23/06/2025 - politica-e-sociedade

O conflito Israel-Irã divide o Trumpismo

Por Tobias

O conflito Israel-Irã divide o Trumpismo

Tucker Carlson e Ted Cruz em uma entrevista na última semana. Fonte: YouTube.

O Partido Republicano, dividido diante de uma nova guerra

Nos dias que antecederam o bombardeio dos Estados Unidos sobre instalações nucleares em Teerã, o apresentador ultraconservador e aliado de Donald Trump, Tucker Carlson, entrevistou o senador republicano Ted Cruz em um tenso intercâmbio que expôs as divisões internas dentro do Partido Republicano.

Por um lado, Carlson sustentou veementemente que envolver os Estados Unidos em um novo conflito seria desnecessário e perigoso, alertando que poderia escalar rapidamente em nível global. Além disso, sublinhou que, segundo sua visão, a situação interna nas ruas do país já é suficientemente calamidosa para abrir outro frente no exterior.

Por outro lado, Cruz tentou justificar a necessidade de uma intervenção retomando exemplos históricos de regimes derrubados pelos Estados Unidos, desde Saddam Hussein até Muamar Gaddafi. Ele também evocou a firmeza que, segundo ele, Ronald Reagan demonstrou frente à União Soviética durante a Guerra Fria. No entanto, foi interrompido por Carlson, que o confrontou com uma série de perguntas incisivas: “Por que os Estados Unidos não melhoraram, apesar de termos ganhado a Guerra Fria? Por que não temos uma infraestrutura melhor? Por que há cada vez mais pessoas em situação de rua? Se ganhamos, por que nosso país está assim?” (...) “Estamos muito focados em deter nossos inimigos no exterior, mas para que serve isso se nosso país é o que é hoje?”

Cruz tentou apresentar a mudança de regime no Irã como um esforço voltado principalmente a visibilizar as violações dos direitos humanos em regimes dictatoriais e opressivos. No entanto, Carlson o interrompeu rapidamente para apontar que os Estados Unidos financiam e apoiam grupos opositores armados com o objetivo explícito de derrubar o governo iraniano, uma diferença substancial da narrativa que o senador tentava instalar.

Israel: uma aliança no centro do debate

Ao abordar o conflito no Oriente Médio, o debate se intensificou. Carlson perguntou quanto custava aos Estados Unidos seu apoio a Israel, e Cruz respondeu que se destinavam 3 bilhões de dólares anuais. “Obtemos grandes benefícios de nossa aliança com Israel”, afirmou o senador.

Carlson retrucou com outra pergunta: quis saber se o Mossad colaborava com a inteligência americana compartilhando informações. Cruz respondeu que, assim como outros aliados como Canadá ou o Reino Unido, Israel não compartilhava todas as informações e provavelmente também realizava tarefas de inteligência dentro do território americano.  Isso deu espaço a um novo ataque do apresentador: “A diferença é que ao Canadá ou ao Reino Unido não financiamos as operações militares. Por isso me parece lógico fazer perguntas”.

A temperatura da conversa subiu ainda mais quando começaram as acusações de antisemitismo contra Carlson. O apresentador respondeu com dureza, chamando Cruz de rasteiro por insinuar que questionar a relação entre Israel e os Estados Unidos equivalia a atacar a comunidade judia. Carlson defendeu sua posição argumentando que o governo americano é, acima de tudo, seu próprio governo, e que como cidadão tem pleno direito de levantar perguntas incômodas sobre sua política externa.

Trump, que vinha atravessando semanas de tensão com outra de suas bases de apoio, liderada por Elon Musk, com quem protagonizou debates públicos que terminaram em acusações sobre sua possível inclusão na lista de Epstein, não tardou em intervir no debate. Através de sua rede social Truth Social, o ex-presidente criticou diretamente Tucker Carlson, escrevendo que “alguém deveria levar-lhe algo de senso comum” e desmerecendo suas advertências ao assegurar que o Irã não pode ter acesso a uma bomba nuclear.

Fraturas na coalizão MAGA: a liderança de Trump em seu momento mais frágil

As tensões dentro da coalizão MAGA liderada por Donald Trump atravessam um de seus momentos mais críticos desde sua formação. As recentes manifestações nas ruas de Los Angeles, que rapidamente se espalharam para outras cidades do país, evidenciaram um crescente mal-estar social. A isso se somou o distanciamento de figuras clave como Elon Musk, que até há pouco era considerado um aliado estratégico dentro do espaço, e agora o confronto com a ala isolacionista representada por Tucker Carlson e Steve Bannon, duas vozes influentes entre as bases mais radicalizadas.

Este cenário revela que a liderança de Trump enfrenta uma situação de máxima fragilidade. As divisões internas, somadas ao deterioramento da coesão ideológica dentro do movimento, despertam dúvidas sobre a capacidade do ex-presidente para tomar decisões racionais em um contexto marcado pela tensão e pela pressão internacional.

Historicamente, Trump um homem de negócios tem mostrado uma inclinação por evitar decisões irreversíveis em política externa. Seus movimentos mais drásticos, como a imposição de tarifas a países como a China, costumavam ser seguidos de rodadas de negociação que buscavam posicionar os Estados Unidos sob uma lógica transacional mais do que estratégica.

Nesse contexto, o atual quadro de fragmentação interna não apenas condiciona suas decisões, mas também enfraquece a projeção internacional de seu eventual retorno ao poder, deixando à mostra uma coalizão que já não opera como um bloco compacto, mas como um espaço cada vez mais tensionado por agendas opostas. Um cenário que pode ter efeitos muito negativos em um governo que busca ir a eleições em 2026.

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Tobias

Tobias

Sou Tobías Belgrano, analista político e consultor especializado na América Latina e no Sul Global. No Austral Education Group, projeto programas acadêmicos internacionais junto a universidades de todo o mundo. Sou apaixonado por construir pontes entre culturas e contextos: trabalhei na Argentina, Taiwan, Itália e Estados Unidos, e colaboro regularmente com mídias e think tanks internacionais. Se você está interessado em política global, educação internacional ou em entender melhor as dinâmicas do Sul Global, convido-o a ler meus artigos e análises. Bem-vindo!

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