05/01/2023 - Tecnologia e Inovação

Importação da narrativa no design de jogos

Por hernan brue

Importação da narrativa no design de jogos

O que faz com que um videogame seja bom?

Há alguns anos, nos 90, mais precisamente, costumava andar constantemente os 100 metros que separavam a minha casa da do meu primo para brincar com um dispositivo que me permitia viver as aventuras de um plomero de roupa vermelha com bigode.. . Não sei se o que mais me prendeva era o meu gosto pela tecnologia ou curiosidade de ver quais desafios teria que enfrentar este personagem para resgatar a princesa.

No entanto, nessa época, o sistema não permitia guardar o progresso e se por algum motivo tínhamos que deixar de jogar, teríamos que voltar a começar a história desde o início em outro momento. Talvez nesse mundo, moldado pelas jovens mentes de duas crianças, Mario nunca chegaria a se encontrar com a princesa e o malvado viverá eternamente com ela como prisioneira.

Anos mais tarde, tendo jogado muitos gêneros e estilos de jogos, tendo desenvolvido outros vários e, principalmente, depois de ter estudado uma Tecnicatura (e em caminho à licenciatura) em Design de videogames e Narrativa Interativa na Universidade Nacional de Rafaela, concedo-me a possibilidade de refletir sobre o processo de desenho de um videogame e que é o que lhe permite se desenvolver através de suas múltiplas etapas.

Posso partir de uma mecânica envolvente, divertida e formar uma história ao redor dela? Talvez sim, e é o que muitas vezes acontece, mas o que te motiva a avançar se sentirá forçado e se não se constrói uma consonância ludo narrativa pode chegar a gerar desconforto no jogador. Pessoalmente, acho que é muito melhor começar com uma razão. O que te ajuda a querer dar o primeiro passo? Vamos responder a estas perguntas a pouco.

O que são as mecânicas e a dinâmica num jogo?

Primeiro formemos uma base e definamos conceitos. Falamos de mecânicas de um jogo a toda ação que o jogador realiza para interagir com as regras do mesmo e que modifiquem seu estado, ou seja: saltar, disparar, correr, interagir com objetos particulares, etc. As mecânicas por si sós não dizem muito, por isso se define conjuntamente o conceito de dinâmica, em referência a todas as ações e interações derivadas das mecânicas, e então é ali quando podemos falar sobre se uma mecânica é divertida, funcional e coerente.

O que é a narrativa num videogame?

Por outro lado, falamos de narrativa como o conjunto de fatos e motivos que geram uma história e vinculam todos os elementos do jogo. A mesma não precisa ser explícita apenas (muitas vezes incorporada dentro do que se denomina Lore) mas pode levar adiante através dos mesmos objetos e processos com os quais o jogador enfrenta. Por exemplo, uma pedra talhada pode simplesmente ser um objeto mais no jogo, mas se lhe dá um contexto e se a associa com uma história, pode se tornar um elemento mais significativo e atrativo para o jogador.

Como se constrói uma boa narrativa em um jogo

Voltando ao exemplo apresentado no início, o jogo do plomero (para evitar que a grande N faça alguma reivindicação), pode-se enquadrar dentro do gênero “Plataformas” 2D de deslocamento lateral. Suas mecânicas habituais, pular e correr, determinam uma narrativa implícita: um conjunto de desafios, através de vários mundos, aos quais o jogador enfrentará para poder resgatar sua princesa. Se não tivesse uma grande recompensa no final do percurso, que sentido teria esquivar todos os tipos de alimanhas, saltar acima de vazios infinitos e evitar balas de canhão, enfrentando finalmente uma tartaruga-dragão que escupe fogo? Talvez sem nenhuma razão possa realizar os primeiros níveis algumas vezes, mas com um motivo você poderá realizá-los a todos, inclusive fortalecendo-se a superar desafios que resultam, de certa forma, mais complexos do que outros.

A importância da narrativa na criação de videogames

Em conclusão, a narrativa é um elemento fundamental no design de videogames. Desde os primeiros títulos de plataformas até os jogos mais sofisticados de hoje, a história e o mundo que se cria ao seu redor são fundamentais para captar a atenção do jogador e motivar a avançar.

No desenvolvimento de um novo jogo, é importante considerar que a experiência do jogo vai além de simplesmente controlar um personagem que se move entre dois pontos em um gênero determinado. Em vez disso, trata-se de um processo em que o jogador constrói um propósito e encontra um significado em tudo o que experimenta e observa através de um conjunto de regras e mecânicas. Isso pode motivar o jogador a avançar e descobrir os vários elementos que o jogo tem para oferecer, e permite-lhe conectar esses elementos de forma coerente.

Obviamente, cada gênero terá mais carga narrativa do que outros. Não é o mesmo o prataformero do que estamos falando que um jogo de aventuras. Também, outras vezes, a carga narrativa diminui a níveis quase invisíveis, pois a mecânica e o objetivo do jogo não propõem um ambiente adequado, ou seja, talvez em um hipercasual (jogos para dispositivos móveis de jogos extremamente curtos e centrados na monetização) a narrativa poderia ser considerada nula, mas que, mesmo nesses casos, ainda existe de alguma ou outra forma.

É importante ter um balanço adequado no trabalho e esforço que se dedica aos detalhes de um objeto do jogo, pois demasiado enfoque neles pode ser improdutivo e do ponto de vista técnico pouco efetivo. Ou seja, si pensamos do ponto de vista do desenvolvimento, seria pouco feliz e até, do ponto de vista técnico, improdutivo, que um objeto do jogo tenha demasiado trabalho (planeamento, modelagem, programação, etc.) em seus detalhes, mas que a mecânica, por uma má concepção dela no processo de desenho, não te permita deter nele para observá-lo e até, talvez, não dar a importância que tem para a narrativa.

Ou seja, que o plomero tenha cruzado mar e terra arriscando sua vida só para descobrir que não sabia o que fazia brigando com uma tartaruga antropomorfa que retenia a uma estranha.

Deseja validar este artigo?

Ao validar, você está certificando que a informação publicada está correta, nos ajudando a combater a desinformação.

Validado por 0 usuários
hernan brue

hernan brue

Olá, meu nome é Hernán Brue, tenho 36 anos e sou técnico universitário em Desenvolvimento de Jogos e Narrativa Interativa. Atualmente vivo em Rafaela, Santa Fe e me desempenho como docente de design de videogames na Universidade Nacional de Rafaela (UNRaf). Considero-me uma pessoa muito entusiasta, adaptável, e estou sempre procurando novos desafios e oportunidades para desenvolver-me profissionalmente.
Durante os meus anteriores anos de formação tive a oportunidade de experimentar com diferentes disciplinas, desde a química até a eletromecânica, o que me permitiu adquirir uma ampla base técnica e experiência no campo. Estou convencido de que esta formação me deu as ferramentas necessárias para realizar projectos importantes e trabalhar com êxito em diferentes áreas.

Visualizações: 3

Comentários