Estados Unidos e México: a nova etapa de confronto contra o narcotráfico
Em janeiro de 2025, durante seu discurso inaugural, o presidente Donald Trump deixou claro que seu segundo mandato colocaria o narcotráfico no centro da agenda bilateral com o México. Ali ele antecipou sua intenção de designar os cartéis mexicanos como organizações terroristas estrangeiras (FTOs), afirmando que o país vizinho estava “praticamente governado pelos cartéis”.
A estratégia se consolidou em setembro, quando o Executivo incluiu o México na lista presidencial de países de produção e trânsito de drogas ilícitas (Major’s List), junto com outras 22 nações. Um mês depois, Trump enviou ao Congresso um documento confidencial onde definiu que os Estados Unidos se encontram em um “conflito armado não internacional” com os cartéis de drogas, marco legal que habilita a Casa Branca a desplegar facultades militares especiais, como operações marítimas contra embarcações suspeitas no Caribe.
Dados e fundamentos da estratégia
O problema do fentanilo aparece como um dos principais justificativos dessa ofensiva. Em 2023, as autoridades americanas apreenderam cerca de 15 toneladas dessa substância (13,1 toneladas de pó e 79 milhões de comprimidos). Mais de 90 % das apreensões de fronteira provêm do corredor México-EUA, com mais de 27.000 libras interceptadas naquele ano nos pontos de passagem do sul, em comparação com cifras muito menores na fronteira com o Canadá.
Embora o governo mexicano sustente que os fluxos de fentanilo diminuíram em 40 % desde a posse de Trump, os dados americanos mostram que a magnitude do problema continua sendo considerável. O próprio presidente apontou que as medidas de controle fronteiriço e sanções financeiras que incluem congelamento de ativos e recompensas por líderes de cartéis buscam elevar o custo operacional das redes criminosas e restringir suas rotas de distribuição.
México em Crise
O México aparece como ator central nessa política, tanto pela magnitude dos fluxos quanto por seu papel estratégico na cadeia de narcotráfico em direção aos Estados Unidos. No entanto, as medidas tomadas por Washington não se limitaram ao território mexicano: operações militares recentes destruíram embarcações suspeitas em águas próximas à Venezuela, justificadas sob o mesmo marco legal.
Para Trump, os cartéis devem ser tratados como “combatentes ilegais” em uma guerra não declarada, o que permitiria uma margem mais ampla de ação em termos militares e judiciais. Altos funcionários sustentam que esse enfoque pretende suprir as limitações das estratégias anteriores, centradas apenas na cooperação policial.
Debates e questionamentos
A qualificação de “conflito armado” gerou controvérsia em âmbitos legais e diplomáticos. Especialistas em direito internacional alertam que aplicar categorias próprias da guerra a organizações criminosas pode abrir a porta a abusos e choques de soberania com o México. Legisladores opositores também questionaram se a Casa Branca avança com essa política sem aprovação explícita do Congresso.
A despeito dessas críticas, a Casa Branca sustenta que a urgência da crise justifica medidas extraordinárias. Os mercados financeiros e órgãos de segurança nos EUA têm respaldado o enfoque, apontando que um controle mais firme do narcotráfico reforça a segurança interna e envia uma mensagem clara aos grupos criminosos da região.
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