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Uruguai, a Lavanderia do Cone Sul: Corrupção, Bancos, Políticos, Celebridades Empresariais, Narcotráfico e o Entrelaçamento Chinês

Por Poder & Dinero

Uruguai, a Lavanderia do Cone Sul: Corrupção, Bancos, Políticos, Celebridades Empresariais, Narcotráfico e o Entrelaçamento Chinês

William Acosta, CEO da Equalizer Investigations para FinGurú

Durante a última década, o Uruguai se reafirmou como destino de capitais e patrimônios de alto perfil, especialmente de origem argentina e asiática. O atrativo de seu marco normativo, baixa fiscalidade, sigilo bancário e reputação de estabilidade institucional fez do país uma praça privilegiada para empresários, celebridades e figuras políticas. Paralelamente, essas mesmas qualidades expuseram o território uruguaio à infiltração de redes de lavagem de dinheiro, estruturas de corrupção e o avanço sofisticado do crime organizado internacional, criando uma vulnerabilidade que coloca em risco a integridade da economia e do sistema judicial (Chequeado, 2025).

O aumento de residências fiscais de argentinos, a chegada de fundos de origem asiática e os fluxos ilegais do narcotráfico geraram pressões inéditas, revelando as debilidades do sistema e a necessidade de aprofundar a cooperação internacional e a inteligência financeira. Diante desse contexto, o Uruguai enfrenta um desafio ético e político sem precedentes: consolidar o desenvolvimento econômico e a imagem internacional, sem sacrificar a transparência nem a legalidade.

Marco Institucional e Estrutura de Corrupção

O Uruguai conta com normas avançadas e agências dedicadas, como a Senaclaft e a Lei 19.574, para a prevenção e combate à lavagem de ativos (Secretaria Nacional para a Luta contra a Lavagem de Ativos e o Financiamento do Terrorismo, 2025; IMPO, 2018). No entanto, persistem lacunas devido à cumplicidade de atores públicos e privados —funcionários aduaneiros, notários, banqueiros, empresários— e práticas negligentes na supervisão real de transferências suspeitas, compra de imóveis e constituição de sociedades de fachada (Sudestada, 2019).

O caso Boston River e a Sociedade Anônima Desportiva ilustra como fundos provenientes da PDVSA e triangulados através de empresas offshore entram no país e são utilizados em atividades esportivas e empresariais locais, com investigações e declarações judiciais em andamento (La Diaria, 2025).

Bancos, Setor Financeiro e Controles

O setor financeiro uruguaio, com bancos como o BROU e filiais internacionais, tem sido historicamente observado por deficiências na devida diligência de seus clientes e atividades de banca privada com contas offshore. As transferências de grandes somas e a canalização de fundos em investimentos imobiliários evidenciaram falhas em controles e relatórios, motivando sanções administrativas e recomendações por parte da Unidade de Informação e Análise Financeira do Banco Central (Unidade de Informação e Análise Financeira – BCU, 2025).

Processos Judiciais e Sentenças Chave

Destacam-se vários casos emblemáticos, como a Sentença Definitiva Nº 644/2024 da Suprema Corte, sobre lavagem e confiscos de bens graças ao rastreamento de operações, análises periciais e provas reunidas pela UIF e Polícia (Suprema Corte de Justiça, 2024). O Tribunal Contencioso Administrativo emitiu resoluções —como o processo Res. 0242020— que documentam sanções administrativas diante de deficiências de relatório de operações suspeitas (TCA, 2024).

Figuras Chave: Empresários, Política e Celebridades

Entre os implicados estão Andrés “Betingo” Sanguinetti (vinculado ao caso Odebrecht), os irmãos Gianfranco e Mariano Macri (presuntamente ligados a tramas offshore entre Argentina e Uruguai), o escritório Posadas, Posadas & Vecino (operador de sociedades de fachada para gestão patrimonial e de fundos), e dirigentes e celebridades argentinos residentes no Uruguai, todos sob vigilância ativa ou investigação em processos jornalísticos e oficiais (Sudestada, 2022; La Diaria, 2016; LR21, 2001).

O aumento de residências fiscais de celebridades argentinas, empresários, atletas e figuras midiáticas dinamizou o setor imobiliário e de serviços, assim como o clima reputacional, devido às dúvidas que esses fluxos patrimoniais geram quanto ao cumprimento dos padrões internacionais de transparência (Chequeado, 2025).

A Estrutura Chinesa e a Lavagem de Ativos

Nos últimos anos, operadores asiáticos e empresários chineses expandiram sua presença no Uruguai, constituindo empresas de fachada e utilizando circuitos financeiros globais para canalizar capitais de origem duvidosa (Infobae, 2025). A chegada de capitais chineses coincidiu com coberturas em setores imobiliários e agroindustriais, a constituição de sociedades espelho, transferências trianguladas e operações de importação-exportação, às vezes vinculadas a redes de narcotráfico como a de Sebastián Marset (Departamento de Estado, 2025).

Promotorias e unidades de análise financeira detectaram operações acima da média, beneficiários de nacionalidade chinesa e atividades ligadas a zonas francas e comércio atacadista, todos apontados como peças-chave na estratificação da lavagem através do sistema uruguaio (Unidade de Informação e Análise Financeira – BCU, 2025).

Narcotráfico Internacional: O Caso de Sebastián Marset e outros Chefes

O exemplo mais relevante é o de Sebastián Enrique Marset Cabrera, considerado pela DEA e pela INTERPOL como um dos chefes de maior influência na região (BBC, 2023). Marset e sua rede criminosa utilizaram o Uruguai para lavar milhões através de empresas fictícias, transferências para contas na China e Europa, e compra de bens de luxo, passando o dinheiro pelo Brasil, Paraguai e Bolívia (Infobae, 2025; El Observador, 2025; Wikipedia, 2025).

Os Estados Unidos ofereceram dois milhões de dólares por informações relevantes para sua captura, e acusações por lavagem foram formalizadas no sistema judiciário americano (Departamento de Estado, 2025).

Outras estruturas criminosas regionais —incluindo cartéis mexicanos e máfias europeias— utilizaram contas empresariais e bancos uruguaios para transferências globais, compras de imóveis e operações de ocultamento patrimonial de alto impacto (La Mañana, 2020; Caras y Caretas, 2023).

Conclusão

O Uruguai enfrenta uma encruzilhada como praça financeira e econômica: deve consolidar sua reputação internacional e desenvolvimento sem ceder à opacidade do capital ilícito nem à sofisticação do crime transnacional. Os nomes e estruturas expostas —nacionais, argentinas, asiáticas e multinacionais— confirmam a urgência de fortalecer o controle patrimonial, a inteligência financeira e a cooperação judicial, e de proteger a integridade institucional diante das pressões de organizações criminosas cada vez mais complexas e globalizadas. Apenas uma estratégia transversal e colaborativa permitirá ao Uruguai reafirmar sua liderança ética e jurídica, preservando a transparência e segurança para as próximas gerações.

Sobre o Autor:William L. Acosta é graduado pela PWU e pela Universidade de Alliance. É um oficial de polícia aposentado da polícia de Nova York, assim como fundador e CEO da Equalizer Private Investigations & Security Services Inc., uma agência licenciada em Nova York e na Flórida, com projeção internacional.

Desde 1999, tem liderado investigações em casos de narcóticos, homicídios e pessoas desaparecidas, além de participar da defesa penal tanto a nível estadual como federal.

Especialista em casos internacionais e multijurisdicionais, coordenou operações na América do Norte, Europa e América Latina

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