Jesús Daniel Romero e William Acosta para Poder & Dinero e FinGurú
Nos últimos dias, o Papa Francisco criticou severamente a administração do presidente Donald J. Trump por sua política de deportações em massa de imigrantes criminosos e ilegais e direcionou parte de sua crítica aos clérigos norte-americanos. Por sua vez, o czar da fronteira norte-americana, Tom Homan, que é católico, respondeu ao Papa que ele deveria se preocupar com seu papado, o Vaticano, e apontou para os mesmos muros que protegem o Vaticano como condições semelhantes.
O Papa Francisco tem sido uma figura influente no campo religioso e político, mas sua postura em temas de direitos humanos e política migratória tem suscitado críticas, especialmente em relação ao seu silêncio sobre as violações de direitos humanos na Venezuela e seu enfoque na política migratória dos Estados Unidos. De fato, o Papa Francisco afirmou que os seres humanos têm direitos universais de imigrar.
Desde sua ascensão ao papado, Francisco manteve uma postura de proximidade com governos de esquerda na América Latina, incluindo regimes como o de Nicolás Maduro na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador e os Kirchner na Argentina. Um exemplo claro dessa afinidade se evidenciou quando o Vaticano reconheceu Nicolás Maduro como o presidente legítimo da Venezuela. Esse reconhecimento se concretizou quando Maduro recebeu as cartas credenciais do Núncio apostólico Monsenhor Alberto Ortega Martín, embaixador enviado pelo Papa à Venezuela. Essa ação, em meio à crise política e humanitária no país, constitui um respaldo à legitimidade do governo de Maduro, apesar das numerosas denúncias de violações de direitos humanos e abusos cometidos pelo regime.
O silêncio do Papa Francisco diante das graves crises humanitárias na Venezuela, marcadas por desaparecimentos forçados, homicídios e violações de direitos humanos, gerou descontentamento entre aqueles católicos que esperavam uma declaração mais firme em defesa dos direitos do povo venezuelano. Essa falta de ação pode ser interpretada como uma tentativa de evitar confrontos diretos com líderes que compartilham sua visão de mundo, mas também deixa muitos questionando seu compromisso com os princípios de justiça social e dignidade humana.
No âmbito internacional, o conflito entre o Papa Francisco e a administração de Donald Trump em relação à política migratória dos Estados Unidos tem sido um tema recorrente. O Papa tem defendido os direitos dos migrantes e criticado as políticas que os discriminam, apontando que as expulsões de migrantes afetam a dignidade humana. Ele instou os líderes a não ceder às narrativas que fomentam a discriminação. Em contraste, figuras como Tom Homan, czar da fronteira sob Trump, desafiaram o Papa, sugerindo que ele deveria se concentrar nos problemas dentro da Igreja em vez de criticar as políticas americanas.
Trump, com seu enfoque conservador, tem mantido uma relação complexa com a religião. Embora busque o apoio dos cristãos evangélicos, também se mostra intolerante às críticas que vêm de figuras religiosas. Esse padrão se repete em sua resposta à bispa Mariann Budde, a quem desqualificou publicamente após suas declarações sobre a compaixão para com os migrantes e a comunidade LGTBQ. Ao longo de sua presidência, Trump implementou políticas que intensificaram a vigilância e o controle da migração, o que gerou tensões não apenas com o Papa, mas também com diversas organizações e líderes religiosos que advogam por um tratamento mais humanitário para os migrantes.
Ao mesmo tempo, o Papa demonstrou uma notável preocupação pela política migratória dos Estados Unidos, especialmente no contexto das deportações. No entanto, seu enfoque parece ser seletivo, uma vez que não abordou de maneira contundente os problemas que o povo venezuelano enfrenta sob o regime de Maduro. Essa aparente dupla moral levanta questões sobre a coerência de sua mensagem e suas prioridades.
A crítica ao Papa também se concentra em sua falta de ação frente aos "verdadeiros tiranos" na América Latina e no Caribe. Ao estar mais preocupado com as deportações de criminosos a partir dos Estados Unidos do que com o sofrimento do povo venezuelano, sua postura pode ser vista como uma falta de alinhamento com os valores que ele mesmo promove. A inconsistência entre suas declarações sobre dignidade humana e seu silêncio sobre situações de opressão em seu próprio continente sugere uma relação complexa com a política internacional e os poderes estabelecidos.
Durante sua visita ao Chile e ao Peru em janeiro de 2018, muitos esperavam que o Papa abordasse os escândalos de direitos humanos na região. No entanto, sua falta de pronunciamentos sobre a crise venezuelana foi notável. Apesar das ameaças de Maduro contra bispos e das evidências de execuções extrajudiciais na Venezuela, o Papa não condenou publicamente esses fatos, mantendo uma postura ambígua que se repetiu em suas declarações sobre o regime venezuelano. Embora tenha expressado sua preocupação pela crise na Venezuela, suas palavras muitas vezes evitam apontar a responsabilidade do governo pelos abusos cometidos.
No Chile, o Papa pediu desculpas em nome da Igreja pelos abusos sexuais cometidos por clérigos, mas sua defesa de um bispo acusado de encobrimento gerou mais polêmica. Ao que parece, Francisco minimizou as acusações e exigiu provas concretas das vítimas, o que foi criticado por líderes da Igreja, que advertiram que tais comentários poderiam dissuadir outros de denunciarem abusos.
Além disso, sua visita ao Peru ocorreu em um contexto de indignação pelo indulto concedido a Alberto Fujimori, ex-presidente condenado por violações de direitos humanos. Apesar da forte reação das vítimas e suas famílias, o Papa não se pronunciou sobre esse escândalo, o que deixou muitos decepcionados.
A ambiguidade de Francisco em questões de direitos humanos é preocupante, uma vez que sua liderança na Igreja Católica poderia ter servido como um poderoso aliado na luta por justiça social e direitos civis na América Latina. Seu foco em questões como pobreza e direitos dos povos indígenas é valioso, mas a falta de um compromisso claro com os direitos civis e políticos levou muitos a questionar sua autenticidade e eficácia como defensor da dignidade humana.
Os escândalos de abusos sexuais dentro da Igreja Católica têm sido um tema de grande preocupação e controvérsia a nível mundial. Em Portugal, foram documentados pelo menos 4.815 menores abusados desde 1950, com ações legais em 25 casos. Nos Estados Unidos, mais de 20.000 denúncias entre 1950 e 2018 envolveram aproximadamente 7.000 membros do clero, destacando o caso do cardeal Theodore McCarrick, que foi expulso em 2019 por abusos a adolescentes.
No Chile, mais de 200 membros da Igreja foram investigados por 150 casos, com 240 vítimas identificadas. A Alemanha reportou pelo menos 547 menores abusados em um coro de Ratisbona entre 1945 e início de 1990. A França estima que 330.000 menores foram vítimas de abusos desde 1950. Na Irlanda, foram investigados pelo menos 85 sacerdotes desde 1975, com acusações surgindo desde a década de 1980.
Na Polônia, foram recebidas centenas de denúncias desde 2018, admitindo cerca de 400 padres envolvidos em abusos ao longo de três décadas. A Austrália revelou que 7% dos religiosos católicos receberam acusações de abusos. Na Colômbia, mais de 300 casos foram reportados desde 1995, e na Nicarágua, as denúncias enfrentam obstáculos significativos devido ao contexto político. O México também teve numerosos escândalos, com milhares de denúncias desde 1940.
O papel do Vaticano no encobrimento e proteção de casos de abusos sexuais tem sido objeto de intensas críticas. Ao longo dos anos, altos funcionários da Igreja tomaram medidas para proteger os acusados, transferindo-os para novas paróquias em vez de denunciá-los às autoridades civis. Esse padrão contribuiu para a percepção de que a Igreja prioriza sua reputação sobre a justiça para as vítimas.
O Papa Francisco, desde sua ascensão ao papado em 2013, tem enfrentado desafios significativos em relação a esse tema. Embora tenha expressado seu compromisso de abordar o abuso dentro da Igreja, sua resposta tem sido considerada insuficiente. Em 2018, sua defesa de um bispo acusado de encobrimento provocou um forte rejeição e levou a um pedido de desculpas por parte do pontífice.
O Papa Francisco recebeu na Casa Santa Marta o secretário geral da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), Rodolfo Aguiar, um dos sindicalistas mais críticos da gestão de Javier Milei. Durante a audiência privada, o líder do sindicato pediu ao pontífice que considere antecipar sua visita à Argentina e lhe transmitiu sua preocupação com as políticas do governo.
Análise da Carta a Trump: Revelando a Dupla Moral do Papa Francisco
A carta dirigida ao presidente Donald Trump sobre a crise migratória venezuelana apresenta um contexto em que se pode observar a dupla moral do Papa Francisco em relação à sua postura sobre os direitos humanos e a migração. A seguir, analisam-se os principais aspectos que ilustram essa dualidade:
Silêncio sobre as violações de direitos humanos na Venezuela: Apesar de que o Papa tenha expressado preocupação pelo sofrimento humano, sua falta de pronunciamentos contundentes sobre o regime de Nicolás Maduro e seus abusos tem sido evidente. Isso contrasta com sua ativa intervenção na política migratória dos Estados Unidos, onde criticou as deportações e as políticas antiimigração. Essa discrepância gera questionamentos sobre seu compromisso real com os direitos humanos em seu continente natal.
Reconhecimento de governos questionáveis: O fato de que o Vaticano tenha reconhecido Maduro como presidente legítimo da Venezuela mostra uma postura ambígua. Enquanto o Papa Francisco defende a dignidade humana e os direitos dos migrantes, seu reconhecimento a um líder que tem sido acusado de violações graves de direitos humanos sugere uma falta de coerência em sua mensagem. Essa situação provoca confusão sobre quais são realmente suas prioridades em termos de justiça social.
Incongruências no enfoque migratório: Na carta, faz-se um chamado à criação de corredores humanitários e à extensão do Estatuto de Proteção Temporária para venezuelanos, o que reflete uma preocupação pelo bem-estar dos migrantes. No entanto, sua crítica às políticas migratórias de Trump não se traduziu em uma postura firme e ativa em prol dos direitos dos refugiados venezuelanos. Essa inação pode ser interpretada como uma contradição entre seu discurso e suas ações.
Falta de apoio a organizações de direitos humanos: A carta menciona organizações não governamentais que trabalham com migrantes venezuelanos, mas o Papa Francisco não demonstrou um apoio contundente a essas iniciativas em seus pronunciamentos públicos. Isso levanta a questão se ele realmente está comprometido com a causa dos migrantes ou se sua retórica é apenas simbólica, sem um respaldo efetivo que melhore a situação dos afetados.
Relação com o poder político: A relação do Papa Francisco com políticos de esquerda na América Latina, incluindo Maduro, contrasta com sua crítica às políticas de Trump. Essa aparente relação amistosa com certos líderes políticos, enquanto ao mesmo tempo se enfrenta a outros, sugere uma falta de consistência em sua postura. Isso pode ser visto como uma tentativa de manter um equilíbrio político que, em última análise, dilui sua mensagem sobre os direitos humanos.
Setores mais confrontados com o governo de Javier Milei são um exemplo claro de sua influência nos assuntos internos. Essa interação sugere que o Papa não apenas se preocupa com a política internacional, mas também está disposto a se envolver nas dinâmicas políticas de seu país, defendendo interesses que considera vitais para o bem-estar da sociedade argentina.
A implicação de Francisco na política argentina levanta questões sobre a separação entre a Igreja e o Estado, e se sua intervenção é vista como uma missão de justiça social ou como uma ingerência na política. Seu papel na política interna reflete uma complexidade que vai além de sua função religiosa, e sua capacidade de influenciar a política local e global continua sendo objeto de análise e debate.
**Conclusão**
O Papa Francisco se posiciona como uma figura-chave no âmbito político tanto internacional quanto nacional. Sua história com os Kirchner, sua crítica à corrupção e sua recente participação na política interna da Argentina evidenciam seu desejo de ser um agente de mudança e um defensor dos direitos humanos. No entanto, sua ambiguidade em relação a governos autoritários, especialmente seu apoio a líderes de esquerda na América Latina, bem como sua inação em situações críticas e sua relação com diferentes líderes políticos, geram uma percepção de incoerência que mina sua credibilidade como defensor da dignidade humana e dos direitos dos migrantes.
Os escândalos de abusos sexuais dentro da Igreja, que afetaram diversas nações, ressaltam ainda mais a necessidade de um compromisso firme e genuíno por parte do Papa Francisco para abordar essas crises. Em um contexto onde a defesa dos direitos humanos é mais crucial do que nunca, é essencial que o Papa Francisco aplique seus princípios de maneira consistente e firme. Essa dualidade em sua liderança levanta importantes questões sobre seu compromisso com a justiça social e a proteção dos direitos humanos, tanto na América Latina quanto em nível internacional. A diáspora venezuelana criticou severamente a falta de liderança do Papa Francisco, o que levou a uma má imagem de sua preferência pelo regime, não em favor dos milhões de venezuelanos que tiveram que fugir devido às políticas socialistas do governo.
Créditos:
The New York Times
The Guardian
BBC News
El País
La Nación
Clarín
Reuters
Al Jazeera
CNN
Infobae
**Jesús Romero** é oficial aposentado de inteligência da Marinha dos Estados Unidos. Alistou-se na Marinha em 1984 e foi designado Oficial de Inteligência Naval. Também foi especialista em operações de inteligência no serviço civil do exército. Foi marinheiro de convés em um cruzador de mísseis nucleares. Depois teve a oportunidade de ser navegador e, após 8 anos, tornou-se oficial.
Romero tornou-se oficial através do Programa de Alistados da Marinha, formou-se com honras na Universidade Estatal de Norfolk e obteve um diploma em Ciências Políticas. Graças ao seu bom desempenho acadêmico, pôde escolher o caminho da inteligência. Estudou aviação e depois entrou na escola de inteligência. Foi designado para um esquadrão de A-6 Intruder, um bombardeiro tático que opera de um porta-aviões USS América, a bordo do qual foi para a Bósnia, Iraque e Sudão.
Em seguida, comandou uma unidade de inteligência no Panamá, trabalhando para a Agência de Inteligência de Defesa (Defense Intelligence Agency), e supervisionou analistas de equipes táticas na América Central e do Sul e no México. Trabalhou em um centro de inteligência no Havai como oficial de guarda da China, onde monitorava as atividades militares do país asiático.
Após se retirar da Marinha, Romero foi contratado como contratado de defesa para a Divisão Norte-Americana da British Aerospace Systems (BAE) em Washington, D.C. e também para a Booz Allen Hamilton em Miami.
William L. Acosta é o fundador e CEO da Equalizer Private Investigations & Security Services Inc. Uma agência de investigação autorizada em NYS, FL, com escritórios e afiliados em todo o mundo.
Equalizer mantém escritórios e filiais nos Estados Unidos em Nova York, Flórida, Califórnia e América Latina. Desde 1999, as investigações da Equalizer fecharam com sucesso casos que vão de Narcóticos, Homicídios, Pessoas Desaparecidas e outros crimes.
Equalizer tem estado envolvida na defesa penal de casos de Defesa Penal Estadual e Federal que variam de Homicídio, Narcóticos, RICO, Lavagem de Dinheiro, Conspiração e outras acusações federais e estaduais.
O Sr. Acosta coordenou investigações nos EUA e em outros países ao redor do mundo. Ele se especializa em investigações internacionais e multijurisdicionais, e nos últimos anos, realizou investigações na Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, França, Inglaterra, México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Panamá, Colômbia, Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador, Peru, Brasil, Porto Rico, República Dominicana, entre outros lugares.
Ele dirigiu ou coordenou investigações relacionadas a narcotráfico internacional, lavagem de dinheiro e homicídios, e também atuou como instrutor e palestrante internacional sobre vários temas de investigação.
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