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O que se sabe hoje sobre o debate econômico sob uma perspectiva peronista

Por Mila Zurbriggen Schaller

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A reunião, simbólica e mediada, não passou despercebida: muitos interpretam que busca reativar a influência do peronismo na discussão econômica, mostrando que existe um bloco que pretende voltar a propor um projeto econômico próprio, distinto do que impulsiona o atual governo.

Em paralelo, os analistas econômicos consultados em fóruns mais formais alertaram sobre a fragilidade da recuperação recente. Em um encontro do setor privado, os participantes alertaram sobre a necessidade de evitar “anos de serrote” (um ano bom, outro ruim), e sugeriram que o prioritário é buscar um crescimento sustentado, estabilidade macroeconômica e políticas que favoreçam a produção nacional.

Entre os pontos de preocupação figuram: a incerteza das reservas internacionais, a necessidade de reativar o crédito em pesos e dólares, e um debate pendente sobre para onde direcionar a política econômica: continuar com desregulamentação e abertura, ou retomar um rumo mais intervencionista, com foco no produtivo e no social? Sede de economistas tradicionalmente identificados com a heterodoxia.

Por outro lado, aqueles que veem com desconfiança a atual administração — e por extensão sua orientação liberal/neoliberal — destacam que a recuperação que alguns indicadores mostram (como o recente crescimento do PIB) parte de bases muito baixas, após anos de crise. Nesse sentido, alertam que crescer “por rebote” não implica que tenha começado um desenvolvimento sustentado nem uma melhoria estrutural das condições sociais.


O que esses debates implicam para o peronismo e seus economistas

A reunião impulsionada por Cristina Kirchner com economistas não deve ser interpretada apenas como um gesto simbólico. Muitos a percebem como um sinal de que o peronismo está tentando recompor um projeto econômico próprio — uma alternativa estrutural — diante da crise que, segundo esses economistas, o modelo atual não resolve. Essa recomposição pode buscar articular apoio social, sindical e político sob uma ideia de “economia nacional” com planejamento, intervenção estatal estratégica e prioridade ao mercado interno.

O debate não está reduzido a “mais ajuste vs. mais gasto”. Há quem desse espaço reconheça que a Argentina precisa de ordem macroeconômica, mas também considere que o motor do crescimento deve voltar a se apoiar na produção, no emprego e no investimento real, não apenas em finanças, endividamento ou decisões de mercado.

Esse reordenamento do discurso econômico no peronismo — ou pelo menos em parte de seus economistas — pode se transformar em uma agenda concreta se conseguirem mobilizar respaldo político. Seu sucesso dependerá de se conseguirem traduzir a crítica ao modelo atual em propostas críveis, estruturadas e viáveis.


Por que esse debate é relevante agora

  • Porque, após uma crise prolongada, muitos setores sociais reivindicam um projeto com perspectiva de longo prazo — não apenas remendos temporários.

  • Porque a economia argentina continua mostrando desequilíbrios: inflação, instabilidade cambial, incerteza sobre dívida e reservas — o que exige alternativas mais integrais.

  • Porque o peronismo, com seu passado de intervenção estatal e políticas sociais, poderia se posicionar como uma força que propõe outra direção frente ao atual modelo liberal/neoliberal dominado por mercados e especulação.

  • Porque, em última instância, o que está em jogo não é apenas o debate técnico-econômico: é a pergunta por um projeto nacional, por um país para seu povo e não para especuladores.

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Mila Zurbriggen Schaller

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