21/05/2025 - politica-e-sociedade

A reforma migratória mais dura dos últimos anos: como nos afeta?

Por Uriel Manzo Diaz

A reforma migratória mais dura dos últimos anos: como nos afeta?

Um anúncio que não passou despercebido

Em meio a uma crescente tensão pelos recursos do Estado e a segurança interna, o Governo de Javier Milei decidiu avançar com uma reforma migratória por Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), que já gera debate. O anúncio foi feito pelo porta-voz presidencial Manuel Adorni da Casa Rosada, flanqueado pela ministra de Segurança Patricia Bullrich e outros funcionários. Segundo informaram, o objetivo é claro: restringir a entrada de imigrantes condenados, facilitar deportações e reduzir o gasto estatal em saúde e educação para residentes não permanentes.

Essa mudança não é menor. Afeta diretamente aqueles que pensam em entrar no país ou que se encontram em situação migratória temporária, mas também reabre um antigo debate sobre que tipo de país a Argentina deseja ser.

O comunicado que emitiu a presidência

Pontos centrais do novo decreto

O DNU, que será publicado nos próximos dias no Boletim Oficial, contém várias mudanças substanciais:

  • Proibição de entrada para condenados: Qualquer estrangeiro com condenação judicial não poderá entrar no país.

  • Expulsão por crimes cometidos na Argentina: Mesmo sem condenação definitiva, qualquer estrangeiro que cometer um crime poderá ser deportado.

  • Rejeição de delitos menores: Crimes com penas inferiores a 5 anos também poderão ser usados para negar a entrada ou proceder com a expulsão.

  • Taxação no sistema de saúde pública: Os residentes temporários, temporários e irregulares deverão pagar pela atenção médica. Será exigido um seguro médico obrigatório para entrar no país.

  • Educação universitária paga: As universidades nacionais poderão impor taxas a estrangeiros não residentes permanentes. A medida não inclui a educação obrigatória (inicial, primária e secundária).

As razões do Governo: segurança e gasto

“A Argentina foi excessivamente permissiva com aqueles que entraram de forma irregular,” argumentou Adorni. Patricia Bullrich, uma das impulsoras do DNU, já havia aplicado medidas similares em 2017 sob a gestão de Mauricio Macri, através do controverso DNU 70/2017, que foi posteriormente revogado pelo governo de Alberto Fernández e declarado inconstitucional pela Justiça.

Segundo dados oficiais, o gasto em saúde para estrangeiros chega a $114.000 milhões anuais. O Governo busca reduzi-lo, transferindo parte desse custo a quem não é cidadão ou residente permanente.

Migração e crimes: quantos são e de onde vêm?

O tema dos estrangeiros nas prisões costuma surgir como argumento para justificar reformas migratórias. Mas, o que dizem os números?

  • 6% da população carcerária total é estrangeira, segundo o Sistema Nacional de Estatísticas de Execução da Pena.

  • No Sistema Penitenciário Federal, 16,1% dos detidos são estrangeiros, a maioria do Paraguai, Bolívia e Peru.

  • Na província de Buenos Aires, 45% da população carcerária estrangeira corresponde a esses três países.

Embora o dado pareça alto, mais de 39% dos presos em geral não têm condenação, e a superlotação carcerária chega a 20%, o que coloca um problema estrutural além da nacionalidade.

Nacionalidade dos presos segundo

Um decreto com história (e com oposição)

A reforma atual busca retomar o espírito do DNU 70/2017, que foi rejeitado por organismos de direitos humanos e declarado inconstitucional em 2021. Entre os pontos questionados daquele decreto estavam:

  • Prazos insuficientes para apelar expulsões (apenas três dias).

  • Ausência de garantias processuais para os migrantes.

  • Concentração de poder em Migrações sem revisão judicial.

  • Relação direta (e criticada) entre migração e criminalidade.

Os mesmos argumentos voltarão agora à tona. O uso do DNU para esse tipo de reformas também será discutido no Congresso e nos tribunais.

O que isso significa para o cidadão comum?

Esse tipo de reformas gera efeitos diretos e indiretos na vida cotidiana:

  • Se você é estrangeiro sem residência permanente, poderá ter que pagar pela consulta em um hospital ou se inscrever em uma universidade.

  • Se você tem familiares em situação migratória irregular, poderá enfrentar processos de deportação rápidos.

  • Se você é argentino, poderá notar mudanças no acesso e congestionamento de alguns serviços públicos, embora também possa abrir um debate sobre discriminação e direitos humanos.

Um país mais rigoroso, mais justo?

O Governo busca consolidar uma imagem de "país sério" que impõe regras claras. Mas o equilíbrio entre soberania e direitos humanos será chave na discussão que se abre.

Ainda não está claro quais serão os mecanismos de aplicação, quanto tempo levará cada processo ou como serão resolvidos os possíveis amparos ou conflitos judiciais que possam surgir. O certo é que este novo DNU, assim como o anterior, volta a colocar a migração no centro do debate nacional.

E nesse debate, não se joga apenas a economia ou a segurança, mas também a identidade de um país que sempre se viu como uma terra de oportunidades.


Deseja validar este artigo?

Ao validar, você está certificando que a informação publicada está correta, nos ajudando a combater a desinformação.

Validado por 0 usuários
Uriel Manzo Diaz

Uriel Manzo Diaz

Olá! Meu nome é Uriel Manzo Diaz, atualmente estou em processo de aprofundar meus conhecimentos em relações internacionais e ciências políticas, e planejo começar meus estudos nesses campos em 2026. Sou apaixonado por política, educação, cultura, livros e temas internacionais.

LinkedinInstagram

Visualizações: 11

Comentários

Podemos te ajudar?