24/07/2025 - politica-e-sociedade

Carlos Menem Jr. foi assassinado?

Por Jerónimo Alonso

Carlos Menem Jr. foi assassinado?

Após tantos vai e vens judiciais, a Amazon Prime finalmente estreou "Síganme", a esperada biografia inspirada na primeira presidência de Carlos Saúl Menem. Sua primeira (e por enquanto única) temporada percorre a excentricidade que marcou sua vida pessoal, a audácia de seu estilo de governo e o profundo impacto que teve na Argentina da década de noventa, que mudou o país para sempre. Desde sua chegada ao poder com uma estética populista e carismática até sua consolidação como símbolo de uma década de reformas, privatizações, escândalos e o "pizza com champanhe", a série reconstrói os dias dourados e obscuros de um dos personagens mais complexos da política nacional. Quem foi Carlos Saúl Menem?

Assim como sua história, a série não esteve isenta de polêmicas: o neoliberalismo, o indulto aos militares, as festas VIP na Quinta de Olivos, a Ferrari vermelha, sua promessa de austeridade, "el salariazo" e viagens à estratosfera, as "relações carnais" com os EUA, o tráfico de armas, entre outros. Entre tantas polêmicas que revive para aqueles que viveram os anos turbulentos dos noventa e para os que não, Síganme volta a colocar em debate a trágica morte de Carlos Facundo Menem Yoma. Foi um acidente ou um atentado? Quem sustenta ambas as teorias? Algum dia se chegará à verdade?

A versão oficial

Assim como seu pai, Carlos Facundo Menem vivia a vida sem freios. Começou sua carreira como piloto de rally em 1987, ao volante de um Peugeot 504, que já havia utilizado em competições anteriores. Com o tempo foi trocando de veículo: passou a um Renault 18 e, no início da década de noventa, já como filho do Presidente, deu o salto para o plano internacional. Parecia não ter limite até que tudo mudou em 15 de março de 1995.

Aquela tarde, ele pilotava um helicóptero ao lado do piloto de TC Silvio Oltra. A intenção era ir de San Nicolás até o autódromo de Rosario. Segundo algumas versões, iriam participar ou assistir a um evento de automobilismo ou realizar uma exibição. A segurança seguia o veículo pela estrada até que teve que parar para "trocar um pneu" e a partir daí, tudo se tornou um desastre. Dizem os testemunhas que Carlitos Jr. estava pilotando a uma baixa altitude e a visibilidade estava comprometida pela neblina até que se enredou com cabos de alta tensão, o que provocou a perda de controle e a queda em um campo próximo a Ramallo. Silvio Oltra faleceu na hora e Menem, em um hospital algumas horas depois. Não foram encontrados indícios de falhas mecânicas anteriores nem sinais de sabotagem, e o caso foi encerrado como um acidente causado por erro de pilotagem. A Junta descartou oficialmente qualquer intervenção externa ou causa criminosa.

No entanto, essa versão oficial foi rapidamente contestada pela maioria da opinião pública. Desde o primeiro dia, Zulema Yoma, mãe de Carlitos e ex-esposa de Carlos Menem, se negou a aceitar essa explicação. Afirmou que a cena do incidente foi alterada para ocultar que seu filho havia sido assassinado e o corpo tinha marcas de balas. O Estado se uniu em torno do relato técnico. No entanto, os anos não acalmaram as dúvidas. Foi realmente um acidente aéreo ou a morte encoberta de alguém que sabia demais? As perguntas continuam abertas. E nessa ferida não cicatrizada, pulsa um dos silêncios mais incômodos da história política argentina.

Por que se acredita que foi um atentado?

Em 1989, Menem havia recebido financiamento da Síria, Irã e Líbia. Em troca, o riojano deveria entregar um míssil, um reator nuclear e urânio, a cada um dos países, respectivamente. No entanto, alguns anos depois de assumir, Menem se afastou desses países para estar ainda mais próximo dos EUA, já que estes últimos denunciaram múltiplos casos de corrupção. As promessas não cumpridas parecem ter sido cobradas com o atentado à Embaixada de Israel e, dois anos depois, à AMIA. Outros argumentam que houve um terceiro atentado: o ataque ao seu próprio filho foi um acerto de contas, onde distintos funcionários apontam a Síria como o principal responsável.

Além desses possíveis acordos políticos mafiosos não cumpridos, Zulema continua insistindo que seu filho tinha conhecimento direto dos movimentos que o Governo Nacional realizava para vender armas secretamente para a Croácia e o Equador, dois países que, naquele momento, estavam proibidos de receber armamento por estarem envolvidos em conflitos armados ou por compromissos internacionais assumidos. Carlitos teria manifestado sua intenção de "torná-los públicos", pois estava inquieto nos dias anteriores à sua morte e se sentia ameaçado. Embora não haja provas conclusivas de que o filho do presidente da época estivesse efetivamente investigando ou participando da denúncia desses fatos, o momento e a proximidade com os protagonistas-chave do escândalo reforçam a suspeita de uma possível intenção de "apagá-lo do mapa".

A investigação foi suspeitamente breve e eficaz, onde foi aceita sem questionamentos pelas autoridades e o expediente judicial foi fechado em tempo recorde. Nas fotografias do arquivo, há alguns detalhes que podem ser percebidos como marcas de balas, mas o helicóptero foi rapidamente entregue à seguradora e até chegou a desaparecer uma parte, fazendo com que não se peritasse a aeronave completa. Quanto à autópsia, também foi duvidosa e até Zulema Yoma chegou a duvidar que o corpo que recebeu o exame fosse de seu filho, mas três juízes determinaram que aquele era Carlos Menem Jr.

A pesar de tudo, não havia testemunhas ou peritos que estiveram na cena no momento? Sim, mas vários deles não puderam contar toda a sua versão à polícia (alguns nem mesmo uma parte), uma versão que poderia favorecer a teoria do atentado. Estima-se que entre onze e quatorze testemunhas faleceram em circunstâncias estranhas em menos de dois anos. Dentre elas, destacou-se o cuidador do campo onde ocorreu o acidente, que afirmou ter visto "malas, envelopes e dinheiro solto" após o acidente. Pouco tempo depois, ele morreu atropelado. Seu testemunho nunca foi ampliado. Outras mortes curiosas nesse período envolveram pessoas relacionadas indiretamente ao caso: um assistente do perito, o chefe da Divisão de Helicópteros, um médico que teria atendido Carlitos e algumas testemunhas e familiares. Nenhuma dessas mortes foi investigada em profundidade.

A teoria foi reforçada quando o próprio Carlos Saúl Menem afirmou em 2014 que seu filho foi vítima de um atentado realizado pelo Hezbollah, uma organização terrorista de origem libanesa. Ele disse ter conhecido os autores do ataque durante os anos noventa, mas nunca os revelou, pois era um segredo de Estado. Nunca disse os nomes e o ex-presidente faleceu em 14 de fevereiro de 2021.

O que resta para os demais?

Em trinta anos, nem a Justiça nem o Estado puderam (ou quiseram) responder com clareza o que realmente aconteceu naquele dia. Foi um acidente? Um atentado? Um crime silenciado por conveniência política?

Como resultado disso, surge uma dúvida incômoda: se nunca se soube a verdade sobre a morte do filho de um Presidente da Naçãow em exercício e com grande poder político, o que pode esperar qualquer cidadão sem sobrenome, sem seguranças, sem câmera de imprensa e sem um contato com a Casa Rosada? A morte de Carlitos Menem Jr. é mais que uma tragédia familiar: é uma demonstração brutal da fragilidade da Justiça do nosso país, de sua seletividade e de sua falta de recursos.

O caso nunca se fechou completamente porque o Estado nunca o abriu inteiramente. Não houve vontade política, nem pressão institucional, nem transparência. E nesse vazio ficaram a dor, a suspeita e uma democracia incapaz de oferecer certezas mínimas. Em um país onde morre o filho de um presidente e ninguém responde por isso, a mensagem é clara: se o poder não protege nem mesmo os seus, quem pode se sentir verdadeiramente protegido?

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Jerónimo Alonso

Jerónimo Alonso

Meu nome é Jerônimo e tenho 21 anos. Atualmente estou no terceiro ano do curso de Ciências da Comunicação na Universidade de Buenos Aires. Gosto de escrever sobre diversos temas para informar o público e contar histórias pouco conhecidas ou de outra perspectiva.

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