Jesús Daniel Romero e William Acosta para Poder & Dinero e FinGurú
Esta análise tem como objetivo desvendar a natureza do SEBIN, seu funcionamento e seu impacto na sociedade venezuelana contemporânea.
Após as eleições em que Edmundo González Urrutia foi eleito, o SEBIN (Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional) intensificou notavelmente a perseguição e as violações de direitos humanos no país. Essa escalada se manifestou através de um aumento na vigilância e no assédio a opositores políticos, ativistas e cidadãos críticos ao governo.
Durante o período eleitoral, foram observadas táticas de intimidação para desincentivar a participação e silenciar vozes dissidentes. Após os resultados, o SEBIN continuou com operações, detenções arbitrárias e o uso desproporcional da força, o que gerou um clima de medo e repressão. As violações dos direitos humanos, como torturas e condições desumanas nos centros de detenção, tornaram-se mais comuns, refletindo um padrão sistemático para controlar a oposição e manter o poder.
Um dos casos mais emblemáticos dessa repressão foi a morte do Capitão de corveta Rafael Acosta Arévalo. Em 29 de junho de 2019, Acosta Arévalo foi detido pelo SEBIN e, após vários dias de cativeiro, faleceu em um hospital militar em Caracas. Sua morte, que foi atribuída a um suposto "suicídio" pelas autoridades, foi na verdade o resultado de torturas e maus-tratos durante sua detenção, segundo denúncias de familiares e organizações de direitos humanos. Este caso gerou uma forte condenação tanto em nível nacional quanto internacional, ressaltando a brutalidade do SEBIN em seus métodos de interrogatório e repressão.
Essa situação gerou condenações tanto a nível nacional quanto internacional, evidenciando a urgência de abordar essas violações e restaurar o respeito pelos direitos humanos no país.
Para entender a influência do SEBIN na dinâmica política venezuelana, é fundamental analisar dois aspectos chave: Estrutura e Funcionamento, um exame detalhado da organização interna do SEBIN, sua hierarquia e seu papel na repressão política; Internacionais, uma análise de seus vínculos com agências de inteligência estrangeiras, focando em Cuba, Irã, Rússia, China e Coreia do Norte, assim como suas operações nos Estados Unidos e em outros países.
Além disso, devem ser consideradas as conexões do SEBIN com grupos armados e organizações criminosas, que ampliaram sua rede de influência e controle no país, incluindo:
Exército de Libertação Nacional (ELN): O SEBIN manteve vínculos com o ELN, um grupo guerrilheiro colombiano, facilitando sua operação e fortalecendo sua presença em áreas estratégicas da Venezuela. Essa relação se traduziu em intercâmbios de informações e recursos.
Disidências das FARC: As facções que se separaram das FARC após o acordo de paz encontraram na Venezuela um refúgio e um apoio logístico. Estima-se que o SEBIN tenha colaborado com essas disidências, permitindo-lhes operar no território venezuelano e facilitando a mobilidade de seus líderes.
Nova Marquetalia: Este grupo, que também se originou a partir das FARC, estabeleceu laços com o SEBIN, o que lhes permite operar sem maiores restrições em certas regiões do país. Essas conexões têm sido objeto de preocupação pelo impacto na segurança regional e na luta contra o narcotráfico.
Hezbollah: Há relatos de que o SEBIN tem vínculos com o Hezbollah, o grupo xiita libanês, que tem estado envolvido em atividades de narcotráfico e terrorismo. Esse contato se manifestou no intercâmbio de táticas e recursos, assim como na cooperação em atividades criminosas.
Grupos de Narcotráfico: O SEBIN tem sido acusado de colaborar com organizações de narcotráfico, facilitando o tráfico de drogas em troca de apoio financeiro e logístico. Essa relação contribuiu para a proliferação do narcotráfico na Venezuela e gerou um ambiente de impunidade para esses grupos.
Estrutura do SEBIN
O SEBIN foi criado em junho de 2009 por meio do Decreto N.º 6.733, após a dissolução da Direção de Serviços de Inteligência e Prevenção (DISIP). Sua fundação oficial foi formalizada em 2010 sob a presidência de Hugo Chávez. Um aspecto notável de seu funcionamento é a falta de transparência, evidenciada pela ausência de uma página web oficial e a limitada informação disponível através de seus canais de comunicação.
Desde 2013, o SEBIN opera a partir de sua sede central em Caracas, um edifício altamente fortificado, e mantém a antiga sede da DISIP como centro de detenção.
Organização Interna
O SEBIN está organizado em quatro níveis hierárquicos:
Nível Diretivo: Composto pelo Diretor Geral e outros altos funcionários que supervisionam a formulação de políticas e o planejamento estratégico.
Apoio Administrativo: Inclui diversos escritórios que gerenciam aspectos legais, recursos humanos e tecnológicos, assegurando a eficiência no funcionamento do SEBIN.
Inteligência: Responsável pela coleta e análise de informações críticas para a segurança do Estado.
Operativo: Composto por regiões e bases de inteligência em todo o país, responsáveis pela coleta de dados e pela execução de operações.
Estimase que o SEBIN conta com cerca de 2.000 funcionários, embora a informação sobre seu pessoal e orçamento seja reservada.
Rangos dentro do SEBIN
O pessoal do SEBIN está estruturado de acordo a um escalafão hierárquico que inclui os seguintes rangos:
Comissário Superior
Comissário Geral
Comissário Chefe
Primeiro Comissário
Comissário
Inspector Chefe
Primeiro Inspector
Inspector
Detetive
Organograma do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (SEBIN)

Funções e Objetivos
A missão principal do SEBIN é identificar e neutralizar ameaças à segurança do Estado. Suas funções incluem: assessorar o Executivo na formulação de políticas de segurança, prevenir e detectar ameaças internas e externas, coordenar esforços com outros corpos de segurança para enfrentar a criminalidade organizada.
Treinamento em Cuba
Membros do SEBIN recebem treinamento especializado em Cuba, onde são instruídos em técnicas de inteligência, operações de segurança e táticas de repressão. Este treinamento ocorre na Escola de Inteligência e Contrainteligência de Havana, um centro reconhecido por seu enfoque na formação de agentes de segurança.
Unidades Especializadas
O SEBIN conta com várias unidades especializadas que reforçam sua capacidade operativa:
Unidade de Contrainteligência: Responsável por detectar e neutralizar ameaças internas.
Unidade de Investigações Especiais: Trata de realizar investigações sobre atividades delitivas de alto perfil.
Unidade de Operações Táticas: Responsável por levar a cabo operações de campo e detenções.
Unidade de Análise de Informação: Foca na coleta e análise de dados para a tomada de decisões estratégicas.
Repressão Política
O SEBIN tem sido objeto de críticas por sua colaboração com outros organismos de segurança, como a Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM) e a Polícia Nacional Bolivariana (PNB). Essa colaboração facilitou um sistema de repressão sistemática contra a oposição. Organizações de direitos humanos documentaram práticas de detenções arbitrárias, torturas e outras violações, especialmente durante os protestos entre 2014 e 2017, que resultaram na morte de numerosos venezuelanos. Entre os casos mais destacados está o do Capitão de corveta Rafael Acosta Arévalo, que morreu em 29 de junho de 2019 após ser detido pelo SEBIN, sendo vítima de torturas durante seu cativeiro. De fato, A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) expressou sua preocupação pela morte de Acosta Arévalo devido às supostas torturas enquanto estava sob custódia da Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCM) na Venezuela.
Alianças Internacionais
O SEBIN opera em um marco geopolítico definido pelo "chavismo", estabelecendo conexões com países como Cuba, Irã, Rússia, China e Coreia do Norte. Essas relações não só têm fortalecido sua capacidade de inteligência e segurança, mas também implicam interesses na exploração de recursos naturais na Venezuela. A colaboração com Cuba é notável, com o G2 cubano desempenhando um papel influente na estrutura do SEBIN, por meio de assessorias e colaboração em operações repressivas. Embora a relação com Irã seja menos visível que a de Cuba, existe uma associação estratégica que permite intercâmbios no âmbito da segurança. As relações com a Rússia têm avançado no âmbito militar, embora não haja evidências concretas de cooperação em inteligência. O SEBIN tem buscado estabelecer vínculos com agências de inteligência chinesas, o que implica um enfoque na cooperação tecnológica e de vigilância. As relações com a Coreia do Norte estão marcadas pelo intercâmbio de táticas de repressão e controle social, com um enfoque particular no fortalecimento das capacidades de inteligência do SEBIN.
Operações Internacionais
O SEBIN também tem estado envolvido em atividades além das fronteiras da Venezuela. Em particular, tem realizado operações nos Estados Unidos e em outros países, onde foram relatados casos de espionagem e vigilância sobre opositores políticos e exiliados venezuelanos. Essas atividades incluem:
Vigilância a Opositores: Relatórios indicam que o SEBIN realizou operações de vigilância e coleta de informações sobre líderes da oposição que residem no exterior, especialmente em países como Colômbia e Estados Unidos. Foi documentado que funcionários do SEBIN tentaram infiltrar-se em comunidades de exilados para monitorar suas atividades.
Espionagem: Foram relatados casos em que membros do SEBIN estiveram envolvidos em atividades de espionagem, utilizando diversas técnicas para seguir opositores políticos no exterior.
Arrestos no Exterior: Houve casos de prisões de membros do SEBIN em outros países. Por exemplo, em 2020, foi relatada a detenção de um ex-funcionário do SEBIN na Espanha, procurado por violações de direitos humanos. Essas detenções destacam a pressão internacional sobre as ações do SEBIN e sua implicação em atividades delitivas.
Atividades na Colômbia
As autoridades da Colômbia detectaram que membros do SEBIN, vinculados à base de San Cristóbal, no estado de Táchira, a 57 quilômetros da fronteira com a Colômbia, começaram a cruzar a fronteira com frequência desde 2019. A princípio, as autoridades colombianas pensaram que se tratava de casos pontuais. Entre os funcionários que entraram em território colombiano estão:
Willian Alexánder Márquez Pérez, comissário-chefe adjunto do SEBIN San Cristóbal.
Felipe José Bustamante Pérez, também comissário-chefe adjunto do SEBIN.
Armando Darío Guerra Ramírez.
Eduardo Hernández Hernández.
Gilbert René Vivas Colmenares.
Esses movimentos geraram preocupação na Colômbia, dado o contexto de repressão e violações dos direitos humanos associadas ao SEBIN. O documento também revela que a suspensão se realizou a outras 200 pessoas próximas a Nicolás Maduro. Seus dados foram cruzados com documentos oficiais do SEBIN que indicam hierarquia, cédula e status de todos os seus membros ativos. As autoridades colombianas acreditam que a obtenção das carteirinhas teve o objetivo de evadir controles migratórios e de poder transitar livremente na fronteira. O relatório aponta que os funcionários venezuelanos têm como base a cidade de Cúcuta, cidade colombiana deNo nordeste do país, na fronteira com a Venezuela. De lá, realizam atividades de espionagem e outras ações, como o controle ilegal das chamadas trochas, o acompanhamento de opositores e desertores militares do regime e o recrutamento de colaboradores.
Além disso, menciona-se Gerardo Rojas Castillo, que foi expulso por realizar atividades de espionagem.
**Membros do SEBIN Arrestados no Exterior**
A seguir, apresenta-se uma lista de alguns membros do SEBIN que foram presos em outros países fora da Venezuela:
**Pedro Luis Martin-Olivares**, preso em 2020 em Miami, Flórida. Em 24 de abril de 2015, Martin-Olivares foi acusado no Distrito Sul da Flórida pela distribuição de mais de cinco quilos de cocaína, sabendo que essa substância controlada seria importada ilegalmente para os Estados Unidos, em violação do Título 21, Código dos EUA, Seção 959(a)(2); posse com a intenção de distribuir mais de cinco quilos de cocaína a bordo de uma aeronave registrada nos Estados Unidos, em violação do Título 21, Código dos EUA, Seções 959(b)(2); e Título 21, Seção 963, conspiração para importar mais de cinco quilos de cocaína.
**Rodolfo McTurk-Mora**, procurado pela justiça, ex-chefe da Interpol na Venezuela, envolvido em corrupção e narcotráfico.
**Jesús Alfredo Itriago**, acusado de conspirar para importar cocaína, procurado em vários países. Ex-funcionário do SEBIN na Espanha, preso em 2020 por violações de direitos humanos.
**Membros do SEBIN Arrestados na Colômbia**
Na Colômbia, também foram reportadas prisões de funcionários do SEBIN, refletindo a extensão de suas atividades fora das fronteiras venezuelanas. Alguns casos incluem:
**Carlos Enrique Sosa**, preso em 2021 em Bogotá, acusado de espionagem e assédio a opositores políticos na Colômbia.
**Máximo José Pérez**, detido em 2022 por sua implicação em atividades de intimidação e vigilância sobre exilados venezuelanos.
**Luis Alberto Gómez**, preso em 2023, vinculado a operações de coleta de informações sobre líderes da oposição no país.
**Casos de Mortos e Desaparecidos**
Até 2024, foram reportadas várias mortes e desaparecimentos em circunstâncias relacionadas ao SEBIN:
**Fernando Alban**, ativista e vereador do município Libertador, foi detido em outubro de 2018. Sua morte foi oficialmente classificada como suicídio, embora sua família e opositores aleguem que ele foi assassinado enquanto estava sob custódia do SEBIN.
**Luis Manuel Díaz**, dirigente político do partido Ação Democrática, assassinado em novembro de 2018. Embora sua morte não tenha sido diretamente atribuída ao SEBIN, está inserida em um contexto de violência política ligado à repressão do organismo.
**Zuleima Martínez**, ativista de direitos humanos detida em 2016 e posteriormente desaparecida. Sua família denuncia a implicação do SEBIN em seu desaparecimento.
**Wilmer Azuaje**, ex-deputado e figura da oposição preso em 2017 e reportado como desaparecido; seu caso destaca as táticas de represália contra opositores políticos.
**Javier Antonio Rojas**, detido durante os protestos de 2014 e desaparecido. Seu caso foi documentado por organizações de direitos humanos.
**Gerardo Carrero**, ativista político que desapareceu em 2018 após ser preso pelo SEBIN.
**José Antonio García**, jovem que foi detido em 2014 e cuja família denunciou seu desaparecimento.
É importante notar que muitos casos de mortes e desaparecimentos forçados não são documentados oficialmente e as famílias enfrentam dificuldades para tornar públicas suas denúncias. As organizações de direitos humanos continuam documentando esses casos e denunciando a impunidade na Venezuela.
**Conclusão**
O SEBIN representa um pilar fundamental no sistema de controle do governo venezuelano, servindo como uma arma de terror, repressão e espionagem para manter o poder. Sua estrutura hierárquica e suas conexões internacionais, especialmente com Cuba, permitem que opere em um ambiente de impunidade. As prisões de seus membros no exterior evidenciam a crescente pressão internacional sobre suas atividades criminosas. A falta de prestação de contas e a impunidade que cercam o SEBIN continuam a ser preocupações significativas no contexto da defesa dos direitos humanos na Venezuela e além. As conclusões do relatório da ONU reforçam a necessidade de uma resposta internacional efetiva diante da crise de direitos humanos que enfrenta o país.
**Créditos**
Esta análise foi elaborada a partir de informações obtidas de diversas fontes, incluindo:
Artigos de imprensa de El País, BBC Mundo e Reuters.
Relatórios de organizações de direitos humanos como Amnistia Internacional e Human Rights Watch.
Relatório da ONU sobre a situação dos direitos humanos na Venezuela.
Jesús Daniel Romero se formou como oficial através do Programa de Recrutamento da Marinha, e se formou com honras na Universidade Estadual de Norfolk, recebendo um Bacharelado em Ciências Políticas. Posteriormente, ele se formou no curso de Doutrinação Pré-Voo de Aviação Naval do Comando das Escolas de Aviação Naval e continuou o treinamento intermediário nas esquadrilhas VT-10 e VT-86. Serviu a bordo de um cruzador de mísseis nucleares, barcos de operações anfíbias e esquadrões de estado maior, um esquadrão de bombardeio de asa fixa de ataque e uma ala aérea de porta-aviões, foi enviado para a Líbia, Bósnia, Iraque e Somália. Prestou serviços em turnos com a Agência de Inteligência de Defesa (DIA) no Panamá, no Centro Conjunto de Inteligência do Pacífico no Havai e no Comando Contábil Conjunto de POW/MIA. Jesús e sua equipe atacaram com sucesso uma organização criminosa internacional que operava em vários países e nos Estados Unidos, desmantelando e interrompendo atividades criminosas em nome dos cartéis mexicanos.
William L. Acosta é o fundador e diretor executivo da Equalizer Private Investigations & Security Services Inc. Uma agência de investigação autorizada e vinculada em NYS, FL. Com escritórios e afiliados em todo o mundo. Equalizer mantém escritórios e subsidiárias nos Estados Unidos em Nova York, Flórida e Califórnia. Desde 1999, as investigações da Equalizer fecharam com sucesso centenas de casos, que variam de homicídios, pessoas desaparecidas e outros crimes. Tem estado envolvido na defesa criminal de centenas de casos de defesa penal estaduais e federais que abrangem homicídio, narcóticos, rico, lavagem de dinheiro, conspiração e outras acusações federais e estaduais. É especializado em investigações internacionais e multijurisdicionais, e nos últimos anos realizou investigações na Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, França, Inglaterra, México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Panamá, Colômbia, Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador, Peru, Brasil, Porto Rico, República Dominicana, entre outros locais. Dirigiu ou coordenou centenas de investigações relacionadas ao narcotráfico internacional, lavagem de dinheiro e homicídios; e tem sido instrutor e palestrante internacional sobre vários assuntos de investigação. Especialidades: Investigações de Defesa Criminal, Investigações Internacionais, Homicídios, Operações Encobertas de Narcóticos, Investigações, Investigações de Lavagem de Ativos, Conspiração, Tráfico Internacional de Pessoas, Vigilância, Terrorismo Internacional, Inteligência, Contramedidas de Vigilância Técnica, Investigações de Assuntos Internos, Segurança Nacional.
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