do Terrorismo. https://www.state.gov/state-sponsors-of-terrorism/

●       El País. (2025). Marco Rubio se impõe como o homem de confiança de Trump em política externa. https://elpais.com/internacional/2025-05-04/marco-rubio-se-impone

●       EUR-Lex. (2016). Acordo de Diálogo Político e de Cooperação UE-Cuba. https://eur-lex.europa.eu/legal-content/ES/TXT/?uri=CELEX%3A22016A1213(01)

●       Fundação Carolina. (2022). Relações entre a União Europeia e Cuba. https://www.fundacioncarolina.es/wp-content/uploads/2022/02/Especial_FC_EULAC_1_ES.pdf

●       Semanario Universidad. (2025). UE sustenta o acordo de diálogo e cooperação com Cuba. https://semanariouniversidad.com/mundo/ue-sostiene-el-acuerdo

●       Swissinfo. (2025). A UE destinará à defesa da Ucrânia 1.000 milhões de euros… https://www.swissinfo.ch/spa/la-ue-destinar%C3%A1

Vanguardia. (2023). A União Europeia destina mil 500 milhões de euros à Ucrânia. https://vanguardia.com.mx/noticias/da-la-union-europea-mil-500-millones-de-euros-a-ucrania-NG10529895

Jesús Daniel Romero. Comandante Aposentado de Inteligência Naval dos Estados Unidos. Co-fundador e Senior Fellow do Miami Strategic Intelligence Institute. Autor de ¨ Final Flight: the queen of air ¨ um best-seller na Amazon. Um relato autorizado de suas experiências liderando equipes de combate ao narcotráfico na América Central. Consultor habitual sobre temas de sua competência e geopolítica em geral, pelos principais meios audiovisuais e impressos do estado da Flórida. Columnista do Diário Las Américas de Miami.

William Acosta. Atuou no Departamento de Polícia de Nova York como investigador. Participou de várias investigações internacionais sobre narcotráfico, lavagem de dinheiro, terrorismo, homicídios e tráfico de pessoas. Colaborou com o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e atualmente é CEO da Equalizer Investigations, uma organização com escritórios nos estados de Nova York e Flórida, entre outros, e associados na América Latina e Europa.

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