19/05/2025 - tecnologia-e-inovacao

Dictyostelium discoideum, um organismo unicelular e multicelular

Por BIOclubs

Dictyostelium discoideum, um organismo unicelular e multicelular

A ameba de vida livre Dictyostelium discoideum é um organismo muito particular, onde uma única célula representa um único organismo, mas sob certas condições estas células agrupam-se e formam estruturas multicelulares que podem até mover-se como um único organismo!

Amebas

Agora, para falar sobre o D. discoideum, primeiro temos que entender o que é uma ameba. É um organismo muito pequeno e simples que pertence ao grupo dos protozoários (organismos unicelulares), mais concretamente ao grupo dos amebozoários. Ao contrário dos animais ou das plantas que têm muitos tipos de células a trabalhar em conjunto, uma ameba é apenas uma célula que pode fazer tudo o que precisa de fazer para sobreviver. Estes microrganismos movem-se projectando a sua membrana celular em estruturas chamadas pseudópodes, e fazem o mesmo para se alimentarem, onde "engolfam" o líquido circundante com estes psudópodes. Este mecanismo de alimentação é designado por macropinocitocismo.

Dictyostelium discoideum

No caso do D. discoideum, quando a ameba se encontra em condições favoráveis de nutrientes e humidade, alimenta-se por macropinocitose. As células mantêm-se separadas, dividindo-se, e de uma célula surgem duas filhas, cada uma como um organismo único.

Agora, quando as condições deixam de ser favoráveis, desencadeia-se um ciclo social em que as células se agrupam e geram estruturas multicelulares que terminam na formação de uma estrutura chamada corpo de frutificação, que contém esporos pesados que são como as sementes de uma árvore, cada um se dispersa e dá origem a uma ameba. Este ciclo invulgar é designado por fase social ou fase de desenvolvimento, onde são produzidas diferentes estruturas intermédias até se atingir o corpo de frutificação. Um desses estágios é o da lesma, que, como a palavra indica, é um estágio em que todas as amebas juntas formam uma pequena lesma que se desloca para regiões onde as condições ambientais são propícias à proliferação e depois segue para formar o corpo de frutificação.

Nessa fase social, as amebas desenvolvem um comportamento altruísta, com algumas células se sacrificando para que outras sobrevivam. As células que permanecem no pedúnculo do corpo de frutificação não se propagam, mas formam o suporte para o que se tornará pseudósporo.

Este comportamento do D. discoideum torna-o um organismo que poderia fazer parte dos elos que marcaram a transição entre a vida unicelular e a multicelular. Por outro lado, a grande semelhança da maquinaria molecular desta ameba com a do homem, juntamente com o facto de ser um organismo fácil de manipular e não patogénico, fazem dela um excelente modelo para o estudo de diferentes doenças.

Para o caso de não achar que já é suficientemente complexo, esta ameba também se pode reproduzir sexualmente (sim, como leu!). Sob certas condições de humidade e luz, as amebas sexualmente compatíveis fundem-se para formar um zigoto multinucleado gigante. Este zigoto é envolvido por uma parede celular espessa e torna-se numa estrutura conhecida como macrocisto. Dentro do macrocisto, ocorre meiose e múltiplas divisões mitóticas, gerando amebas haplóides geneticamente diversas que são libertadas quando as condições externas melhoram.

Autor: Nicolás Crivaro, Professor de Biotecnologia e Bioinformática na UADE.

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