01/08/2024 - politica-e-sociedade

A relação entre o vice-presidente e o presidente na Argentina

Por Uriel Manzo Diaz

A relação entre o vice-presidente e o presidente na Argentina

Javier Milei e Victoria Villaruel no desfile militar de 9 de Julho

A relação entre o presidente e o vice-presidente na Argentina é historicamente complexa. Esta dinâmica não só define a estabilidade do governo, mas também tem implicações muito importantes para a política nacional e internacional do país. Ao longo dos anos, temos visto como essas relações podem passar da cooperação e aliança para a tensão e o conflito aberto.


Fatores que Moldam a Relação Presidente-Vice-Presidente

A Constituição Nacional da Argentina estabelece um sistema presidencialista no qual o presidente é o chefe de Estado e de governo, enquanto o vice-presidente é o primeiro na linha de sucessão. Além dessa disposição formal, existem múltiplos fatores que influenciam na dinâmica entre ambos os cargos.

Em primeiro lugar, o contexto político e eleitoral desempenha um papel relevante. A escolha de um vice-presidente responde a estratégias políticas e eleitorais, com candidatos presidenciais selecionando seus companheiros de chapa para atrair eleitores de diferentes setores ou fortalecer coalizões políticas. Essa seleção pode gerar tensões se as alianças se formam mais por conveniência do que por compatibilidade ideológica.

Além disso, a afinidade pessoal e ideológica entre o presidente e o vice-presidente é um fator determinante. A compatibilidade ideológica e pessoal pode resultar numa relação de cooperação, enquanto que as diferenças ideológicas podem gerar desacordos. Em alguns casos, os vice-presidentes assumiram papéis mais ativos no governo, enquanto em outros tiveram uma presença mais protocolar, o que também influencia na dinâmica de gestão.


Análise Histórica

Um dos casos mais memoráveis é a relação entre Cristina Fernández de Kirchner e Julio Cobos (2007-2011). Durante o primeiro mandato de Cristina, seu vice-presidente Julio Cobos tornou-se um opositor. O conflito mais famoso ocorreu em 2008, durante a votação da Resolução 125 sobre as retenções móveis às exportações agrícolas. Cobos votou contra o governo, emitindo o voto decisivo no Senado que rejeitou a medida, o que levou a uma ruptura definitiva na relação deles.

A relação entre o presidente Alberto Fernández e sua vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner também tem mostrado tensões crescentes. Embora tenham começado como aliados, as diferenças na gestão econômica e nas políticas internas geraram tensões públicas e privadas. Cristina criticou abertamente algumas decisões do presidente, evidenciando a fratura dentro do governo.

Outro exemplo recente é a relação entre Javier Milei e sua vice-presidente Victoria Villarruel (2023-presente). Desde o início de seu mandato, a relação tem sido tensa. Um conflito notável ocorreu com um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) emitido por Milei. Villarruel convocou uma sessão especial no Senado para discutir o DNU, o que pode ter sido visto como uma traição por parte do presidente e gerou uma forte reação contra ela. Além disso, o recente incidente diplomático com a França relacionado com comentários de jogadores de futebol argentinos aprofundou ainda mais a fenda entre os dois.

Historicamente, a relação entre o presidente Fernando de la Rúa e seu vice-presidente Carlos "Chacho" Álvarez (1999-2001) também se deteriorou rapidamente devido a diferenças na gestão e acusações de corrupção. Álvarez renunciou em 2000, enfraquecendo ainda mais o governo de De la Rúa e contribuindo para sua queda em 2001.

Outro caso é o de Carlos Menem e Eduardo Duhalde (1989-1995). Embora tenham começado como aliados, a relação se deteriorou devido a diferenças políticas e pessoais. Duhalde se distanciou de Menem e eventualmente se tornou um de seus principais críticos dentro do peronismo.

Fatores Sociopolíticos

A relação entre o presidente e o vice-presidente não pode ser compreendida sem considerar o contexto sociopolítico mais amplo da Argentina. A polarização política é um fator que exacerba as diferenças e conflitos internos dentro do governo. A política argentina é marcada por uma alta polarização, o que pode fazer com que as tensões entre presidente e vice-presidente sejam mais visíveis e conflituosas.

Além disso, os movimentos sociais e a pressão pública desempenham um papel primordial na dinâmica presidencial. Os protestos e demandas sociais podem influenciar a relação entre o presidente e o vice-presidente, pressionando o governo a responder de maneira efetiva às necessidades e preocupações da população.

Os meios de comunicação também têm um impacto na percepção pública da relação presidente-vice-presidente. Os meios amplificam conflitos e alianças, influenciando a opinião pública e a percepção da estabilidade governamental.

Consequências e Implicações

Uma relação conflituosa pode levar a crises políticas e de governabilidade, afetando a capacidade do governo em implementar políticas e manter a estabilidade. As tensões internas podem bloquear iniciativas legislativas importantes e gerar uma imagem de instabilidade que pode afetar a confiança dos cidadãos em seus líderes.

Em termos de política externa, a coesão interna do governo influencia na representação internacional da Argentina. Uma relação sólida entre o presidente e o vice-presidente permite uma representação mais coerente e efetiva no âmbito internacional. Por outro lado, os conflitos internos podem enfraquecer a posição da Argentina em negociações internacionais e em sua capacidade de projetar uma imagem de estabilidade e coesão.

Ao longo da história, temos visto como essa relação pode variar desde a cooperação até o conflito aberto, dependendo de uma série de fatores políticos, ideológicos e pessoais. Compreender essa relação é fundamental para analisar a política argentina e seu impacto no cenário internacional. A história e os exemplos contemporâneos mostram que a relação entre o presidente e o vice-presidente pode ser tanto uma fonte de fortalecimento quanto de vulnerabilidade para a governabilidade do país. 


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Uriel Manzo Diaz

Uriel Manzo Diaz

Olá! Meu nome é Uriel Manzo Diaz, atualmente estou em processo de aprofundar meus conhecimentos em relações internacionais e ciências políticas, e planejo começar meus estudos nesses campos em 2026. Sou apaixonado por política, educação, cultura, livros e temas internacionais.

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