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Corrupção sem Precedentes: O Julgamento dos Cadernos e o Fim da Imunidade

Por Poder & Dinero

Corrupção sem Precedentes: O Julgamento dos Cadernos e o Fim da Imunidade

William Acosta, CEO da Equalizer Investigations para Poder & Dinero e FinGurú

Antecedentes do Caso

Em agosto de 2018, a filtragem dos cadernos manuscritos de Oscar Centeno, motorista do ex-funcionário Roberto Baratta, desencadeou a investigação judicial mais significativa da história recente da Argentina (Infobae, 2025, 24 de outubro). Durante mais de dez anos, Centeno registrou com escrupuloso detalhe os percursos, entregas de dinheiro e destinatários de supostos subornos destinados a funcionários kirchneristas.

Funcionamento do Sistema de Subornos

A partir dessas anotações, mais de 25 empresários e altos funcionários admitiram diante da justiça que o pagamento de propinas era condição básica para o acesso e a manutenção de contratos públicos, subsídios e concessões. Muitos deles ofereceram detalhes sobre datas, montantes, rotinas estabelecidas e as pressões exercidas para garantir a arrecadação (Identidad Correntina, 2025, 6 de novembro). Testemunhos e documentação bancária forneceram provas sobre transferências para contas no exterior, aquisição de propriedades e gastos para campanhas eleitorais disfarçados em complexas cadeias de laranjas e intermediários (La Nación, 2025, 12 de novembro).

Evidência Material e Testemunhos

Em paralelo, os relatórios periciais confirmaram que, apesar das quase 1.500 alterações contábeis identificadas nos cadernos de Centeno, a maioria do conteúdo coincidia em tempos, trajetos e detalhes com dados cruzados por câmeras de segurança e movimentos verificados da frota oficial (Perfil, 2025, 17 de agosto). Vários empresários, como Juan Carlos de Goycoechea e Héctor Zabaleta, reconheceram em sede judicial ter pago subornos e forneceram e-mails, atas de pagamento e listas internas onde estavam evidenciadas as práticas corruptas (El Cronista, 2025, 5 de novembro).

Principais Acusados e Montantes

O papel da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner dominou a maior parte das acusações. No julgamento, lhe é atribuído ter liderado uma associação ilícita para a arrecadação de fundos ilegais e a organização de uma rede de suborno para financiar campanhas e manter o controle sobre a obra pública estratégica (RTVE, 2025, 5 de novembro; Infobae, 2025, 5 de novembro). Ao seu lado, o ex-ministro Julio De Vido figura como chefe operacional do circuito de subornos, e Roberto Baratta, como arrecadador principal e articulador da logística (Noticias Perfil, 2025, 9 de novembro). Outros nomes-chave são José López, lembrado pelo achado de quase nove milhões de dólares em dinheiro em um convento, e Daniel Muñoz, ex-secretário presidencial, que teria sido intermediário em transferências e ocultação de fundos (Perfil, 2025, 17 de agosto).

Impacto e Final do Processo

Segundo a acusação fiscal, o montante total de subornos em jogo supera os 200 milhões de dólares, cifra ratificada pelos testemunhos e registros bancários fornecidos durante a instrução (La Nación, 2025, 12 de novembro). O expediente principal, intitulado como “Fernández, Cristina Elisabet e outros s/ associação ilícita”, com número 9608/2018, compreende mais de cem acusados, vários deles empresários líderes nos setores de obra pública, transportes e energia (InfoBae, 2025, 24 de outubro).

Finalmente, a estrutura delituosa desvelada no caso não só financiou campanhas oficiais e enriqueceu funcionários particulares, mas também impactou o clima de negócios em todo o país. Durante o julgamento, destacados empresários revelaram que se recusar a pagar implicava ser excluído de licitações, receber inspeções ou sanções arbitrárias, ou até mesmo o colapso total de atividades em setores regulamentados (El Cronista, 2025, 5 de novembro).

Conclusão

Em síntese, a Causa Cadernos, sob a órbita do Tribunal Oral Federal N° 7, expõe a dificuldade de separar interesses públicos e privados no aparelho estatal argentino, os riscos de impunidade sistêmica e a urgência de um controle judicial, político e cidadão mais efetivo. Seu desenvolvimento e desfecho marcarão, provavelmente, o futuro do combate à corrupção estrutural no país.

William L. Acosta é graduado pela PWU e pela Universidade de Alliance. É um ex-militar do Exército dos Estados Unidos e oficial de polícia aposentado da polícia de Nova York, assim como fundador e CEO da Equalizer Private Investigations & Security Services Inc., uma agência com licença em Nova York e Flórida, com projeção internacional.

Desde 1999, tem liderado investigações em casos de narcóticos, homicídios e pessoas desaparecidas, além de participar na defesa penal tanto a nível estadual como federal. Especialista em casos internacionais e multijurisdicionais, coordenou operações na América do Norte, Europa e América Latina.

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