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Será que o Presidente da Argentina será investigado pelo caso da criptomoeda? Uma análise estratégica

Por Poder & Dinero

Será que o Presidente da Argentina será investigado pelo caso da criptomoeda? Uma análise estratégica

Jesús Daniel Romero e William Acosta para Poder & Dinero e FinGurú

Contexto Judicial 

A situação judicial do presidente argentino Javier Milei se intensificou após as acusações relacionadas à criptomoeda $Libra. As acusações incluem crimes de fraude, tráfico de influências e conflitos de interesse, todos relacionados à promoção do token $Libra, que colapsou rapidamente, causando perdas significativas a milhares de investidores. Este escândalo não só coloca em risco a administração de Milei, mas também levanta sérias questões sobre a ética na política e a regulação do emergente mercado de criptomoedas.

Cargos Formais  

As acusações formais foram apresentadas pelo promotor federal Eduardo Taiano, que sinalizou possíveis crimes de abuso de autoridade, fraude e outros relacionados à promoção do token. Uma data chave foi 14 de janeiro, quando o presidente argentino Javier Milei publicou em sua conta no X, gerando um aumento dramático no valor do token, que atingiu quase $5 antes de despencar para valores próximos a zero.

Partes Involucradas  

Javier Milei, como presidente, é acusado de ter usado sua influência para promover $Libra, levando muitos investidores a perderem dinheiro. Hayden Mark Davis, criador de $Libra e representante da Kelsier Ventures, está implicado na promoção e desenvolvimento do token. Julián Peh, CEO da Kip Protocol, a empresa que desenvolveu a infraestrutura tecnológica por trás de $Libra, também é mencionado. Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy, promotores do evento Tech Forum onde se estabeleceu a conexão entre Milei, Davis e Peh, são outros atores chave. Sergio Morales, um assessor sobre ativos virtuais na Comissão Nacional de Valores, está vinculado às outras partes envolvidas.

Acusações e Queixas 

As acusações incluem crime organizado, fraude, tráfico de influências, suborno, descumprimento dos deveres de funcionário público e violações à Lei de Ética Pública. O esquema de $Libra é descrito como um "rug pull", onde poucas pessoas conhecedoras compraram o token antes de sua promoção em massa, beneficiando-se antes que seu valor colapsasse.

Modus Operandi 

O modus operandi no caso da criptomoeda $Libra pode ser descrito da seguinte maneira:

Promoção Massiva: Javier Milei, utilizando sua influência como presidente da Argentina, fez uma promoção em sua conta no X em 14 de janeiro. Sua mensagem gerou um aumento imediato no interesse e no valor do token, que passou de centavos para quase $5 em questão de minutos.

Rug Pull: Após a promoção, os primeiros detentores do token, que já conheciam o projeto, venderam suas posições antes que o valor colapsasse. Esse fenômeno, conhecido como "rug pull", implica que os desenvolvedores ou investidores iniciais retiram seus fundos, deixando os novos investidores com perdas significativas.

Falta de Regulação: A criptomoeda não estava registrada nem supervisionada pela Comissão Nacional de Valores (CNV) da Argentina, deixando os investidores sem a proteção necessária e gerando desconfiança no projeto.

Estrutura de Propriedade Concentrada: Menciona-se que $Libra nasceu com cinco carteiras virtuais controlando 85% dos tokens em circulação, sugerindo que a maioria dos tokens estava nas mãos de poucos, facilitando o colapso de seu valor.

Empresas Envolvidas  

Kip Protocol: Uma empresa de infraestrutura tecnológica fundada por Julián Peh, mencionada como a desenvolvedora do token $Libra. Kip Protocol foi responsável pela plataforma através da qual o token foi lançado.

Kelsier Ventures: Representada por Hayden Mark Davis, que é o criador de $Libra. A empresa está implicada na promoção e desenvolvimento do token.

vivalalibertadproject.com: O site relacionado ao projeto $Libra, que foi usado para a promoção do token.

Tech Forum: Um evento onde foram estabelecidas conexões entre Milei, Hayden Mark Davis e Julián Peh, sugerindo um nexo entre eles na promoção do token.

Comissão Nacional de Valores (CNV): Embora não seja uma empresa envolvida no desenvolvimento do token, sua falta de regulação sobre $Libra é um ponto crítico nas queixas, já que se questiona a legalidade da promoção e operação do token.

Ações Legais em Curso 

A situação levou a ações legais em curso, incluindo demandas nos Estados Unidos, onde o escritório de advocacia Burwick busca representar as partes afetadas em uma possível ação coletiva. Além disso, o escritório Moyano e Associados apresentou um relatório de operações criminosas ao FBI e ao Departamento de Justiça. A Unidade Especializada em Cibercrime (UFECI) está envolvida para preservar e recuperar evidências relacionadas ao caso, e foram solicitados relatórios de organismos públicos e privados.

Queixas Adicionais 

Várias queixas foram apresentadas na Argentina, incluindo uma do economista Claudio Lozano e membros do Observatório do Direito à Cidade, bem como de outros políticos como Agustín Rombolá e Victoria Donda. Foram feitas solicitações para a apreensão de fundos mencionados por Hayden Davis e a inclusão de Karina Milei como acusada com base em supostas conversas sobre pagamentos.

Reações e Estratégias  

No círculo de Milei, afirma-se que não há crimes que possam ser atribuídos a ele e que confiam que o caso não avançará. A juíza María Servini começou a revisar as queixas e convocar os denunciante para ratificarem suas acusações.

Estado Processual de Javier Milei 

Milei não está imputado. De acordo com o código processual penal argentino, quando um promotor recebe uma denúncia, basicamente tem duas opções: a primeira é rejeitá-la por considerar que os argumentos não justificam uma investigação judicial ou porque os fatos denunciados não constituem crimes tipificados no código penal argentino. A segunda alternativa é tomar a denúncia, analisar os fatos denunciados e estabelecer o que se denomina objeto processual. Ou seja, quais crimes especificamente serão investigados. Lembremos que nas denúncias penais são investigados fatos, e não pessoas. Portanto, a definição do objeto processual de maneira alguma transforma o denunciado em imputado. A imputação só pode ser feita uma vez que as provas solicitadas e recebidas pelo promotor transformem o denunciado em suspeito de ter participado na comissão de algum dos crimes mencionados no objeto processual. E deve ser realizada identificando claramente as pessoas envolvidas, com uma fundamentação legal precisa do porquê são imputadas. Até agora, não existe tal fundamentação no processo que está a cargo do promotor federal Eduardo Taiano. Portanto, o estado processual do Presidente Javier Milei neste momento é apenas denunciado.

 

Desinformação em Torno à Imputação de Milei 

Continua a operação de desinformação sobre a situação processual de Javier Milei no caso penal que foi denominado "Cryptogate". Juan Grabois publicou em sua conta no X sobre o caso: "Aquele que faz o que deve, paga, imputação para o criptochorro Milei pelos crimes de estafa, tráfico de influências e negociações incompatíveis com a função pública".

 

Já explicamos aqui que, uma vez recebida uma denúncia penal, o promotor deve tipificar os fatos a serem investigados de acordo com o que prevê o código e a técnica processual. Isso é exatamente o que fez Eduardo Taiano.

 

Muitas pessoas, não familiarizadas com essas questões, podem ser induzidas a pensar que a inclusão de uma pessoa em uma denúncia, Milei neste caso, a transforma diretamente em imputado ao se determinar o objeto processual, que é o que Taiano fez até agora. Falso. A imputação deve ser feita com nome e sobrenome e uma clara fundamentação. Nada disso existe no processo. Portanto, insistimos, o status legal de Milei é, até o momento, o de denunciado.

 

Além disso, outro dos mencionados (e que seguindo o raciocínio de quem deseja ver Milei imputado, também deveria estar) é o empresário Hayden Mark Davis, que manifestou sua intenção de ser querelante no caso, ou seja, terceiro prejudicado. Pode fazê-lo se, como afirmam aqueles que operam contra Milei, ele estiver imputado? Rotundamente NÃO.

 

Até o momento sua condição é idêntica à de Milei: denunciado. Sabendo que estão mentindo, operam para confundir a opinião pública, menosprezando seus leitores e seguidores para obter lucro político e pessoal. "Minta, minta, que algo ficará". Quem disse isso? Ainda os historiadores não concordam, embora a maioria atribua a frase ao chefe de propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels. A campanha de desinformação dos imputadores serial de Milei é uma clara aplicação prática desse princípio perverso.

Cronologia do "Cryptogate" 

14 de fevereiro de 2025 

Milei promove $LIBRA: O presidente Javier Milei recomenda a criptomoeda $LIBRA no X, afirmando que é projetada para financiar empresas argentinas. 

Pico e colapso: Em duas horas, $LIBRA atinge seu valor máximo antes de colapsar 89% em apenas quatro horas, afetando mais de 44.000 investidores.

15 de fevereiro de 2025 

Milei se desassocia: O presidente elimina sua publicação e afirma não ter conexão com $LIBRA, decidindo não continuar promovendo a criptomoeda. 

Desassociação da KIP Protocol: KIP Protocol se separa do projeto e culpa a Kelsier Ventures e Hayden Davis pelo lançamento. 

Davis confirma seu papel: Hayden Davis admite ser assessor de Milei e estar por trás do lançamento de $LIBRA.

16 de fevereiro de 2025 

Impeachment: Os deputados solicitam o julgamento político contra Milei por seu possível envolvimento em "defraudar" relacionado a $LIBRA. 

Queixas na Corte: São apresentadas várias queixas na Corte Federal. 

Vínculo com Novelli: Revela-se a estreita relação entre Milei e Mauricio Novelli, um trader vinculado ao caso.

17 de fevereiro de 2025 

Entrevista defensiva: Milei se defende em uma entrevista com Jonatan Viale, onde seu assessor Santiago Caputo intervém para mitigar problemas legais.

18 de fevereiro de 2025 

Revelações de subornos: CoinDesk publica chats onde Davis menciona que poderia "controlar" Milei e seu entorno através de subornos.

19 de fevereiro de 2025 

Ação civil nos EUA: Burwick Law inicia uma ação civil nos Estados Unidos em nome de mais de 200 clientes afetados por $LIBRA.

20 de fevereiro de 2025 

Bloqueio no Congresso: É bloqueada a criação de uma comissão investigadora no Senado sobre "Cryptogate", com uma mudança de postura por parte de seis senadores radicais. A rejeição foi por apenas um voto, e o mais sugestivo é que o senador que a emitiu previamente havia se manifestado a favor de investigar Milei na comissão de assuntos constitucionais do Congresso da Nação.

Contexto e Consequências 

O caso desencadeou um grande escândalo político, com queixas crescentes e um intenso debate no Congresso. A situação se complica com revelações sobre reuniões anteriores entre Milei e as partes responsáveis pelo projeto, o que leva a questionar a transparência e ética do presidente ao promover uma criptomoeda que resultou prejudicial para milhares de investidores.

 

Conclusão 

O caso de $Libra é caracterizado por uma promoção massiva que explorou a influência política de Javier Milei, combinada com uma estrutura de propriedade concentrada que facilitou o colapso do valor do token. As empresas envolvidas, como Kip Protocol e Kelsier Ventures, desempenham um papel crucial na investigação, que está em curso tanto na Argentina quanto nos Estados Unidos. A resolução deste caso pode estabelecer um importante precedente para a regulação de criptomoedas e a conduta ética na política argentina.

 

Créditos 

 

La Nación 

Clarín 

Página/12 

Infobae 

El Cronista 

Ámbito Financiero 

El Tribuno 

Télam 

CoinDesk 

Reuters

 

Sobre os Autores:

William L. Acosta: Graduado Magna Cum Laude pela PWU e Alliance University. Veterano do Exército dos EUA. É um ex-oficial de polícia de Nova Iorque e fundador e CEO da Equalizer Private Investigations & Security Services Inc., uma agência licenciada em Nova Iorque e na Flórida com alcance global. Desde 1999, tem dirigido investigações sobre narcóticos, homicídios e pessoas desaparecidas, participando também na defesa criminal estatal e federal. Especialista em casos internacionais e multijurisdicionais, coordenou operações na América do Norte, Europa e América Latina.

Jesús D. Romero: Graduado Magna Cum Laude pela Norfolk State University. É um ex-oficial do serviço de inteligência da Marinha dos Estados Unidos e de Operações de Inteligência do Exército

Artigo com 37 anos de serviço combinado. Trabalhou na indústria de defesa com a British Aerospace Systems e a Booz Allen Hamilton. Participou de missões na Bósnia, Iraque e Sudão. Comandou uma unidade da Agência de Inteligência de Defesa no Panamá e supervisionou operações no Caribe, América Central e América do Sul. É autor de bestsellers na Amazon e comentarista de notícias em vários meios: rádio, televisão, YouTube e imprensa.

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