A redefinição da geopolítica adaptou-se à forma como os atores competem pela liderança global. Não se trata apenas da erosão do poder dos Estados por novos atores transnacionais como empresas ou movimentos, mas da forma como estes se relacionam entre si e os fatores que utilizam para se posicionarem sobre o resto. E neste último ponto é onde a tecnologia se torna chave.
A geopolítica definida por Ratzel como o estudo estratégico das capacidades e os comportamentos dos Estados na política internacional tem sofrido uma transformação desde a chegada de uma “relativa e institucionalizada paz” desde meados do século XX. Esta mudança afeta a abordagem e o objeto de estudo desta disciplina, uma vez que no período histórico anterior se centrava no estudo das características geográficas dos países, e como estas afetavam sua ação expansionista em relação aos seus concorrentes militares.
Com o advento da globalização, as barreiras geográficas e fronteiras territoriais tornaram-se quase irrelevantes no agir político dos Estados.. Além disso, graças à institucionalização global de normas e organismos partilhados por quase todos os países do planeta, Actualmente, a concorrência e o exercício da liderança centram-se em variáveis económicas e comerciais.
Esta nova realidade pode ser explicada pela geopolítica desde a nova abordagem económica, não através da expansão territorial, mas através da expansão dos mercados. Para isso, o estudo das principais potências desenvolvidas é crucial para conhecer e entender o desenvolvimento das relações internacionais em geral. A posição ideológica durante a “Era Trump” nos Estados Unidos não dissimulava a sua preocupação com a concorrência chinesa em questões de investigação e desenvolvimento ligadas à inteligência artificial. No entanto, a competição tecnológica não se limita a estes dois gigantes, pois o desborde de conhecimento e a globalização e inmediatez das descobertas fazem com que a etapa de “imitação” seja vista fácil e rapidamente superada por uma nova etapa de inovação, expandindo-se para o Sudeste Asiático e até mesmo para a América Latina. Além disso, as controvérsias sobre roubo da propriedade intelectual não encontram solução num sistema de patentes que só protege os direitos de inovação com cláusula territorial, devendo registrar individualmente as invenções em cada país. Mais cedo que tarde a imitação e superação se produz.
Outra característica da concorrência tecnológica é que este tipo de empresas assume uma importância tão relevante que se tornam fontes de poder e de referência onde os indivíduos depositam a sua confiança; mais uma vez, erosionando o Poder dos Estados Nacionais tradicionais e seus governos, aumentando a tensão entre o público e o privado. Como por exemplo, demonstra um estudo realizado pelo Edelman Trust Barometer (2021): “As empresas emergiram como as instituições mais confiáveis, substituindo o governo que teve uma queda significativa desde o início da pandemia de covid-19. As empresas são as únicas instituições consideradas tanto éticas quanto competentes, superando o governo por 48 pontos, enquanto quanto em ética se refere, se aproximam cada vez mais as ONGs”.
O desborde de conhecimento global leva a que a concorrência tecnológica se mude de uma esfera econômica-comercial para o setor educativo também. A necessidade de uma modernização e atualização constante das currículas educativas põe em causa as metodologias de ensino estabelecidas e pouco dinâmicas que não conseguem se adaptar aos desafios do século XXI. Os sistemas educativos mais avançados têm como pilar o chamado ‘STEM’ (Science, technology, engineering and maths): uma abordagem prática que aprofunda os conhecimentos de ciências, tecnologia, engenharia e matemática, necessários para desenvolver um setor chave: inteligência artificial. Aqueles que temem o avanço desta disciplina são principalmente aqueles que não têm a possibilidade e as ferramentas para converter suas aptidões para um mercado de trabalho cada vez mais acotado pela substituição de mão-de-obra humana por maquinaria, e pela especialização cada vez mais sofisticada das indústrias em geral, a chamada “Economia do Conhecimento”.
Assim como no paradigma da geopolítica territorial e comercial questiona-se seu caráter social e humanitário, deve-se interrogar-se também na ‘Era da competição tecnológica’: Por trás dos drones de caça, de uma máquina ou simplesmente dentro das empresas há pessoas. O caráter humano que complementa uma visão holística de como nos relacionamos, como competimos ou como trabalhamos, deve incluir uma análise qualitativa de caráter sensível que priorize as necessidades e as habilidades de cada pessoa por trás da tecnologia, ou que até mesmo é substituída por ela.
Recomenda-se não falar de guerras pela conotação negativa da palavra, mas, em última análise, a guerra do futuro centrar-se-á na educação. A liderança internacional não terá a sua base no expansionismo territorial, mas na inovação tecnológica. Não quer dizer que as guerras tradicionais já não se desenvolvem hoje e os acontecimentos dos últimos meses na Europa deixam-no claríssimo, mas a realidade e a estatística demonstram que são cada vez menos frequentes, mais curtas e menos prejudiciais. O que é certo é que, se queremos mais e melhores empregos, melhor qualidade de vida, e um bom desempenho económico acompanhado de desenvolvimento sustentável e de inovação, temos de criar um sistema educacional inclusivo e moderno que não tema à tecnologia, mas sim a desafíe.
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