08/02/2024 - politica-e-sociedade

“Tudo pela Argentina”: A entrada em ascensão da figura vice-presidente

Por Sofia Kasirer

“Tudo pela Argentina”: A entrada em ascensão da figura vice-presidente

Por Sofia Kasirer e Alejo Lasala

Com a apropriação de Victoria Villarruel, a vice-presidente argentina tem experimentado uma notável transformação, enfrentando controvérsias e conquistando a opinião pública com firmeza e proximidade. Tanto seu selo pessoal quanto sua estratégia no Senado, enquadram seu impronta no cenário político argentino.

Da Constituição à prática política

A Constituição da Nação Argentina estabelece um sistema republicano e representativo, onde o Poder Executivo é presidido por um presidente (Art. 87) e um vice-presidente (Art. 88) eleitos pelo voto popular. A história do nosso país mostra que trinta e dois cidadãos/as tiveram o privilégio de ocupar o cargo da Vice-Presidente da Nação Argentina desde 1853 até a atualidade.

Ao contrário de outros cargos relevantes, tais como a Presidência ou a Jefatura de Gabinete, a Vice-Presidente limita-se a conceder, mediante o Art. 57 da Constituição Nacional, a presidência do Senado e a possibilidade de voto em caso de empate, e mesmo não se explicita a exigência de sua substituição em caso de vacancia. Em suma, a sua principal função é exercer como ligação entre o poder executivo e o poder legislativo.

A três dias de assumir, Villarruel liderou sua primeira sessão no Senado e cumpriu seus primeiros objetivos apesar das negativas da oposição: conformar as novas autoridades o mais rapidamente possível, deslocando a União pela Pátria da partilha de poder, e acordar a conformação de sete comissões com os blocos não kirchneristas.

Compromisso inquebrantável: um selo pessoal na política actual

Desde sua destacada incursão na cena política durante a campanha para assumir o papel de Diputada Nacional em 2021, Victoria Villarruel, junto ao seu atual companheiro de fórmula, Javier Milei, deixou uma marca distintiva de seus ideais, estabelecendo temas de agenda que abriram caminho ao debate público como aquilo em torno do âmbito da defesa.

É graduada em Direito pela Universidade de Buenos Aires (UBA) e possui uma Tecnicatura em Segurança Urbana e Portuária da Universidade Tecnológica Nacional (UTN). Também preside o CELTYV, uma organização não governamental que defende as vítimas do terrorismo na Argentina É a Secretária-Geral do Partido Democrata Nacional.

A vice-presidente foi consultada em numerosas entrevistas sobre baixo que categoria ideológica se situaria, mas, sem ir mais longe, se define a si mesma como patriota. Este símbolo de autenticidade não fica apenas limitado às suas palavras, mas transcende até aos atos oficiais, onde deixa marcada sua assinatura acompanhada daquilo que vem sendo seu lema distintivo e frase de cabeceira: Tudo pela Argentina. Momentos prévios quando se especulava sobre o possível triunfo da Liberdade Avançada, explicava que assumir o papel vice-presidente implicaria uma “enverme responsabilidade” e um sentimento duplo a nível pessoal, dado pela situação que deixava herdada o anterior governo kirchnerista.

Quando Milei no passado 2023 a apresentou pela primeira vez como sua companheira de fórmula rumo ao Executivo no programa La Nación +, descreveu-a como “a mulher brilhante que o acompanha”, destacando suas qualidades de integridade e honestidade. Além disso, destacou sua importância para abordar as questões que queixavam o país por seu grande conhecimento em questões de segurança e defesa, havendo “pocas pessoas à sua altura”.

Objetivos de gestão: A estratégia para um Senado ágil

Uma das primeiras tarefas que assumiu o oficialismo foi buscar o parecer para o projeto de Lei de Boleta Única de Papel para a eleição dos cargos nacionais, iniciativa que conta com prévia média sanção da Câmara dos Deputados em 2022. Este projeto implicaria uma redução do financiamento atribuído aos partidos para a impressão de boletas, efectivizar o processo eleitoral e evitar o roubo e falsificação dessas.

Na Câmara de Senadores, o bloco da Liberdade Avançada conta apenas com 7 representantes. O fato de a vice-presidente ter designado as autoridades das comissões a poucos dias de assumir a nova fórmula, denotava a rapidez que começava a tomar o Senado. Isso foi conseguido junto à oposição não kirchnerista, juntando aos 39 senadores que relegaram ao kirchnerismo do poder e conseguindo conformar as comissões de face no início do período de sessões extraordinárias.

A etapa de diálogo teve seus inícios no final de novembro do ano passado, onde a vice-presidente manteve reuniões protocolares com senadores. União pela Pátria, o PRO e Unidade Federal; o objetivo principal era realizar uma tarefa ativa marcando a diferença do ano anterior que, segundo o Relatório de Gestão Legislativa do Senado, durante 2023 só foram realizadas oito sessões parlamentares.

Villarruel definiu o Senado como “a casa dos argentinos”, mas em sua primeira sessão como presidente do recinto, os setores representantes do kirchnerismo questionaram seu trabalho como ̈inconstitucional ̈: a vice-presidente respondeu que deixar o Senado sem trabalhar seria o único que contradizia a Constituição, manifestando-se que se buscaria o consenso para trabalhar e nos casos que não, seu despacho se encontraria aberto ao diálogo além das controvérsias que possam existir entre os setores.

Conquista do cenário político: o auge de Victoria Villarruel

Nas pesquisas de imagem pública, Villarruel foi protagonista de dois fenômenos transversais. Em novembro de 2023, transitando as instâncias finais de uma ardua e estendida campanha, sua própria imagem positiva não superava os 35 pontos percentuais. Hoje, a pouco mais de um mês de assumir no cargo, e após elucidar objetivos e prioridades de gestão, a imagem positiva alcançou os 50 pontos (Giacobbe) e, segundo diversas pesquisas, estaria no topo do pódio entre os políticos mais importantes, seguida de Javier Milei.

Acompanhado disso, aparece a coincidência de que a pior imagem, também em várias pesquisas, a possui sua antecessora no papel vice-presidência: Cristina Fernández de Kirchner, próxima a atingir os 60 pontos de imagem negativa, a pouco mais de um ano de sua condenação a seis anos de prisão por fraudes com a obra pública na província de Santa Cruz.

Estes números podem ser atribuídos a várias razões. Em primeiro lugar, Villarruel enfrentou e superou hábilmente intensos ataques visuais e embates retóricos provenientes do ex-oficialismo durante a campanha presidencial. Estes tentavam estabelecer uma narrativa que antagonizara sua figura com os valores democráticos, chegando mesmo a ser rotulada como uma "infiltrada da democracia" pelo ex-candidato Agustín Rossi, durante o debate vice-presidente. Por outro lado, os medos que poderia ter suscitado essa campanha foram anulados pela supressão do imaginário: a narrativa do que pode chegar a ser versus o que é.

Este primeiro tempo de Villarruel teve sucessos e acertos, tanto em gestão como em imagem, que foram acompanhados de uma busca de proximidade no individual e austeridade no político, contrapondo-se às escassas aparições públicas e quantiosas despesas da exvice-presidente. Como influenciará a transformação da vice-presidente argentina sob a liderança de Victoria Villarruel no futuro político do país?

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Sofia Kasirer

Sofia Kasirer

Sofia Kasirer é estudante da Licenciatura em Relações Internacionais na UCA especializada no Oriente Médio Contemporânea.

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