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Para além da Banca: O Ecossistema Nubank

Por Juan Tarulla

Para além da Banca: O Ecossistema Nubank

Hoje quero falar sobre uma das empresas do meu portefólio: o Nubank, o neobanco que reescreveu as regras da banca na América Latina e que agora está de olhos postos no mundo. Em poucos minutos, contarei como uma simples ideia nascida da frustração se tornou um fenómeno financeiro que está a redefinir o que significa ser um banco no século XXI.

Um começo revolucionário: a frustração como motor

Imagine o seguinte: estamos em 2012, em São Paulo. David Velez, sócio da Sequoia Capital, está farto da burocracia bancária, das filas intermináveis e das taxas abusivas dos bancos tradicionais brasileiros. A gota d'água foi não conseguir abrir uma conta básica depois de horas de tentativas. Assim, dessa frustração pessoal, nasceu uma pergunta simples, mas poderosa: E se criássemos um banco sem agências, sem burocracia e sem tarifas?

Dessa ideia surgiu o Nubank em 2013 e, com ele, o icónico cartão de crédito roxo, o "roxinho". Não era apenas um cartão; era um símbolo de rebelião contra um sistema obsoleto e o início do banco digital centrado no cliente.

A fórmula do sucesso: cliente, dados e escala

A estratégia inicial do Nubank era simples: um cartão de crédito sem taxas, com condições transparentes e uma experiência móvel excecional.

Mas, por trás dessa simplicidade, havia um modelo sofisticado. Cada cliente satisfeito se tornou um evangelista, impulsionando um crescimento orgânico massivo. Em 2016, a empresa tinha mais de um milhão de clientes com um gasto mínimo em marketing. O seu Net Promoter Score (NPS), uma medida da satisfação do cliente, era superior a 85, algo inédito no sector financeiro.

Esse foco obsessivo no cliente não apenas gerou fidelidade, mas também permitiu que eles expandissem para além dos cartões de crédito, adicionando contas de poupança, contas correntes e adotando o popular sistema de pagamento instantâneo do Brasil, o Pix. No primeiro trimestre de 2025, o Nubank já tinha mais de 100 milhões de clientes só no Brasil, e cerca de 60% consideravam-no o seu banco principal.

Graças a este modelo, o Nubank alcançou métricas de eficiência que fazem com que os bancos tradicionais não tenham comparação: um custo médio mensal por cliente ativo de apenas 0,70 dólares e um rácio de eficiência de 24,7%, muito abaixo dos 50% dos seus concorrentes.

Expansão na América Latina: lições aprendidas

Com o sucesso no Brasil, a expansão para o México (2019) e Colômbia (2020) foi o próximo passo lógico. Estes mercados partilhavam desafios semelhantes: sectores bancários concentrados e uma população mal servida. No entanto, a expansão não foi um simples copiar e colar. O Nubank adaptou seus produtos às necessidades locais, mantendo sua abordagem digital, sem taxas e uma experiência excecional para o cliente.

Os resultados são impressionantes: 11 milhões de clientes no México e quase 3 milhões na Colômbia no primeiro trimestre de 2025. No México, a sua base de depósitos cresceu uns impressionantes 438% em termos anuais. Além disso, a recente aprovação da sua licença bancária no México, em abril de 2025, é um marco crucial, uma vez que lhe permitirá expandir ainda mais a sua oferta de produtos e consolidar a sua posição. Esta diversificação geográfica não só aumenta as suas receitas, como também reduz a sua dependência de um único mercado.

Além do setor bancário: o ecossistema do Nubank

O que realmente distingue o Nubank é a sua ambição de ir além dos serviços bancários tradicionais. O que o CEO David Velez chama de "Ato 2" de sua estratégia é a construção de um ecossistema financeiro abrangente. Eles lançaram iniciativas como NuCel (uma operadora móvel), NuTravel (uma plataforma de viagens), um NuMarketplace e NuPay (uma solução de pagamentos para comerciantes).

À primeira vista, estas iniciativas podem parecer desconexas, mas têm uma lógica estratégica. Ao oferecer serviços como telecomunicações ou viagens, o Nubank aumenta os pontos de contacto com o cliente, gera dados valiosos sobre os seus hábitos de consumo e diversifica os seus fluxos de receitas para além dos tradicionais juros e comissões bancárias. Isto cria um "fosso" competitivo cada vez mais profundo, tornando muito difícil para os outros actores igualarem a sua oferta.

Ambições globais: Ato 3

O "Ato 3" do Nubank é a visão mais ousada: a expansão global. Embora ainda seja cedo, a empresa já está a preparar o terreno. Estão a investir fortemente em centros de dados de IA de alta densidade e a desenvolver sistemas modulares que se possam adaptar a diversas regulamentações e culturas financeiras. A contratação de Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central do Brasil e uma figura respeitada internacionalmente, é um sinal claro da sua seriedade nesta área.

O desafio é enorme, pois o setor bancário é altamente regulamentado em nível nacional. No entanto, a abordagem metódica do Nubank, construindo uma base sólida antes de se lançar em novos mercados, é um sinal promissor. Não se trata de uma expansão oportunista, mas de um crescimento global sustentável.

O DNA do Nubank: Vantagens inquebráveis

Então, quais são as chaves do seu sucesso? O modelo de baixo custo permite-lhes oferecer taxas baixas e melhores tarifas. A vantagem dos dados e o investimento agressivo em IA permitem-lhes tomar melhores decisões de crédito e personalizar os serviços. E a sua cultura centrada no cliente garante que as decisões estratégicas dão sempre prioridade à relação a longo prazo.

Estas vantagens reforçam-se mutuamente: custos mais baixos atraem mais clientes, o que gera mais dados, o que melhora a gestão do risco e a rentabilidade, financiando a expansão do ecossistema. É um círculo virtuoso que se fortalece com a escala.

A estrada púrpura para o futuro

O que começou como uma frustração pessoal para David Velez transformou-se numa verdadeira revolução financeira. A "Estrada Púrpura" do Nubank não é apenas um slogan de marketing, mas uma filosofia estratégica distinta que se mostrou notavelmente eficaz. Com retornos sobre o capital próprio próximos dos 30% e um crescimento de receitas de 40% ano após ano, o Nubank está a provar que é possível ser rentável enquanto se constrói confiança e se serve milhões de pessoas anteriormente mal servidas.

O futuro do Nubank promete continuar empolgante. Vamos acompanhar a sua evolução no México, o desempenho das suas novas verticais e, claro, o progresso das suas ambições globais. Sem dúvida, sua jornada está apenas começando.

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