03/12/2024 - politica-e-sociedade

O Porto de Chancay: o soft power americano frente ao hard power chinês

Por Tobias

O Porto de Chancay: o soft power americano frente ao hard power chinês

O presidente da China, Xi Jinping

A consolidação da China na América Latina

Na última década, os Estados Unidos tentaram frear a expansão da China na América Latina, uma região onde Pequim fortaleceu sua influência por meio de investimentos estratégicos em infraestrutura. Um exemplo recente é a inauguração do porto de Chancay, uma das obras mais importantes de infraestrutura comercial dos últimos anos. Este porto, desenvolvido com apoio chinês, está destinado a se tornar um ponto-chave para o comércio internacional, melhorando significativamente as relações econômicas entre a China e o Peru.

O porto de Chancay não apenas promete modernizar a logística marítima da região, mas também se projeta como um motor de crescimento econômico para o Peru, com um impacto estimado de um aumento de 1,8% no PIB. A relevância desta obra foi sublinhada pela participação do presidente Xi Jinping na cerimônia de inauguração, destacando o compromisso da China com sua aliança estratégica com o Peru e seu crescente protagonismo na região latino-americana.

Durante sua visita ao Peru, Xi Jinping supervisionou a assinatura de um acordo para ampliar o Tratado de Livre Comércio entre os dois países. Este fortalecimento do TLC tem como objetivo consolidar a China como o principal parceiro comercial do Peru, intensificando a cooperação em setores-chave como mineração, agricultura, pesca e manufatura. O acordo também busca eliminar barreiras comerciais e simplificar trâmites, permitindo um acesso mais competitivo dos produtos peruanos ao mercado chinês. Esta iniciativa reforça a relação estratégica bilateral e destaca a crescente influência de Pequim na América Latina.

Um caso semelhante ocorreu no Chile durante o governo de Sebastián Piñera (2018-2022), quando o país liderou a implementação de redes 5G na América Latina. Em 2021, o Chile realizou leilões de espectro radioelétrico para essa tecnologia, adotando uma abordagem neutra que permitiu a participação de fornecedores chineses, incluindo a Huawei. Esta decisão, que contrastou com as recomendações dos Estados Unidos de excluir empresas chinesas por preocupações de cibersegurança, sublinhou o interesse do Chile em priorizar o desenvolvimento tecnológico sobre as tensões geopolíticas.

No entanto, tanto no caso peruano quanto no chileno, o problema subjacente parece ser que os Estados Unidos insistem em uma postura de não alinhamento com a China sob nenhuma circunstância, principalmente por motivos geopolíticos. No entanto, Washington não ofereceu alternativas concretas em termos de inovação tecnológica nem acordos comerciais significativos que incentivem os países da América Latina a fortalecer suas relações bilaterais com os Estados Unidos.

Estados Unidos: advertências em vez de propostas

Essa falta de propostas atraentes foi agravada nos últimos dias com os anúncios do ex-presidente Donald Trump de aumentar as tarifas sobre produtos mexicanos, o que sublinha uma aparente desconexão com os princípios de expansão do livre comércio que marcaram épocas anteriores na política econômica norte-americana. Em contraste, a China aproveitou essa lacuna, oferecendo investimentos substanciais em infraestrutura e comércio que reforçam sua influência na região.

A retórica forte dos Estados Unidos contra a China pode acabar sendo contraproducente se não estiver acompanhada de estratégias que respondam às necessidades econômicas e de desenvolvimento da América Latina. Esse vazio estratégico apresenta riscos para a liderança norte-americana na região, ao mesmo tempo que fortalece o apelo das propostas comerciais e tecnológicas da China, especialmente em um contexto onde as nações buscam parceiros comprometidos com o crescimento econômico e a modernização.

A crescente relação comercial entre a China e a América Latina ressalta a importância de atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos como tecnologia e biotecnologia. Nesse sentido, cursos como “Atraindo investimento estrangeiro: Guia para startups e pequenas empresas de biotecnologia” oferecem ferramentas essenciais para que empreendedores e pequenas empresas aproveitem as oportunidades de financiamento global. Esta capacitação é especialmente relevante em um contexto onde economias emergentes buscam capitalizar alianças com atores internacionais como a China para impulsionar seu desenvolvimento econômico e inovação.

Nos últimos anos, vários países da América Latina estreitaram laços com a China, como a inclusão da Argentina na Iniciativa da Rota da Seda, o que reforça a influência de Pequim na região. Apesar das tensões geopolíticas, com os Estados Unidos propondo não se alinhar com a China, nações como o Peru, Chile e agora Argentina optaram por avançar em acordos comerciais e de infraestrutura com o gigante asiático. Essa tendência reforça o vazio estratégico deixado por Washington, que não ofereceu alternativas significativas a essas alianças.

Nas últimas décadas, as propostas comerciais dos Estados Unidos para a América Latina, como o ALCA, ficaram no passado. Apesar de suas críticas e limitações, iniciativas como essa, baseadas no livre comércio, poderiam revelar-se mais atraentes para a região no contexto atual do que a política dos Estados Unidos de simplesmente emitir advertências sobre a crescente presença da China. Como apontou o presidente argentino Javier Milei, referindo-se à China: “Eles são um parceiro comercial fenomenal, eles não exigem nada”, destacando o pragmatismo dos acordos chineses em comparação com as condições geopolíticas de outros atores.

Entre a soberania e a oportunidade.

A crescente presença da China na América Latina marca uma mudança profunda nas dinâmicas geopolíticas e econômicas da região. Projetos estratégicos como o porto de Chancay, a ampliação do Tratado de Livre Comércio com o Peru e a inclusão da Argentina na Rota da Seda mostram como Pequim aproveitou as necessidades de desenvolvimento e modernização desses países para estabelecer uma sólida influência regional.

Por outro lado, os Estados Unidos, historicamente o principal parceiro da América Latina, parecem ter adotado uma postura reativa, baseada mais em advertências do que em propostas concretas. Embora no passado tenham oferecido iniciativas como o ALCA, suas ações recentes carecem do apelo e pragmatismo que caracterizaram as ofertas chinesas. Essa falta de visão estratégica não apenas enfraquece sua liderança no hemisfério, mas também deixa um vazio que a China está preenchendo com investimentos multimilionários e relações comerciais de longo prazo.

Para os países da América Latina, a relação com a China tem sido percebida como uma alternativa prática que responde às suas necessidades imediatas de infraestrutura, tecnologia e comércio, sem as condições geopolíticas que tradicionalmente impõe os Estados Unidos. Figuras como o presidente argentino Javier Milei destacaram esse enfoque, apontando que a China é um “parceiro comercial fenomenal”. No entanto, essa mudança de rumo apresenta desafios para a região, que deverá equilibrar as oportunidades econômicas com a preservação de sua autonomia política e estratégica.

Nesse contexto, o futuro da influência dos Estados Unidos na América Latina dependerá de sua capacidade de oferecer propostas que se alinhem com as prioridades de desenvolvimento da região, e de sua disposição para competir com o modelo chinês atraente em termos de pragmatismo e resultados tangíveis. Apenas com uma abordagem renovada poderá evitar que seu papel no hemisfério continue diminuindo em favor de uma nova ordem liderada por Pequim.

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